CAMPO GRANDE
A campanha eleitoral em Mato Grosso do Sul, nesta fase final, está virando terra do faroeste. Três pesquisas divulgadas nesta semana, no pós-feriado, com números e metodologias diversas, revelam que os levantamentos não estão cumprindo seus objetivos de bem informar os eleitores sobre os prováveis cenários eleitorais, transformando-se em meras peças publicitárias de apoio a determinadas candidaturas.
O desencontro de dados e a suspeita de fraudes nos levantamentos deviam merecer atenção especial do Ministério público, mergulhando fundo numa investigação que poderá trazer à tona um conluio perverso entre candidatos, caixa dois e órgãos de imprensa, claramente comprometidos com recursos ilícitos aspergidos no jogo do vale-tudo das campanhas.
Percent Brasil
A pesquisa Percent Brasil (alguém ouviu falar deste instituto?) traz erros grosseiros em seu plano amostral, virando de imediato piada de salão entre a classe política do Estado. Prometida como uma “bomba” no começo da semana pelo radialista B. de Paula (FM Difusora) revelou um traque de mau gosto quando o “estudo quantitativo de cenário eleitoral em MS” (perceberam a sutileza?) foi divulgado.
Talvez tudo passasse batido, inclusive o fato de que na documentação de registro no TRE informasse que haveria pesquisa em torno das candidaturas a deputados estaduais, embora no questionário não houvesse perguntas nesse sentido (o que por si só motivaria impugnação), logo de cara realmente veio a bomba: no sumário do levantamento, na descrição do plano amostral, o perfil demográfico utilizado foi a do eleitor de Várzea Grande (município de Mato Grosso, grudado em Cuiabá).
Na descrição do plano amostral, o perfil demográfico utilizado foi a do eleitor de Várzea Grande — sobre a pesquisa Percent Brasil
Não fosse o fato de Várzea Grande ficar a 750 quilômetros de Campo Grande, certamente as características socioeconômicas sejam diferentes, o que de imediato inviabilizaria a veracidade do levantamento.
Por outro lado, a Rádio Difusora e o site O Jacaré, que deram ampla divulgação aos números, são sabidamente instrumentos de apoio da candidatura de Marquinhos Trad, administrados pelo publicitário e homem da noite Robson Gatti. Dá pra acreditar?
Brasmarket
O mesmo pode-se dizer da pesquisa da Brasmarket (alguém ouviu falar?) que fez mil entrevista por telefone, com margem de erro de 3%, e divulgada pela FM Capital. Qualquer estatístico honesto e decente sabe que levantamentos por telefone e com margem de erro acima de 2% é picaretagem total.
Nessa, Rose Modesto aparece empatada “tecnicamente” com André Puccinelli, suscitando gargalhadas entre os marqueteiros das demais campanhas. Nos dados amostrais, o instituto afirma ter entrevistado 46% dos eleitores da Capital, quando, rigorosamente, se sabe que Campo Grande tem 30% do eleitorado. Ou seja: virou zona.
Rose Modesto aparece empatada “tecnicamente” com André, suscitando gargalhadas entre os marqueteiros das demais campanhas
Pontual
Por último, saiu pesquisa do Instituto Pontual (alguém conhece?),divulgada pela CBN, com vícios e erros grosseiros, com números que divergem dos outros levantamentos, deixando claro que a estatística é uma ciência nebulosa, que atende interesses estranhos em período eleitoral.
Diante disso, há muita perplexidade e estranhamento diante das pesquisas divulgadas. Há quem suspeite que os veículos de comunicação do Estado resolveram transformar o passaporte para o segundo turno num grande negócio, com alguns vendendo a alma e outros prometendo entregá-la ao sinistro.
Tomara que os eleitores fiquem atentos e sejam mais espertos do que os oportunistas de ocasião.
(*) Dante Filho é jornalista e escritor. Atua há 38 anos na imprensa sul-mato-grossense. Foi assessor de imprensa do Governo do Estado, no Senado Federal e Prefeitura de Campo Grande, na gestão de Marcos Trad. Artigo publicado originalmente no site do autor, sob o título “Pesquisas eleitorais em MS viram piada de salão”.