De Campo Grande
A pandemia do novo coronavírus causou tímida mudança no comportamento dos brasileiros. Mas não chegou a mexer nem a diminuir o ímpeto dos parlamentares quanto a gastos de recursos públicos — alguns chegam a usar até os centavos a eles destinados pelas cotas para o exercício da atividade parlamentar.
O MS em Brasília fez levantamento das despesas dos 24 deputados estaduais e dos 11 representantes da bancada federal – três senadores e oito deputados federais — e as comparou para conhecer quem gastou mais, em média, nos três meses de pandemia (março, abril e maio). Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia têm cotas com valores semelhantes, em torno de R$ 35 mil mensais.
Nesse período, em que o contágio da covid-19 alastrou-se por boa parte do país, a Assembleia Legislativa do Estado desembolsou R$ 1,71 milhão para pagar despesas dos deputados, como divulgação parlamentar, consultorias, combustível, aluguel de veículos, além de gastos com manutenção de escritórios.
Já o Senado e a Câmara fizeram pagamentos de R$ 615 mil aos senadores e deputados federais, pouco mais de 40% do valor gasto pela Assembleia. Enquanto a média de gasto dos estaduais atingiu R$ 71.508, a dos federais somou R$ 55.935, 27,8% inferior aos colegas da Assembleia.
Alguns parlamentares ainda não apresentaram os comprovantes dos pagamentos feitos em maio, ou só parte deles, o que pode aumentar tanto o valor gasto individualmente quanto ao total desembolsado pelas Casas.
Veja: Despesas dos 35 parlamentares de MS na pandemia
Gastança sem freio
Entre os 35 parlamentares – três senadores, oito deputados federais e 24 deputados estaduais – os campeões em gastos são parlamentares com vários anos de mandatos: o senador Nelsinho Trad, com R$ 106.964,00 torrados durante a pandemia, seguido do veteraníssimo Londres Machado, deputado estadual, com R$ 106.749,00. Ambos do PSD, presidente e vice-presidente, respectivamente.
O terceiro com mais uso de verba pública em março, abril e maio foi o estadual Eduardo Rocha, marido da senadora Simone Tebet, ambos do MDB, com R$ 103.000,00 — montante utilizado para pagamento de consultoria. Em quarto, outro emedebista com mandato estadual, Márcio Fernandes, com despesas de R$ 99.226,20 durante a pandemia.
O deputado federal Dagoberto Nogueira (PDT), que desde 2015 faz pagamento mensal de R$ 10 mil a um advogado de Campo Grande por consultoria (ver aqui), é o quinto entre os 35 parlamentares estaduais e federais. O pedetista gastou R$ 97.811,92 na pandemia. Tem a companhia do estadual Antônio Vaz (Republicanos) com R$ 94.398,76 nos três meses analisados pelo MS em Brasília.
O sétimo é o líder do governo na Assembleia Legislativa, Gerson Claro, com despesas de R$ 91.343,21, seguido de Neno Razuk (PTB), com R$ 88.934,44, e Pedro Kemp (PT), R$ 83.970,65. O deputado estadual Jamilson Name (sem partido) fecha a lista das dez maiores despesas durante a pandemia ao apresentar notas de R$ 83.529,77.
“Novos gastadores”
Eleitos com o discurso da “nova política”, a senadora Soraya Thronicke e o deputado federal Loester Trutis, ambos do PSL, estão entre os que gastaram quantias significativas durante os três meses de enfrentamento do novo coronavírus. Trutis torrou R$ 81.476 e Thronicke, R$ 71.460, no período de três meses.
O deputado peselista dispõe, assim como todos os outros parlamentares, de apoio jurídico e legislativo de dezenas de assessores, mas contratou escritório de advocacia de Campo Grande por mais de R$ 30 mil mensais. Em um ano, Trutis já torrou mais de R$ 300 mil só com esse serviço, oferecido gratuitamente pela Câmara.
Trutis, o “novo”, repete o jeito de agir da “velha política”, representada por tantos outros parlamentares, como o senador Nelsinho Trad, os deputados federais Dagoberto Nogueira e Vander Loubet (PT), além do deputado estadual Eduardo Rocha, todos fazendo gastos exorbitantes em consultoria.
Gastos controlados
Entre 35 parlamentares, há uns poucos que têm certo cuidado ao gastar dinheiro público, oriundo do pagamento de tributos pela população. O deputado Fábio Trad (PSD), que vinha gastando bem a verba antes da pandemia, reduziu o ritmo nos últimos três meses. O irmão mais novo dos Trad gastou somente R$ 7.700, quase R$ 100 mil a menos do que o irmão Nelsinho Trad.
Outro que economizou nesse período foi o deputado estadual Felipe Orro (PSDB), R$ 10.656. Em março, o tucano não gastou ou ainda não apresentou as notas. A senadora Simone Tebet (MDB), ao contrário do marido, Eduardo Rocha, teve despesas de apenas R$ 23.100 em março, abril e maio. Depois vem o deputado estadual Marçal Filho (PSDB), cujos gastos somaram R$ 29.724.