CAMPO GRANDE
Os poucos números disponíveis sobre a última eleição estadual, em que esteve envolvido ex-prefeito de Campo Grande, não são favoráveis a Marquinhos Trad (PSD). O retorno ao tempo, mais especificamente a 2014, se torna necessário para avaliar o cenário atual, diante da falta de dados adicionais sobre os votos na Capital e interior para 2022.
Com base em dados de 2014, a leitura que se faz é que Marquinhos Trad não teria no atual cenário mais que 30% das intenções de voto em Campo Grande, cidade que administrou por cinco anos. E isso é preocupante. Para ele.
Oito anos atrás, os principais candidatos eram o senador Delcídio do Amaral (PT), o ex-prefeito de Campo Grande por oito anos Nelsinho Trad (MDB) e o deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB).
O emedebista chegou a ter 25% da preferência dos sul-mato-grossenses, graças a 35% das intenções do eleitor da Capital. Delcídio dominava no interior, com percentuais superiores a 50%. No maior colégio eleitoral, o petista alcançava 30% e Reinaldo, 18%.
As coisas para Nelsinho começaram a desandar a partir de agosto. A campanha dele se resumiu à fastidiosa narrativa sobre suas ações em Campo Grande, as quais, reconheça-se, eram bem mais consistentes que as do irmão Marquinhos, cujos mandatos colecionam números alarmantes do ponto de vista fiscal e financeiro.
Como não se assustar com o fato de a cidade estar a 2,26% pontos de gastar mais do que arrecada? Como ignorar descontrole dos gastos de quem pretende governar 79 municípios e não mais um isoladamente? Desastre. Cartão de visita indigesto para quem se apresenta como solução, tal qual o irmão em 2014.
Gestão de Trad em Campo Grande é cartão de visita indigesto para quem se apresenta como solução
Como virar o rosto para o fato de que Campo Grande tem gastado R$ 210 milhões a mais por ano com a folha de pessoal? Essas despesas, que deveriam estar no máximo em R$ 2,154 bilhões, atingiram a extraordinária cifra de R$ 2,364 bilhões em 2021 — 59,16% da receita corrente líquida. O limite constitucional é 54%.
De volta aos números de 2014, em agosto daquele mesmo ano, Nelsinho Trad havia caído cinco pontos percentuais, de 25% para 20%. Na Capital, baixou de 35% para 30%, o que justificativa o mau desempenho no Estado.
Menos de dois meses depois, em outubro, Nelsinho caiu nove pontos percentuais no geral e fechou a disputa em terceiro, com magros 16,42%. Só em Campo Grande perdeu quase 14 pontos.
Reinaldo, como numa corrida de cavalos, veio por fora, passou o emedebista e se qualificou para o segundo turno com 39,09% dos votos. Delcídio teve 42,92%. O tucano se elegeu governador pela primeira vez, numa arrancada surpreendente.
Para chegar ao segundo turno, Reinaldo contou com Campo Grande, onde foi mais votado, com 44% dos votos. Abriu 13 pontos de Delcídio, que teve 31%, e 23 de Nelsinho, com 21%.
Tais projeções mostram que todo candidato com razoável aceitação em Campo Grande tende a começar bem qualquer disputa estadual, onde está um terço do eleitorado do Estado. A realidade, no entanto, para por aí porque os outros dois terços estão distribuídos por 78 municípios.
Se as intenções de voto em Marquinhos, como apontam várias pesquisas, têm variado entre 19% e 21%, é porque, repita-se, a preferência em Campo Grande deve estar no máximo em 30%.
A situação de quem abandonou uma Capital, com três anos ainda pela frente, não é confortável
A situação de quem abandonou uma Capital, com três anos ainda pela frente, não é confortável. Some-se a isso o fato de Trad ter o telhado de vidro mais frágil e reluzente entre os cinco concorrentes. Sua gestão na prefeitura é recente, quentinha, com fatos gritando todo dia, dos quais ele não tem escapado sem arranhões.
A desastrada desocupação de área invadida no Jardim Los Angeles, semana atrás, é exemplo fresquinho. Uma jovem de 18 anos, grávida, perdeu o bebê após operação da Guarda Municipal, de “Adriane Lopes” e “Marquinhos Trad”, conforme declarou, dedo em riste, Josenei de Araújo, pai do feto natimorto. O MS em Brasília recebeu vídeos sobre o acontecimento, mas preferiu não divulgar devido ao forte conteúdo.
Para garantir lugar no segundo turno, o que não ocorreu com o irmão em 2014, o ex-prefeito teria que chegar a outubro com 45% das intenções de voto do campo-grandense — 50% a mais que a projeção de momento. O ex-governador André Puccinelli (MDB) lidera a disputa, seguido de Marquinhos, Rose Modesto (União Brasil), Eduardo Riedel (PSDB) e Capitão Contar (PRTB).
As eleições em 2022 dão sinais de que podem se afunilar entre dois candidatos não egressos, de imediato, da gestão de Campo Grande. Em 2014, a última eleição em que esteve envolvido um ex-prefeito da Capital, o cenário foi esse.
O campo-grandense parece não ter político da sua estima quando se trata de escolher o governador. Sabe separar aquele que pode administrar sua cidade daquele que considera capaz de comandar máquina para atender às necessidades de 2,9 milhões de cidadãos e não de 900 mil.