BRASÍLIA
O escritor, jornalista e vice-presidente de políticas da Americas Society/Council of the Americas, Brian Winter afirma, em artigo publicado nesse sábado (9), no Americas Quarterly, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pode conseguir virar as pesquisas e ser reeleito em outubro.
Autor de best-sellers, analista e palestrante, Brian vive e respira a política latino-americana nos últimos 20 anos. Diz ter retornado ao Brasil após dois anos fora e tido a sensação de que a disputa presidencial está aberta, mas polarizada entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem muito espaço para a terceira via.
“Voltando ao Brasil depois de dois longos anos fora, há coisas que o impressionam imediatamente. Os mil diferentes tons de verde. Os sorrisos. A maneira particular como o Brasil torna as coisas difíceis fáceis, e as coisas fáceis difíceis. Mas em abril de 2022 há um fenômeno que você só pode apreciar no terreno: a sensação de que o presidente Jair Bolsonaro poderia, apesar de tudo, ainda encontrar uma maneira de vencer as eleições de outubro – ou pelo menos tornar as coisas próximas o suficiente para serem bagunçado”, escreve Winter, no Americas Quarterly.
O escritor entende que um dos motivos para o iminente crescimento de Bolsonaro nas pesquisas está relacionado ao fim da pandemia, com a população autorizada a tirar as máscaras e as atividades econômicas voltando ao normal.
“Conversando com políticos brasileiros, empresários, jornalistas e dezenas de pessoas comuns, ouvi repetidamente a visão de que a corrida ainda poderia ir para qualquer lado – e que, por enquanto, o terreno parece estar mudando em favor do titular. A questão é por quê”, argumenta.
“Ouvi repetidamente a visão de que a corrida ainda poderia ir para qualquer lado – e que, por enquanto, o terreno parece estar mudando em favor do titular”.
Brian Winter continua: “Uma das principais razões é a sensação de que a pandemia finalmente passou. A Covid-19 expôs as piores qualidades de Bolsonaro: sua negação da ciência e dos fatos, gestão desorganizada e falta de empatia (ou vontade de proteger) membros vulneráveis da sociedade. O Brasil perdeu mais de 660.000 pessoas, provavelmente colocando-o entre as 15 maiores taxas de mortalidade per capita do mundo. Se a eleição tivesse sido realizada em outubro de 2021, Lula provavelmente o teria destruído. Mas durante a semana em que estive lá, enquanto os mandatos de máscara estavam sendo retirados e o tráfego estava voltando ao normal, havia a sensação de uma página sendo virada”.
As pesquisas mais confiáveis, diz, ainda mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uma vantagem de 15 pontos percentuais ou mais contra Bolsonaro. Mas essa margem, pondera, vem se desgastando lentamente e, com ela, a sensação de inevitabilidade que cercou a candidatura de Lula durante a maior parte do ano passado.
“Uma nova pesquisa mostrou que a maioria dos brasileiros classifica o tratamento do Covid por Bolsonaro como “bom” ou “OK” pela primeira vez desde o início da pandemia – provavelmente refletindo o alívio de que o capítulo agora parece ter terminado”, acrescenta.
O norte-americano conclui o artigo, dizendo que acredita no favoritismo de Lula. E ironiza a possibilidade de Bolsonaro perder por diferença pequena e usar a estratégia de Donald Trump, de pedir a recontagem de votos nas eleições norte-americanas, vencidas por Joe Biden.
“Mesmo que o presidente não ganhe, chegar a poucos pontos pode permitir que Bolsonaro puxe uma página da cartilha de Donald Trump e tente contestar o resultado da eleição”.
Diz ele: “Ainda acredito que o favorito nesta eleição é Lula, o político brasileiro mais talentoso do último meio século que muitos, dentro e fora do PT, acreditam que se deslocará mais para o centro à medida que a campanha avança. Há poucos sinais de demanda por um candidato da “terceira via” fora de certas elites empresariais e da mídia. Mas uma janela se abriu claramente para Bolsonaro, que tem sido, contra todas as expectativas, o candidato mais disciplinado nos últimos meses”.
Em seguida, Brian Winter sugere que Bolsonaro possa repetir Trump, tentando judicializar o resultado das eleições, caso perca por pouco: “Mesmo que o presidente não ganhe a votação, chegar a poucos pontos pode permitir que Bolsonaro puxe uma página da cartilha de Donald Trump e tente contestar o resultado da eleição, uma manobra para a qual muitos acreditam que ele vem se preparando há mais de um ano”.
Mas fecha o artigo afirmando que o presidente Bolsonaro deu demonstração de força durante a janela partidária: “Enquanto isso, as apostas continuam a favor de Bolsonaro: 79 parlamentares, ou cerca de 15% da Câmara, mudaram recentemente sua filiação partidária para fazer parte da coalizão do presidente. Em Brasília, como em outros lugares, a visão é clara: ainda parece uma eleição aberta”.
O artigo completo está disponível no seguinte link: https://www.americasquarterly.org/article/despite-everything-bolsonaro-could-still-win/