BRASÍLIA
A poucos meses de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal sob acusação de ter forjado o próprio atentado e com a reeleição praticamente inviabilizada, o deputado federal Loester Trutis (PL) evita aparecer e até mesmo ser citado na campanha da esposa, Raquelle Lisboa Alves de Souza (ver vídeo abaixo). Ela é candidata a deputada estadual pelo PL.
Natural de Brasília, a mulher está em Mato Grosso do Sul há dois anos. Mudou-se para Campo Grande após o suposto atentado contra Trutis, em fevereiro de 2020. No entanto, quer passar ao eleitor a ideia de que está há décadas na Capital.
Em publicação nas redes sociais em 26 de agosto, aniversário da cidade, Raquelle diz: “Hoje a Cidade Morena completa 123 anos! Nos orgulhamos de fazer parte dessa história (grifo nosso). Uma cidade repleta de riquezas naturais e históricas, que abraça povos de todas as nações”.
“Defensora da família”, foi pivô da separação do parlamentar com a veterinária Reni Melo, com quem Trutis tem três filhos. Trutis e Raquelle se envolveram em várias irregularidades e polêmicas nos últimos anos. Viajaram juntos para a Itália, quando ele era casado e ela, sua funcionária.
À época, o MS em Brasília teve acesso a dados e informações sobre a viagem. Embora tenha se ausentado do país por três dias, Raquelle não teve as faltas descontadas no seu salário, já que era funcionária do gabinete de Trutis.
Em 3 anos, Trutis e Raquelle se envolveram em várias irregularidades e polêmicas, como viajar juntos para a Itália, quando o deputado era casado
O parlamentar também pagou viagens à então assessora durante o recesso do Congresso, em janeiro de 2020. Foram utilizados mais de R$ 7 mil em recursos públicos para Raquelle fazer quatro viagens no trecho Brasília-Campo Grande-Brasília (ver aqui).
Nessa época, Trutis morava com a esposa e filhos em uma casa de luxo no Bairro Vilas Boas, em Campo Grande. O aluguel, conforme apuração do MS em Brasília, era pago com verba indenizatória da Câmara dos Deputados (ver aqui).
Em junho deste ano, Raquelle se apresentou como “coordenadora de projetos do governo federal” em matéria divulgada no site MS1 Notícias, criado por Trutis e que está registrado em nome de cunhada do parlamentar. O objetivo era faturar eleitoralmente com o suposto cargo. O texto foi corrigido após o primeiro contato do MS em Brasília com a mulher (ver aqui).
Em vídeo postado semana passada em suas redes sociais, a mulher diz que defenderá, na Assembleia Legislativa, “Deus, pátria, família e liberdade”. Pede voto para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas não cita o marido, candidato à reeleição. O objetivo é desvincular sua imagem à de Trutis.
A ausência de Trutis na campanha da esposa também se percebe em cavalete colocado irregularmente nos canteiros da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, conforme denúncia do Campo Grande News. A propaganda ilegal pode dar multa entre R$ 2 mil e R$ 5 mil.
Raquelle pede voto para Jair Bolsonaro, mas não cita o marido, candidato à reeleição
O deputado federal será julgado nos próximos meses. Se condenado, poderá pegar até oito anos de prisão, perder o mandato e ficar inelegível por até oito anos. Responde por falsa comunicação de crime, porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo. O ex-chefe de gabinete Ciro Nogueira Fidelis é acusado dos mesmos crimes.