CAMPO GRANDE
Com discurso inflamado durante a pandemia da Covid-19 para que as pessoas fossem para casa e que “a economia a gente ve depois”, o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) renunciou ao cargo em 1º de abril deixando a cidade em meio ao caos na saúde pública, transporte coletivo e com famílias carentes sem assistência do município.
Os moradores da Comunidade Lagoa, no Jardim Colorado, em Campo Grande, estão há pelo menos três meses sem receber cestas básicas ou qualquer auxílio da Prefeitura da Capital. A maior parte das famílias têm crianças e os pais precisam pedir doações para alimentar seus filhos e conseguirem se manter. A informação é do jornal Correio do Estado, na edição deste sábado (9/7).
Morando na comunidade há quatro anos, Rosana do Amaral Molas, de 44 anos, relatou ao Correio do Estado que a quantidade de doações para os moradores caiu bastante desde o começo da pandemia de Covid-19, e nem mesmo a cesta básica que o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) disponibiliza para as famílias estão sendo mais doadas.
Rosana ainda acrescenta que, embora a situação não seja fácil, o dinheiro que seu marido recebe de diária no trabalho com reciclagem dá para viver com o básico. Contudo, há famílias numerosas e com filhos pequenos.
Para esses moradores, as escolas disponibilizavam cestas básicas mensais no começo da pandemia, mas com o retorno das aulas presenciais a ajuda parou de chegar.
“O pessoal daqui faz uns bicos e consegue um dinheiro, mas também pede ajuda para irmão, para sogra, mas muitas pessoas não gostam porque precisa pedir toda vez”, explica.
Cras alega não ter alimentos para doação, além de ter uma fila de espera de outras pessoas que também precisam — Rosana do Amaral, 44 anos, moradora do Jardim Colorado
Ao Correio do Estado, Rosana ainda revelou que a assistência social da prefeitura parou de realizar visitas e que sempre que algum morador vai até o Cras do bairro Dom Antônio, que atende a região, a equipe do órgão alega não ter alimentos para doação, além de ter uma fila de espera de outras pessoas que também precisam.
Rafaela Dias, de 30 anos, tem quatro filhos pequenos, sendo que a caçula é uma menina de 8 meses. No momento ela está desempregada e seu marido, como a maioria das pessoas do local, trabalha com reciclagem.
Ela conta que já chegou a dar apenas macarrão para seus filhos almoçarem e muitas vezes a família não consegue fazer três refeições por dia por falta de alimento.
A mãe das crianças buscou ajuda no Cras do bairro onde moram no mês passado, mas não teve retorno sobre quando as doações irão retornar.
“Tem dias que eu dou só macarrão para as crianças” — Rafaela Dias, 30 anos, 4 filhos
Nos últimos dias o alimento posto na mesa chegou por meio de uma pessoa, que, segundo Rafaela, ninguém da comunidade conhecia. Ela conta que esse voluntário entregou diversos mantimentos, inclusive verduras e legumes.
Entretanto, são raros os dias em que conseguem comer alimentos diversificados e com maior valor nutricional. Na maioria das vezes, eles almoçam apenas o básico como arroz e macarrão. “Tem dias que eu dou só macarrão para as crianças, mas chegou uma pessoa aqui e doou bastante coisa pra gente, até verdura, que é raro doarem, tinha”, relembra.
Questionada pela reportagem do Correio do Estado, a secretaria municipal de Assistência Social de Campo Grande informou que não há falta de cestas básicas, mas houve um aumento na demanda por esse benefício. “A equipe do Cras Dom Antônio, que atende a região, já reorganizou a logística de entrega para agilizar o atendimento”, informou a nota.
Com informações e texto de Ana Clara Santos, do jornal Correio do Estado