CAMPO GRANDE
Aos 14 anos, ela sabia muito bem o que queria: conquistar pedaço de terra, onde pudesse plantar e colher produtos para subsistência da família. O pai era caminhoneiro e a mãe, Vanda Zanoni, começou a lutar por um lote da Reforma Agrária, em Naviraí, a 360 quilômetros de Campo Grande, onde a garota morava com os pais e uma irmã.
A pequena Thaísa Daiane Silva de Lucena passou a entender que os objetivos que tinha para sua família eram também os de milhares de pessoas a sua volta. Apesar da luta, a mãe não conseguiu ter o tão sonhado lote de terra. A desolação de Vanda Zanoni foi o combustível que faltava para a então adolescente passar a ter gosto pelos movimentos sociais.
Em 2010, casada, ela se mudou para Jaraguari, a 50 km da capital, onde conseguiu lote da Reforma Agrária. Os pais vieram em seguida, onde moram até hoje. “Estamos todos próximos e isso me ajuda muito porque sei que meus pais estão bem”, diz Thaísa, que se considera agricultora familiar.
Thaísa de Lucena é hoje uma das principais lideranças dos movimentos por terra, moradia e melhores condições para os trabalhadores na agricultura e agricultores familiares em Mato Grosso do Sul. Tem 34 anos e é mãe de uma menina.
Vários desafios
Durante 20 anos, ela aprendeu que a luta é muito mais difícil para quem está no dia a dia das ações e projetos destinados às parcelas mais necessitadas, como os trabalhadores da agricultura e os agricultores familiares, por exemplo. Diante disso, não recusa desafios.
Além de secretária de Jovens e de Políticas Sociais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Mato Grosso do Sul (Fetagri-MS), Thaísa é secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), considerada a entidade de maior capacidade de mobilização por comandar mais de 4 mil sindicatos no país. É o segundo mandato no cargo.
É ainda uma das organizadoras da Marcha das Margaridas, movimento que reúne em Brasília mulheres do campo, das florestas e das águas contra a dominação, exploração e todas as formas de violência e pela autonomia e liberdade feminina.
Na política, é filiada ao PSB em Mato Grosso do Sul, partido do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. É secretária-geral dos movimentos populares da Executiva Nacional da agremiação. No Estado, é comandado pelo médico Ricardo Ayache.
Presidência da Fetagri
Com tantas tarefas, Thaísa se ve obrigada a se deslocar constantemente para Brasília, onde estão os principais órgãos, entidades e organizações partidárias do Brasil. “Além de Brasília, viajo muito para outros Estados, seja pela Contag, seja pelo PSB. Minha agenda é corrida, mas faço o que gosto”, afirma.
Para 2023, tem extensa lista de projetos e ideias para colocar em prática. Além de organizar mais uma Marcha das Margaridas, ela disputará a presidência da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de MS. A eleição está prevista para fevereiro do próximo ano.
Se eleita, será a primeira mulher a presidir a entidade no Estado. “Estou trabalhando para que isso ocorra. Para liderar um grupo tão grande como os trabalhadores do campo, é preciso conhecer a realidade deles e sobretudo como funcionam as coisas em Brasília”, argumenta.
Cursos
Outro trabalho bem-sucedido comandado por ela são os cursos destinados a mulheres e homens da periferia de Campo Grande. Por meio de uma parceria com a Fettar-MS (Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados Rurais de Mato Grosso do Sul) e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), a Fetagri realiza cursos diversos desde 2013.
De lá para cá, foram realizados mais de 1 mil cursos, que atenderam perto de 13 mil pessoas. “É um número muito grande. Eu nem me dava conta de que era tanto assim. Parei para fazer os cálculos e realmente é muito gratificante. É um trabalho pelo qual nos dedicamos muito”, descreve.
Os cursos seguem planejamento anual, elaborado pela assistente social Enilda Gomes de Oliveira, parceira de Thaísa na organização e realização dos treinamentos. Para 2023 estão previstos cerca de 150 cursos. “Devo dizer que os cursos são meus xodós e os da minha amiga Enilda. É muito bom ver quando as pessoas estão se dedicando para melhorar profissionalmente”, diz.
Riedel e Lula
Com as funções que ocupa tanto nos movimentos sindicais quanto na política, Thaísa terá que se relacionar com os próximos governantes. Em Mato Grosso do Sul, assumirá o governador Eduardo Riedel, do PSDB. Já na presidência do país estará Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Thaísa de Lucena afirma que não terá nenhum problema para desenvolver projetos e ações em parceria com esses governos. Ela recusa o rótulo de ser mulher de esquerda ou de direita. “Quem está em busca de seus objetivos, seja por moradia ou por um pedaço de terra não quer saber disso. A pessoa que ser atendida, quer melhorar de vida, quer criar os filhos, formá-los”, conclui.