Mato Grosso do Sul foi surpreendido com a informação de que três dos oito deputados federais do Estado assinaram o pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol, pilares da Operação Lava Jato.
Os “fora de órbita” são Fábio Trad (PSD), Vander Loubet (PT) e Dagoberto Nogueira (PDT), cujo partido é braço de apoio ao PT em Mato Grosso do Sul. Foram avalistas de um processo político contra autoridades que investigam o maior esquema de corrupção do mundo, o Petrolão.
Figuram numa lista em que aparecem parlamentares do PT, PSOL, PDT, PSB, Rede e PCdoB, que satanizam a Lava Jato. Os três parecem não ter ideia do que isso significa para o sul-mato-grossense, povo que tem lutado para que o Estado e o país varram todas as formas de corrupção no plano federal, estadual ou municipal.
É normal discordar de decisões e comportamentos de autoridades de investigação. Não questionamos. Mas daí pedir CPI para apurar a troca de mensagens entre juiz e procurador é bem diferente. É retaliação. CPI destina-se a investigar fato de relevante interesse para a vida pública.
Os partidos de Vander e Dagoberto são oposição à Lava Jato. Trabalham para que as leis de combate à criminalidade sejam afrouxadas. Individualmente, ambos também têm muito a explicar sobre comportamento moral, no exercício de mandatos populares.
Vander responde a vários processos por envolvimento em desvio de recursos da própria Petrobras. Contrassenso. Investigado pedindo investigação do investigador. Dagoberto Nogueira também não é “trigo limpo”. O próprio MS em Brasília divulgou na semana passada reportagem em que o deputado paga R$ 434 mil a advogado do PDT no Estado com dinheiro público. As notas foram emitidas, em sua maioria, com numeração sequencial.
A assinatura de Fábio Trad, contudo, tem merecido repulsa do povo. A população foi às ruas nos últimos anos em defesa da Lava Jato, dos atos do então juiz federal Sérgio Moro e do procurador Dallagnol. Mato Grosso do Sul tem lado nessa história: é Lava Jato, é Moro, é Dallagnol.
Fábio tem razões pessoais para se colocar contra Sérgio Moro. Em casa, ele tem um irmão atolado em denúncias de corrupção. O senador Nelsinho Trad (PSD), o irmão mais velho, deixou a Prefeitura de Campo Grande e levou consigo pilhas de processos por má utilização dos recursos recebidos e arrecadados pelo município.
O outro irmão, o do meio, Marquinhos Trad, também do PSD, é o atual prefeito de Campo Grande e já começa a acumular investigações por contratos malfeitos e obscuros. Quer se reeleger e repetir o irmão mais velho, ficando oito anos na administração da capital.
Outro fator que faz do advogado Fábio Trad inimigo de Moro e Dallagnol é a defesa dos seus interesses profissionais. A Ordem dos Advogados do Brasil tem lado nessa disputa, a dos investigados. Advogados trabalham para os acusados e contra as autoridades. De um lado, acusados de corrupção e advogados; do outro, autoridades na defesa do Estado e da sociedade.
Seja qual for o motivo, fato é que os três deputados que assinaram o pedido de CPI não têm “estatura moral” para se oporem ao ex-juiz Sérgio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol, contra os quais não pesa qualquer fato grave que possa colocar em dúvida o trabalho feito à frente da Operação Lava Jato.
Sobre isso, numa imagem figurada, tanto Moro quanto Dallagnol estão no alto de uma montanha olhando para baixo, onde estão todos os que assinaram o pedido de investigação contra eles, entre os quais Fábio Trad, Vander Loubet e Dagoberto, anões no aspecto moral.