CAMPO GRANDE
A obsessão para ser governador de Mato Grosso do Sul fez com que o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) saísse assinando medidas populistas e fazendo compromissos futuros, sem sustentação financeira.
A conta começa a chegar agora e está caindo literalmente no colo da sucessora, Adriane Lopes (Patri), a então vice que aceitava tudo calada.
Por três anos, o MS em Brasília publicou uma série de reportagens denunciando o rombo fiscal nas contas do município. Uma delas mostrou que Campo Grande foi a capital que mais gastou com a folha do funcionalismo em 2021, coisa de R$ 2,364 bilhões, R$ 207 milhões acima do limite constitucional (ver aqui).
“A tendência, conforme projeções feitas pelo MS em Brasília, com base nos dados fornecidos pela Prefeitura ao Tesouro Nacional, é que a situação da capital sul-mato-grossense se agrave ainda mais a partir de maio”, previu reportagem do nosso site, em 28 de abril de 2022.
Advertiu, ainda, que Adriane talvez tivesse que fazer demissões para iniciar 2023 sem estourar a regra da Lei de Responsabilidade Fiscal. Se não demitir agora, a prefeita terá que fazê-lo a partir de janeiro, conforme previsão da Lei Complementar 178, de 2021.
A primeira conta, repita-se, caiu no colo de Adriane Lopes: o acordo sobre aumento dos professores da rede municipal
A primeira conta, repita-se, caiu no colo de Adriane Lopes: o acordo sobre aumento dos professores da rede municipal. Sexta-feira (25), o site Campo Grande News noticiou que os professores bloquearam o sentido Bairro-Centro da Avenida Afonso Pena em frente à Prefeitura de Campo Grande, em protesto pelo não pagamento de reajuste previsto em lei.
Os protestos ocorrem porque a prefeita Adriane Lopes não quer cumprir acordo fechado pelo ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD). “Viemos para a rua porque ela [prefeita] não atendeu a gente. A gente perguntou: ela vai vir? Não quis. Então, foi orgânica a decisão. Desrespeito, falta de consideração, não abriu diálogo, não desceu pra falar com a gente”, disse uma professora que preferiu não se identificar, segundo o Campo Grande News.
“A tendência, conforme projeções feitas pelo site, é que a situação da capital se agrave ainda mais a partir de maio” – Trecho de reportagem do MS em Brasília, em 28 de abril de 2022 sobre a situação fiscal de Campo Grande
A publicação informa que a situação se arrasta desde quarta-feira (23), quando o secretário municipal de Educação, Lucas Bitencourt, disse que a prefeita não poderia pagar o reajuste de 10,39% em dezembro para não ultrapassar o limite da folha de pagamento, o que infringiria a lei de responsabilidade fiscal, mas estava disposta a “dialogar com a categoria”.
Previsto em lei municipal, prossegue o site, esse percentual faz parte de um escalonamento do aumento do piso determinado por lei federal para elevar o salário do piso de 20h de R$ 3,3 mil para 3,8 mil.
Mesmo que o acordo tenha sido feito pelo antecessor, Adriane Lopes tem o dever de cumpri-lo. A prefeita foi fiadora de todos os compromissos futuros assumidos por Marquinhos Trad. Sabia que iam cair todos no seu colo.
Mesmo que o acordo tenha sido feito pelo antecessor, Adriane Lopes tem o dever de cumpri-lo
Se estivesse de fato preocupada com os gastos da folha de pessoal, denunciados várias vezes pelo MS em Brasília e sempre desmentido pelo ex-prefeito e sua assessoria, Lopes tinha que ter se manifestado durante as negociações, antes de Trad deixar o cargo.
Enquanto vice-prefeita, Adriane Lopes sempre se escondeu quando era para se manifestar. Até porque ela tinha um objetivo: assumir a prefeitura de Campo Grande, tendo dois anos e nove meses de mandato pela frente.
Havia, portanto, dois personagens em busca de seus interesses: Marquinhos Trad queria ser governador e Adriane Lopes, prefeita. Não havia, digamos, discordâncias. Tudo o que Trad fazia Adriane “assinava embaixo”. O então prefeito deixou o cargo sob festa e, da mesma forma, ocorreu com ascensão de Adriane ao posto de prefeita.
Havia dois personagens em busca de seus interesses: Marquinhos Trad queria ser governador e Adriane Lopes, prefeita. Não havia, digamos, discordâncias
A festa para Marquinhos Trad terminou em 30 de outubro, ainda no primeiro turno, amargando o sexto lugar na disputa. A realidade sobre a situação da Prefeitura de Campo Grande se tornou visível agora, quando a conta dos desmandos e acordos feitos às pressas por Marquinhos Trad começa a chegar.
Justo ou não, com dinheiro ou não, estourando ou não o limite constitucional com despesa de pessoal, Adriane Lopes deve cumprir o compromisso do seu antecessor, mesmo que tenha sido eleitoreiro. Ela tinha a exata noção disso. Não tem por onde correr: o filho é seu, prefeita.