Em tempos severos, em que governantes do mundo todo fazem malabarismos orçamentários para não faltar dinheiro ao combate do Coronavírus (Covid-19), qualquer centavo gasto sem critério pode prejudicar o trabalho das autoridades de saúde dos países mais afetados pela doença, como o Brasil.
Levantamento feito pelo MS em Brasília nas despesas realizadas pela bancada federal de Mato Grosso do Sul em Brasília, entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2020, mostra que os oito deputados federais e os três senadores têm utilizado muito mal o dinheiro dos cidadãos brasileiros.
Por três dias, jornalista, cientista político e especialista em finanças analisaram centenas de documentos apresentados pelos parlamentares para comprovar despesas feitas com verba da Cota para Exercício da Atividade Parlamentar no Senado e na Câmara.
Chegaram à conclusão de que pelo menos R$ 1,6 milhão teve destino suspeito ou estranho, beneficiando uma e outra empresa, com notas fiscais sequenciais, emitidas para comprovar a prestação de serviços de consultoria e divulgação da atividade.
Dos 11 parlamentares sul-mato-grossenses, apenas a senadora Simone Tebet (MDB) não apresentou, segundo levantamento do MS em Brasília, indício de ter feito pagamento desnecessário ou estranho com a verba indenizatória do Senado.
Os esbanjadores
O campeão em desperdício de dinheiro público é o senador Nelsinho Trad (PSD), coincidentemente o único parlamentar federal de Mato Grosso do Sul com teste positivo do Coronavírus.
Entre fevereiro de 2019, quando tomou posse, e fevereiro deste ano, o senador gastou a espetacular quantia de R$ 318.000,00 com uma única empresa, a Home Mix Produção e Assessoria em Radiodifusão, que fez sua campanha para o Senado em 2018.
Desse montante, R$ 258.000,00 foram utilizados em 2019 e R$ 60.000,00 em janeiro e fevereiro de 2020. De acordo com a descrição dos serviços, a Home Mix presta “assessoria e marketing digital”. Nelsinho, contudo, é bem servido de jornalistas. Ao todo, tem cinco profissionais da área nomeados em seu gabinete.
O segundo com mais gastos estranhos e suspeitos é o deputado Loester Trutis (PSL). Eleito em 2018 com discurso da “nova política”, é um dos parlamentares que mais adotam práticas da “velha política”. Em várias reportagens do MS em Brasília, Trutis foi desmentido sobre supostas economias de recursos, noticiadas em suas redes sociais.
O peselista gastou R$ 282.765,00 em consultorias e trabalhos técnicos entre fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020. O dinheiro foi pago a um mesmo escritório de advocacia de Campo Grande, o Agneli & Andrade Advogados. Segundo Trutis, a empresa faz análise de projetos e medidas que tramitam na Câmara dos Deputados.
No entanto, cada deputado dispõe de cota de R$ 111 mil por mês para contratação de assessores parlamentares, além de receber auxílio da consultoria legislativa da Casa e dos técnicos da liderança do seu partido, o PSL.
Vander, Dagoberto, Beto e Bia
O terceiro com maior uso de recursos públicos sem critério é o deputado Vander Loubet (PT). Em 13 meses, o petista utilizou R$ 229.800,00 para pagar salário a seu assessor de imprensa, Eder Florêncio Yanaguita. Assim como Trutis, Vander tem R$ 111 mil por mês para contratar até 25 assessores.
Em seguida, aparecem os deputados Bia Cavassa (PSDB), Beto Pereira (PSDB) e Dagoberto Nogueira (PDT), com uso de dinheiro público de forma desproporcional e irresponsável, entre fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020.
Enquanto Cavassa depositou R$ 145.600,00 na conta da Avantiz Comunicação Integrada e Serviços, Beto Pereira distribuiu R$ 145.570,00 às empresas Cultura MS Comunicações e CMS Comunicação e Eventos, ambas utilizando o mesmo CNPJ, segundo apuração do MS em Brasília, cuja prática é irregular.
Já o caso de Dagoberto vem desde abril de 2015. Nesse período, o pedetista transferiu R$ 434 mil ao advogado do PDT no Estado, Flávio Pereira Rômulo. De janeiro do ano passado a fevereiro deste ano, os repasses de Dagoberto ao advogado atingiram R$ 137 mil.
Teoria e prática
A senadora Soraya Thronicke (PSL), eleita na onda da “nova política” do então candidato a presidente Jair Bolsonaro, não aplica essa postura na prática. Desde fevereiro do ano passado, a peselista utilizou R$ 112.000,00 sem necessidade, pagando consultorias e divulgação da atividade parlamentar.
Foram R$ 23.500,00 a uma única empresa de comunicação, enquanto outros R$ 82.450,00 foram divididos entre as empresas A & Z Global Gestão Empresarial e Pilote – Gestão da Informática, num período de 12 meses, na rubrica “consultoria e trabalhos técnicos”.
Embora não tenham sido encontrados pagamentos de alto valor a uma única empresa, por exemplo, os deputados Fábio Trad (PSD) e Rose Modesto (PSDB) tiveram gastos exagerados com “divulgação da atividade parlamentar”.
Trad gastou R$ 153.630,00 com vários veículos de comunicação. O mesmo ocorreu com Modesto, cujas despesas somaram R$ 67.100,00, menos da metade do montante torrado por seu colega.
Luiz Ovando (PSL) destoou de seus dois colegas de partido, a senadora Soraya e o deputado Loester Trutis, ao gastar apenas R$ 14.200 com divulgação e consultoria. Ovando fez pagamentos mensais de R$ 1.200 a uma única empresa, a Associação de Comunicação Social Cristã.