EDITORIAL
A interrupção na circulação dos ônibus por 24 horas em Campo Grande não tem – nem pode ter — os motoristas como vilões. O problema no transporte coletivo da Capital foi alimentado por cinco anos pelo ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD). Durante a campanha de prefeito em 2016, o então candidato utilizou o caos do transporte público para ganhar as eleições.
Com falso discurso de que iria rever o contrato de concessão outorgado pelo seu irmão Nelsinho Trad (PSD), então prefeito de Campo Grande antes de Alcides Bernal, Marquinhos convenceu grande parte do eleitorado de que ele seria a solução. Prometeu ainda renovar a frota e colocar ar condicionado em todos os ônibus. Essas promessas acabaram virando memes nas redes sociais.
Não é à toa que o pré-candidato ao governo do Estado é chamado de “conversinha”, ou “mentirinha”. No poder, Marquinhos mudou radicalmente o discurso. Passou a defender o cumprimento do acordo, sob a alegação de que “contrato é para ser cumprido”, com a cara mais limpa do mundo, diriam os mais experientes.
Não é à toa que o pré-candidato ao governo do Estado é chamado de “conversinha”, ou “mentirinha”
Menos de dois meses antes de renunciar ao cargo de prefeito, em 1º de abril último, Marquinhos Trad entregou um pacote de bondades aos empresários do transporte coletivo da Capital. Com apoio da sua base aliada na Câmara de Vereadores, aprovou dois projetos de lei com benefícios fiscais ao Consórcio Guaicurus.
As matérias foram aprovadas em regime de urgência para – veja você — evitar greve dos motoristas. Entre os benefícios, estavam anistia de multas, isenção de impostos e ajuda de R$ 12 milhões em 2022. Para avalizar as benesses, os vereadores anunciaram, na ocasião, que iriam “cobrar melhorias da concessionária na prestação do serviço à população”. Nada foi feito de lá para cá.
O ex-vereador Vinicius Siqueira (PROS) apontou os responsáveis pela paralisação dos motoristas ontem (21), além de reforçar denúncias feitas em ação civil pública contra o Consórcio Guaicurus, ainda sem apreciação do Judiciário, chamada “Operação Óleo Diesel” (ver vídeo).
Em vídeo publicado em suas redes sociais nesta quarta-feira (22), Siqueira afirma que o Consórcio quer mais dinheiro da prefeitura, situação com a qual se acostumou durante a gestão de Marquinhos Trad, e aponta o ex-prefeito como principal responsável pelo o que ele classifica de “baderna do transporte coletivo”.
“Campo Grande está uma esculhambação e o ex-prefeito tem a cara de pau de dizer que quer ser governador” — Vinicius Siqueira, ex-vereador
O ex-vereador, que foi candidato a prefeito em 2020, afirma que a atual prefeita Adriane Lopes (Patriota) tem tudo nas mãos para tomar o controle do transporte público. Sugere, para isso, que a chefe do Executivo utilize as denúncias que constam da ação civil pública, onde, segundo ele, há elementos suficientes para retomar o serviço.
Sustenta que Marquinhos Trad sempre procurou proteger o Consórcio, fazendo “vistas grossas” às irregularidades para não punir os empresários. “Campo Grande está uma esculhambação e o ex-prefeito tem a cara de pau de dizer que quer ser governador”, conclui Siqueira.