De Brasília
A venda da Fazenda São Gabriel, em Corumbá (MS), de propriedade dos quatro filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Mato Grosso do Sul virou alvo da Operação Lava Jato no Paraná e São Paulo.
Matéria divulgada segunda-feira (9) pelo MS em Brasília revela que o Tribunal de Contas da União (TCU), acionado pelo Ministério Público Federal (MPF) em Corumbá, investiga a operação de compra da Fazenda São Gabriel, com 4.598 hectares, onde hoje estão assentadas 274 famílias (leia aqui).
De acordo com o MPF, o negócio teria sido superfaturado em mais de R$ 7 milhões. Prevaleceu laudo do Incra no Estado, que avaliou o imóvel em R$ 20.920.783,58, enquanto o parecer encomendado pelo Ministério Público fixou o valor em R$ 13.355.146,81.
A amizade de José Carlos Bumlai com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também gerou suspeita sobre a operação. O MS em Brasília também apurou que, diante disso, as investigações estão sendo realizadas em conjunto com a Operação Lava Jato em São Paulo e Paraná.
Bumlai e Lula se conheceram na campanha presidencial de 2002, quando o petista veio ao Estado gravar cenas sobre as atividades do campo em uma das fazendas do pecuarista.
Parceria criminosa
Os negócios da dupla ganhou evidência com a Operação Lava Jato, quando vários crimes foram encontrados com as digitais de ambos, como no famoso filme de Hollywood “Butch Cassidy and Sundance Kid”, com Paul Newman e Robert Redford. Lula e Bumlai foram condenados em diversos processos e ainda respondem a dezenas de outros.
Outra movimentação que causou estranheza aos órgãos de investigação foram as transferências feitas pelos filhos Bumlai para a conta do pai, no valor de R$ 4.067.400,00, assim que eles receberam o pagamento das benfeitorias, de R$ 4.309.352,30, em 01/11/2005. Os órgãos de controle querem saber o destino desse dinheiro a partir de Bumlai.
Em 2005, Bumlai já tinha relação próxima do presidente, com acesso livre ao Palácio do Planalto, onde Lula despachava, e a outros ministérios. A Lava Jato quer saber se a compra da área teve a participação do ex-presidente. O laudo que definiu o preço da fazenda foi feito pelo próprio Incra.
Na semana passada, o TCU emitiu vários comunicados sobre o andamento das investigações sobre a negociação da fazenda dos Bumlai para a União. Um deles alerta os quatro filhos vendedores para que não “dilapidem nem ocultem patrimônio”.
Em outro, sugere à unidade do tribunal em Mato Grosso do Sul que avalie a possibilidade de decretar a indisponibilidade de bens dos quatro filhos de José Carlos Bumlai até que o tribunal decida se a operação causou prejuízo aos cofres da União.