CAMPO GRANDE
Em 2018, o MDB tinha tudo para alcançar vitória consagradora nas urnas em Mato Grosso do Sul. O partido tinha quadro robusto, com o então senador Waldemir Moka buscando a reeleição, após um mandato em que consolidou seu nome entre os maiores políticos do Estado. Na chapa para deputado estadual, o então presidente da Assembleia Legislativa Junior Mochi, com chances elevadas de se reeleger. A bancada para deputado federal tinha também a força do ex-deputado federal George Takimoto. E, na cabeça de chapa, destacava-se a senadora Simone Tebet, bem colocada nas pesquisas.
A filha de Ramez Tebet tinha ainda a cumprir mais de quatro anos de mandato. Se perdesse a disputa com Reinaldo Azambuja (PSDB), que buscava o segundo mandato, ela voltaria para onde estava, o Senado. Era o único integrante do MDB em MS com a primazia de perder e não ser derrotado, digamos. O nome dela foi lançado ao Governo com grande festa em Campo Grande. Ovacionada por uma plateia eufórica. Virou destaque na mídia. Seria a candidata emedebista capaz de “bater chapa” com o tucano. Havia acordo para lançar o promotor público Sérgio Harfouche (PSC) como vice.
Uma semana depois, contudo, Tebet anunciou sua desistência de disputar o Governo. Emedebistas ficaram sem entender o posicionamento da então candidata. Vários motivos foram apontados, mas nenhum que pudesse convencer os órfãos da senadora. Ao “amarelar” sem motivo aparente, ela deixou o partido nu, sem lenço, sem documento. Teve início correria para escolher o substituto. Surgiram vários nomes. Um deles o de Harfouche. Mas o MDB não fechou consenso em torno do nome dele.
Partido em chamas, perdendo tempo em cansativas reuniões para encontrar um candidato ao Governo. Sobrou para o então deputado Junior Mochi, cuja reeleição era praticamente certa, a responsabilidade de substituir Simone. A reeleição de Moka, também dada como certa, entrou em “banho maria”. A agremiação se perdeu em meio a tantas incertezas.
As campanhas de Moka e de Mochi se desestabilizaram. Ambos tinham agora a missão de reerguer o partido e prepará-lo para a disputa. Moka passou a cuidar da campanha de Junior Mochi ao governo a quem garantiu que não o abandonaria e assim fez. O resultado é conhecido. Reinaldo Azambuja disputou o segundo turno com o ex-juiz Odilon de Oliveira (PDT) e o venceu. O MDB perdeu tudo, de cima embaixo: o governo, o Senado, não elegeu nem um deputado federal e apenas três dos 24 deputados estaduais.
As campanhas de Moka e de Mochi se desestabilizaram. Ambos tinham agora a missão de reerguer o partido e prepará-lo para a disputa
Quatro anos depois, o cenário é bem parecido. MDB com sua estratégia de campanha bem arrumadinha: bons candidatos para vários cargos, como o então senador Moka como pré-candidato a deputado federal e Junior Mochi pré-candidato a deputado estadual. O ex-governador André Puccinelli lidera as pesquisas. Céu azul para o partido que resistiu ao Regime Militar.
Eis que, do nada, surge a figura de Simone Tebet na vida da sigla. A senadora que se colocou como principal adversária do presidente Jair Bolsonaro quer o apoio do partido no seu Estado, onde reina o bolsonarismo. Simone é a cara do PT e da esquerda do país neste momento. Aceitou a função de algoz do governo Bolsonaro na CPI da Covid-19. Juntou-se ao relator Renan Calheiros (MDB), ao presidente Omar Aziz (PSD) e ao vice Randolfe Rodrigues (Rede).
Viu sua popularidade crescer nas redes sociais, mas não soube fazer a leitura de que suas tentativas de desconstruir Bolsonaro eram apoiadas pela grande mídia, como a TV Globo, e por partidos de esquerda. Natural que seu nome passasse a ser bem-visto, mas somente naquele momento. Petista não vota em outro candidato espontaneamente. Simone acordou, viu-se sozinha, com menos de um ponto nas pesquisas para presidente.
Mesmo diante de tantas evidências de que Simone tem as mesmas mãos volúveis de quatro anos atrás, o MDB começou a adulá-la. E caiu no colo dela novamente. Agora ela quer porque quer disputar a presidência e não aceita outra hipótese, como ser vice de alguém. Bateu o pé e com isso está levando o MDB para um lado obscuro, o mesmo de 2018, quando ela abraçou e deixou-se abraçar para, cinco dias depois, chutar tudo pro alto, sair de cena sem se desculpar, sem olhar para trás a fim de enxergar o caos em que havia deixado o “seu MDB”.
Mesmo diante de tantas evidências de que Simone tem as mesmas mãos volúveis de 4 anos atrás, o MDB começou a adulá-la
Simone Tebet quer o mundo pra ela. Quer ser o centro das atenções, mas não leva jeito para ser articuladora, muito menos reúne empatia para, de peito aberto, não aceitar negociar outra opção com qualquer outro candidato da chamada terceira via. Exala arrogância quando está numa mesa de discussão e foi assim que perdeu o carinho e o respeito no Senado.
Na última eleição para a presidência daquela Casa, foi humilhada pelo desconhecido Rodrigo Pacheco, ex-deputado federal de Minas Gerais. E caso decida disputar a reeleição ao Senado será igualmente humilhada, dessa vez pela ex-ministra Tereza Cristina (PP), líder isolada em todas as pesquisas.
O MDB do Estado já aceita Simone Tebet. As articulações mudaram de uns dias pra cá. Agora tudo passa primeiramente pela inclusão do nome de Tebet nas alianças e acordos. É prioridade, acredite, a exemplo do que ocorreu em 2018.
Simone Tebet é aquela que foi sem nunca ter sido. E as chances de ela voltar para casa no final de 2022, de mãos vazias, são as mesmas do MDB de Mato Grosso do Sul. A menos que a legenda, dessa vez, se recuse a ser usada para atender às vontades de alguém que se perdeu no caminho e que não sabe nem como voltar para casa de cabeça erguida.