CAMPO GRANDE
Para a Procuradoria-Geral da República, o deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Trutis (PSL), deve ser punido por três crimes depois que mobilizou a PF (Polícia Federal) para investigar “atentado fake”. A PGR denunciou o parlamentar sul-mato-grossense por falsa comunicação de crime, porte ilegal e disparo de arma de fogo, conforme apurado pelo portal R7.
A suposta emboscada para matar Trutis, da qual ele só teria saído vivo porque, como em um filme de ação, se abaixou dentro do carro onde estava e revidou, aconteceu no dia 16 de fevereiro de 2020. Naquele domingo, o deputado publicou no Facebook, por volta das 9h, que ele e sua equipe haviam sofrido um ataque a tiros a caminho de Sidrolândia – distante 70 quilômetros de Campo Grande. Para ir até à PF pedir que o crime fosse investigado, ele recorreu à escolta do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
“Segundo consta dos autos, diversos laudos periciais, relatórios e informações policiais, além de oitivas, revelaram a real dinâmica dos fatos e refutaram a versão inicialmente apresentada pelos denunciados à Polícia Federal”, sustenta a denúncia, assinada pelo vice-procurador-geral, Humberto Jacques, ainda de acordo com o R7.
Como Loester Carlos é parlamentar federal, todos os passos da investigação foram analisados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) até agora. Por duas vezes, a defesa do parlamentar tentou “trancar” o inquérito, sob o argumento de que as investigações estavam sendo conduzidas de forma irregular e que Trutis era vítima de “descarado abuso de autoridade”, mas os dois pedidos feitos ao Supremo foram negados.
Apesar de concluir, assim como a Polícia Federal, que o suposto atentado não passou de uma mentira, o crime tem relação com as atividades parlamentares, o que ainda garante a Trutis o foro privilegiado. Por isso, a denúncia foi encaminhada ao STF, que vai decidir se a acolhe ou não. A ministra Rosa Weber está responsável pela análise.
Além do deputado, as acusações também recaem sobre o assessor dele, Ciro Fidélis, que sustentou a narrativa do chefe ao longo do inquérito policial.
O Toyota Corolla em que Trutis estava de carona com o assessor era alugado. A PF havia entendido que o parlamentar cometeu um quarto crime ao fingir a tentativa de homicídio, o de dano ao patrimônio privado, uma vez que o veículo foi danificado por disparos. A PGR, por sua vez, pediu a intimação da empresa de locação de automóveis para que, querendo, entre com ação penal privada contra o deputado.
Desmascarado
“O carro em que estavam foi alvejado por, no mínimo, 5 disparos”, dizia a nota divulgada em rede social de Trutis naquele 16 de fevereiro. A imagem anexada à postagem mostrava Corolla preto com vidros estilhaçados e marcas de bala. “O deputado conseguiu revidar o ataque. Apesar da emboscada, todos estão bem e sem ferimentos”, continuava comunicado.
Rastreador do carro, câmeras espalhadas pela BR-060, perícia e exaustiva investigação levaram a Polícia Federal a descobrir, contudo, que a suposta emboscada era uma farsa ou, como classificaram os investigadores, uma “tragicomédia com dois atores”: o deputado e seu motorista, Ciro Fidélis.
A perícia identificou disparos de pistola Glock 9 mm de fora para dentro do Corolla e disparos de pistola Taurus de dentro para fora do carro. Para a PF, os tiros nas duas direções serviram para justificar a versão do deputado, de que ele revidou ao ataque e por isso, sobreviveu. Mas, de acordo com análise técnica, seria impossível Trutis sair ileso do atentado.
Com Campo Grande News