CAMPO GRANDE
O ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) aumentou em 125,2% o número de servidores comissionados, nomeados por critério meramente político, nos cinco anos em que administrou a Capital. Isso explica o fato de o município ter estourado o limite constitucional com pessoal nos últimos anos.
Em dezembro de 2016, com Alcides Bernal, Campo Grande tinha 759 comissionados, número que chegou a 1.710 ao final do ano passado com Marquinhos, em claro aparelhamento da máquina com cabos eleitorais. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo MS em Brasília com base na Lei de Acesso à Informação.
Já o número de servidores concursados cresceu apenas 7,2% nesse período, passando de 15.330 para 16.446. No total, o número de servidores efetivos e comissionados teve crescimento de 12,8% com Marquinhos Trad em relação às gestões anteriores. Passou de 16.089 para 18.156.
Se tivesse cumprido a lei, Campo Grande teria economizado R$ 207 milhões, dinheiro suficiente para prestar saúde de melhor qualidade e concluído obras
De acordo com os dados, Campo Grande terminou a gestão de Alcides Bernal gastando 54,77% da receita corrente líquida com o funcionalismo. Em vez de reduzir esses gastos, em razão da falta de dinheiro para pagamento de despesas obrigatórias, como o salário do funcionalismo, Marquinhos Trad os elevou durante os cinco anos no cargo.
Em 31 de dezembro do ano passado, a cerca de três meses antes de Marquinhos deixar a prefeitura, por exemplo, as despesas com pessoal atingiam 60,36% da receita corrente líquida, seis pontos percentuais acima do limite constitucional, a maior entre as capitais.
Com isso, a partir de janeiro de 2023, a prefeita Adriane Lopes (Patriota) deverá eliminar o excesso de despesas à razão de 10% a cada exercício, até 2032, conforme previsão da Lei Complementar 178, de 2021.
Em 2021, Marquinhos Trad gastou R$ 2,364 bilhões com pessoal. Se tivesse cumprido o teto constitucional, de 54% da receita corrente líquida, Campo Grande teria economizado R$ 207 milhões, dinheiro suficiente para restabelecer o atendimento completo das unidades de saúde e concluir as mais de quatro dezenas de obras paradas (ver aqui).
Sob o comando de Marquinhos Trad, Campo Grande colecionou os piores indicadores econômicos da sua história
Pior gestão
Em cinco anos sob o comando de Marquinhos Trad, Campo Grande colecionou os piores indicadores econômicos da sua história. Levantamento realizado recentemente pelo MS em Brasília, com base na prévia fiscal do Tesouro Nacional referente ao primeiro quadrimestre, apontou a Capital como a pior gestão entre os 79 municípios sul-mato-grossenses (ver aqui).
Foram analisados três critérios: índice sobre a capacidade pagamento (Capag), poupança corrente líquida (relação entre despesas e receitas) e despesas com pessoal. Campo Grande foi reprovada nos três itens. Destaque foi Sonora, região norte, com os três melhores índices entre as 79 cidades.
Crimes sexuais
Além de levar para a campanha dados fiscais e econômicos ruins sobre Campo Grande e as dezenas de obras paralisadas, o ex-prefeito terá que responder a série de denúncias de assédio e importunação sexual. Há ainda o risco de ser pedida a sua prisão em plena campanha eleitoral.
Há ainda o risco de ser pedida a sua prisão em plena campanha eleitoral
A denúncia foi publicada em 20 de julho pelo site Metrópoles, de Brasília (ver aqui). Até agora 13 mulheres fizeram denúncia formal contra Trad, pré-candidato a governador.
A única mulher que retirou a denúncia contra o ex-prefeito recebeu cargo na prefeitura onde permanece lotada até hoje, de acordo com o Portal Transparência do município, conforme apuração do site Midiamax.
Além de convencer os eleitores sobre cada uma das denúncias, inclusive sobre as relações sexuais dentro do gabinete da prefeitura, Marquinhos terá de se explicar à comunidade evangélica do Estado, cuja doutrina é extremamente rigorosa em relação a desvios de comportamento, como crimes sexuais.
Fato do ex-prefeito ter sido funcionário fantasma da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul em 1986, quando estudava no Rio de Janeiro
Outro ponto a ser questionado pelos adversários é o fato de o ex-prefeito ter sido funcionário fantasma da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul em 1986, quando estudava no Rio de Janeiro. Lotado no gabinete do seu pai, o então deputado estadual Nelson Trad, Marquinhos foi efetivado anos depois, sem concurso público, em um dos empregos mais cobiçados no Estado.