Dois dos mais prestigiados ministros de Estado do Brasil, Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) não têm sido aproveitados como deveriam pelo Governo. Senhor de suas ações, o presidente Jair Bolsonaro não se submete a um padrão preestabelecido: fala o quer, quando e onde quer. Não foge às perguntas por mais polêmicas que sejam, o que gera profusão diária de assuntos para exploração da mídia e dos adversários.
Mas quando a adrenalina baixa, a noite chega e o silêncio se instala na Esplanada, surgem lamentos das assessorias no momento de avaliar o dia. Especialmente equipes de ministros, cujos projetos estão em tramitação no Congresso Nacional, como o da Reforma da Previdência, de Guedes, e o anticrime, de Moro. Os ruídos têm tirado o sono de muita gente ao redor do presidente.
No Planalto, não há assessor direto com ascendência sobre Bolsonaro. Há quem defenda que Moro e Guedes sejam mais usados para se comunicarem com a mídia e a sociedade, expondo seus projetos, suas ações. Profissionais de extrema competência, a exposição de ambos poderia dar nova roupagem a um governo que tem escorregado seguidamente, talvez por falar demais e erradamente.
No Congresso, a base do governo não se entende e o Planalto tem pouco a oferecer em “articulação política”, tarefa monstruosa dada a um único ministro, Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, liderança pouco aceita entre senadores e deputados. Os demais cargos políticos são ocupados por generais pouco afetos à arte da negociação.
Moro e Guedes são, diante disso, o alívio de que tanto Bolsonaro precisa para ter mais tempo com a discussão de propostas do seu governo, para se sentar por mais tempo na cadeira de presidente e, sobretudo, tempo para respirar e dominar seus impulsos, o de ter sempre resposta a qualquer provocação.
O que talvez ninguém ainda tenha dito ao presidente é que as valiosas ferramentas que o ajudaram a eleger com folga de votos podem não ser as mesmas para governar. Pelo menos no mesmo grau de importância e eficácia.
Neste momento, Bolsonaro precisa ser menos capitão – que discute com a arbitragem e troca sopapos e empurrões com o rival, por exemplo – e mais um camisa 10 clássico – que distribua as jogadas, deixando seus companheiros livres para marcar gols. O jogo não tem fluído, mas o Brasil tem pressa para ver a bola rolando.
Nossas boas-vindas a todos!
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