Por Antonio Carlos Teixeira (*)
Alçado ao cargo de presidente após golpe contra José Carlos Peres, afastado pelo Conselho Deliberativo com base em parecer fajuto da Comissão de Inquérito e Sindicância (CIS), sem prova de crime, culposo ou doloso, Orlando Rollo quer vender o segundo melhor jogador do elenco e um dos melhores do Brasileiro de 2019 por US$ 7 milhões, ou R$ 39 milhões.
O valor oferecido por Soteldo, em três parcelas, é tão insignificante que, com esse dinheiro, o clube não conseguiria contratar jogador do nível de Keno, do Atlético-MG, ou mesmo de Róger Guedes ou Dudu, emprestado ao futebol árabe, ambos ex-Palmeiras. Para quem não sabe, o clube paulista recebeu 7 milhões de euros pelo empréstimo do seu atacante. Eu disse “empréstimo” para que não reste dúvida.
A venda de Soteldo tem que ser aprovada pelo Conselho Deliberativo, colegiado que afastou presidente eleito democraticamente, repita-se, sem qualquer crime, cuja alteração no estatuto foi feita sob encomenda para puni-lo, já que os sócios, chamados a aprovar seu impeachment, recusaram por 70% a 30%.
Os conselheiros do clube têm a obrigação de negar a venda de Soteldo por valor ridículo. Caso autorizem, vão dar respaldo a um dos piores negócios da história do Santos. Um e outro torcedor ainda tem o despropósito de dizer que, como o presidente afastado não pagou nada ao Huachipato pela aquisição do venezuelano, Rollo pode vendê-lo por ninharia. Contrassenso.
Aceitar o negócio nessas condições é dar início a um processo de dilapidação do patrimônio do clube. Peres foi afastado quando o time estava bem ajustado, com boas campanhas em duas competições e perto de estrear numa terceira, com elenco recheado de garotos e um dos maiores ativos da história do Santos. Dos 24 atletas mais utilizados por Cuca nos últimos dois meses, 23 têm os direitos federativos presos ao clube. Exceção é Luan Peres.
Santos recebeu no último ano duas propostas pelo atacante venezuelano: do Atlético Mineiro, de US$ 12 milhões, valor divulgado pela mídia; e do Palmeiras, de US$ 18 milhões. Ambas foram recusadas pelo presidente afastado José Carlos Peres por entender que Soteldo, além de bastante jovem, é jogador de alto nível.
Prejuízos na pandemia
A gestão de Peres ficou quatro meses sem receber um tostão sequer durante a pandemia. Só em salário e tributação sobre a folha o valor atinge R$ 12,8 milhões por mês, ou R$ 51,2 milhões em quatro meses.
E só aceitou abrir negociação pelo zagueiro Lucas Veríssimo e pelo atacante Kaio Jorge. O então presidente nunca admitiu vender seus principais jogadores porque sua gestão deu ao clube, repita-se, um dos maiores ativos da sua história. Foi afastado em momento crucial, quando tratava dos últimos detalhes sobre os dois atletas com os mercados português e alemão.
Tinha como opção negociar parte dos direitos econômicos de alguns jogadores com um grupo espanhol, caso a venda de um dos atletas não fosse concluída antes de a janela fechar. Mas Peres foi retirado da presidência do clube e agora o vice, que também deveria ter sido afastado, faz graça. Por que não busca a mesma solução?
Para afastar José Carlos Peres, utilizaram discurso de que o vice Rollo iria chegar e colocar ordem na casa. Venderam ao torcedor que o clube estaria inviabilizado financeiramente. E passaram a impressão de que iam assumir o clube e, no dia seguinte, um carro-forte lotado de dinheiro, estacionaria em frente à Vila Belmiro, ou que, do nada, apareceriam árvores de onde se tiraria dinheiro.
Os dois valores que Rollo anunciou ter conseguido na Federação Paulista e depois na Confederação Brasileira de Futebol – de R$ 1,3 milhão e R$ 5 milhões, respectivamente — tinham sido provisionados pela diretoria anterior. O primeiro corresponde a publicidade em placas no Campeonato Paulista e o segundo referente à premiação do clube na Libertadores.
Peres ainda deixou o clube com R$ 10 milhões em caixa, suficientes para pagar a folha de setembro do elenco e dos demais funcionários, além de um terço do acordo firmado com o grupo por conta da pandemia do novo coronavírus.
Rebole, Rollo! Vender Soteldo por R$ 39 milhões é escarrar na cara do torcedor, dilapidando o patrimônio do Santos. Espera-se que os conselheiros não avalizem essa negociação, sob pena de serem corresponsáveis pela pior venda na história do clube.
(*) É jornalista em Brasília e sócio do Santos Futebol Clube