BRASÍLIA
O que poucos esperavam aconteceu: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) levantou a bandeira branca e chamou o Supremo Tribunal Federal (STF) para se sentar à mesa de negociação. A decisão teve participação direta do ex-presidente Michel Temer (MDB), responsável pela indicação de Alexandre de Moraes para ministro do STF, ponto de discórdia com os bolsonaristas.
Chame o que quiser sobre a Carta à Nação, divulgada quinta-feira (9). Pode-se afirmar que Bolsonaro “arregou”, ou que “amarelou”, ou mesmo que tenha tido gesto de “estadista” ao colocar os interesses do Brasil acima de tudo e de todos.
Fato é que a trégua entre Executivo e Judiciário não foi bem recebida pelo PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo pesquisas, lidera a corrida presidencial de 2022. Polêmicas à parte — especialmente porque Lula não consegue andar dez metros na rua sem ser xingado de “corrupto”, “safado” e “ladrão” — o armistício faz o governo Bolsonaro retornar para os trilhos.
O presidente tem outra responsabilidade com o país. Após ele próprio dar vida a Lula, ao cometer falhas na condução da pandemia, sobretudo, de comunicação, o presidente deve tomar outra decisão valiosíssima: anunciar que não disputará a reeleição e que seu candidato será o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Com esse gesto, várias pré-candidaturas seriam impactadas logo no anúncio desses dois nomes. Lula seria o primeiro a cair fora. Outras vias que se desenham neste momento — como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) — seriam natimortas. Poucos sobreviveriam, como Ciro Gomes (PDT).
Presidente deve tomar outra decisão: anunciar que não disputará a reeleição e que seu candidato será o ministro Tarcísio.
Para vice de Tarcísio, numa chapa apoiada por Bolsonaro, a escolha recairia na ministra da Agricultura, a sul-mato-grossense Tereza Cristina Corrêa da Costa, igualmente muito bem avaliada, além da possibilidade de o Brasil ter uma mulher no cargo de vice-presidente.
Ao abrir mão de disputar a reeleição, Bolsonaro iria causar alvoroço entre seus adversários. O tabuleiro iria virar de cabeça para baixo. Os adversários estariam sem discurso e começariam a brigar entre si. Tucanos, emedebistas, democratas, petistas, pedetistas e assemelhados praticariam o canibalismo.
Enquanto isso, Tarcísio e Tereza Cristina seguiriam focados em suas pastas, onde se manteriam até abril de 2022, quando, pela legislação eleitoral, seriam obrigados a desincompatibilizar dos cargos. Até lá a pré-candidatura da chapa Tarcísio-Tereza Cristina estaria viabilizada e não se surpreenda se estiver liderando as ditas pesquisas eleitorais com corpos à frente.
Tarcísio significa o novo. O novo que trabalha, que não dá ouvidos a críticas ou a rusgas políticas. Que não se desconcentra. Em dois anos e meio de Governo, não se envolveu em qualquer polêmica, mesmo colocando a mão numa cumbuca cheia de “bichos escrotos”, que é o Orçamento de infraestrutura. Dali sai dinheiro para estradas e projetos de grande vulto — fonte que sempre alimentou caixa 2 de políticos e empreiteiras, como demonstrado na Operação Lava Jato.
Bolsonaro pode repetir outro gesto de grandeza ao libertar o Brasil de possível retorno do PT ao comando do país, decisão que agora parece mais simples: sai por cima, indica seu sucessor, elege-o e passa alguns anos acompanhando de camarote a luta da esquerda para retomar o controle do país. Vitória maior que essa não há. O bolsonarismo estaria marcando para sempre seu nome na história.