De Brasília
Quem acompanhou o voleibol feminino do Brasil nos anos 90, período em que Cuba era quase imbatível nas quadras, vai se lembrar de várias meninas, de talento e beleza impressionantes. Anos mais tarde, as brasileiras, enfim, conseguiriam derrubar a hegemonia das cubanas e passariam a comandar a modalidade no mundo.
Além de Fernanda Venturini, Virna e Márcia Fu, por exemplo, o time naquela década teve muita Ana. Foram várias formações com Ana Flávia, Ana Richa, Ana Moser e Ida (Ana Margarida). Outra Ana, a Paula, ditava o ritmo do time. Central (ou meio-de-rede) que não desperdiçava bola bem levantada ou que sobrava “daquele jeito”, à feição.
Descia a mão para — como descrevia brilhantemente em suas narrações épicas o inesquecível Marco Antônio de Mattos, morto em fevereiro de 2004 — “afundar” a bola na quadra adversária, ou crescer para cima do ataque rival, em bloqueios espetaculares.
Quantas bolas Ana Paula Henkel, ou “Ana Paula do Vôlei”, não cravou do lado adversário! Ela deixou as quadras e foi para areia, onde teve o mesmo sucesso. Mas o ponto mais importante na vida dessa bela mulher, de 1,83 metro de altura, num corpo esculpido em carrara, diria o poeta, tem sido marcado todos os dias nas redes sociais.
Mesmo morando nos Estados Unidos, a ex-atleta vive o dia a dia político do Brasil como poucos. Atenta, perspicaz e inteligente, Ana Paula usa boa medida de pimenta em seus comentários, sem poupar ninguém. Defende abertamente a proibição de atletas transgêneros no vôlei feminino.
Destoa, por exemplo, de outra ex-jogadora de vôlei que atuava na mesma posição: Leila Barros. Brasiliense de nascimento, Leila entrou para a política ao ser nomeada secretária de Esporte e Lazer na administração do governador Rodrigo Rollemberg, do Distrito Federal.
Em 2018, foi eleita senadora, mas não brilha como a colega Ana Paula, mesmo tendo pomposo cargo na chamada Câmara Alta Brasileira. Expressa-se com dificuldade e parece perdida no turbilhão de assuntos que envolve o Senado.
Sem cargo público, Ana Paula tem quase 800 mil seguidores (Twitter e Instagram), uma das personalidades mais influentes da internet brasileira. Suas postagens recebem milhares de curtidas, coisa entre 60 mil e 80 mil.
Foi o caso de dois tuítes, coincidentemente, contra o Supremo Tribunal Federal. O primeiro, em 27 de maio de 2020, em que a ex-atleta faz duras críticas ao presidente do STF, Dias Toffoli, e ao ministro Alexandre de Moraes, que conduzem o inquérito sobre “fake news”. O outro, de ontem, 17 de junho, em que Ana Paula ironiza as atuais ações do STF em contraponto à atuação da Corte durante os processos contra os investigados na Operação Lava Jato.
O processo tem levado o STF a determinar invasão de domicílios e a prisão de suspeitos de “atentarem” contra a Corte. Além de questionar ações e medidas dos Poderes da República, Ana Paula não deixa sem resposta aquilo que considera mal colocado, como se contrapor a notícias divulgadas por jornalistas nas redes sociais.
Assim como nas quadras, se algum adversário errar o levantamento no meio da rede, ela não perdoa e “afunda”. Esteja quem estiver na frente. Se não atacar direito, o contra-ataque vem pesado.
Antes era pela potente mão direita, aberta, espalmada; agora pelos dedos que teclam milhares de letras, todos os dias, para formar sua visão e convicção sobre o Brasil, seu país natal, e os Estados Unidos, onde vive e trabalha. Assim como antes, nas quadras, o chumbo nas redes sociais vem grosso.
Ana Paula do Vôlei! Sem mais.