(*) Antonio Carlos Teixeira
A frase que dá título a este artigo não é minha. É de amigo santista de Brasília, o Carlos Alberto Pereira Leite. Ontem, em meio a mais um jogo bisonho do nosso time, conversávamos pelo WhatsApp. De pronto, eu disse a ele que não estava vendo a partida. Nem fui ver porque soube logo pelo meu filho que estávamos perdendo de 1 a 0. Mal o jogo começou e levamos gol. Diante disso, continuei a jogar baralho com amigos e familiares. De vez em quando, atualizava a transmissão do Globo Esporte.
Ao final da partida, o Carlos me manda desabafo, que reproduzo, tal como escrito por ele: “1 x 1, gol na sorte. Eu fico revoltado com o Rueda porque as atitudes dele são de desleixo, desprezo com a história do Santos. Quando o Nathan pegou na bola lembrei que, quando o Santos foi contratar este jogador, eu liguei para um colega vascaíno fanático e perguntei se ele era bom. Meu colega falou que era medíocre. Putz! Fiz o básico que qualquer presidente deveria fazer, mas o nosso não faz o mínimo. Como falei, isto é desprezo, desleixo com nossa história”.
A manifestação do Carlos fez-me lembrar de uma característica que faltava no perfil do presunçoso dirigente. Durante dois anos, percebi vários defeitos nele como gestor, como presidente de um clube de futebol. Insisto: não falo do cidadão. Rueda é excêntrico, vaidoso, despreparado e arrogante. Tem ego maior que a cidade de Santos.
Mas faltava defini-lo melhor e o Carlos revelou numa simples mensagem de Whats. É isto: Rueda comanda o Santos com nojo, desprezo, desleixo. Sem contar o despreparo, tanto no futebol quanto administrativamente. Dá impressão tratar-se de ser de outro planeta, escolhido por deuses para “gerir essa porcaria chamada Santos Futebol Clube”. Pelo menos ele parece se sentir assim.
Rueda comanda o Santos com nojo, desprezo, desleixo. Sem contar o despreparo, tanto no futebol quanto administrativamente
Vira e mexe, santistas discutem em grupos algo que não é absurdo. Sobre quem é maior, Santos ou Pelé? Evidentemente que Pelé é imenso. Figura que transcende ao futebol brasileiro. A imagem dele é maior que Brasil e Argentina, juntos, no futebol. Maior do que as Américas, África e Ásia. A morte do Rei nos deu essa visão. É muito claro, límpido. O Santos é maior que Pelé em razão dos diversos craques que se alinharam em grandes esquadrões entre 1957 e 1974.
O presidente atual, no entanto, parece não ter dúvida: ele, Rueda, é maior que o Santos. A soberba com que ele trata o clube de Pelé e cia dá a mim a segurança de qualificá-lo como o personagem mais indigno que se sentou na cadeira de presidente. Não conheço a origem desse senhor. Dizem ser empresário bem-sucedido. Mas não sei como ele surgiu no clube.
Do nada, candidatou-se a presidente em duas eleições. Na segunda, ganhou, mesmo afirmando em letras garrafais que “não entendia de futebol e tinha raiva de quem entendia”. Os sócios deram de ombro ao próprio alerta feito por ele. O então candidato recebeu enxurrada de votos. Venceu com facilidade seus adversários.
Rueda é péssimo em tudo o que faz. Medíocre no futebol; sem noção nas finanças. Vendeu por míseros 14 milhões de euros o elenco vice-campeão da Libertadores 2020/2021, montado por José Carlos Peres — mesmo valor que o Atlhetico Paranaense recebeu pela venda do lateral Renan Lodi ao Atlético de Madrid. As negociações feitas em dois anos pelo atual comandante dariam um livro de 300 páginas, pelo menos.
Rueda vendeu por míseros 14 milhões de euros o elenco vice-campeão da Libertadores 2020/2021, mesmo valor que o Atlhetico Paranaense recebeu pela venda do lateral Renan Lodi ao Atlético de Madrid
A mais bizarra foi ter dispensado o goleiro Vladimir em 2022 para “aliviar a folha de pagamento” e agora o trouxe de volta. Para que isso ocorresse, o Santos teve que se desfazer do excelente e jovem goleiro John, emprestado ao Internacional por uma caixa de uísque e outra de energético. Vladimir está velho. Já fez sua parte no futebol.
Conselheiros, sócios, torcedores e setoristas do clube não querem saber por que o indigitado dirigente fez essa transação. Com que objetivo? Afinal, o clube negocia para, no mínimo, não perder. Por que aceitou perder com o retorno do seu “velho goleiro”? O que está por trás dessa negociação? Interesse zero.
Não se trata de errar em contratação, o que é até comum no futebol. Mas errar duas dúzias de contratações é, no mínimo, gestão temerária. Cito o meia-atacante Ricardo Goulart, contratado por salários de R$ 700 mil. Teve passagem ridícula em 2022. A meu ver, não deveria ter vindo porque, repito, tem histórico de lesões graves. Apontei isso no Twitter quando o nome dele começou a ser especulado.
Claro que os problemas de Andrés Rueda não se limitam a contratações esdrúxulas, sem sentido, como a volta do Vladimir. As relações do presidente com os empresários Giuliano Bertolucci e André Cury também são sombrias. A entrega do atacante Kaio Jorge a Juventus, da Itália, não me desceu até hoje. O clube tinha um segundo contrato assinado pelo jogador e, caso quisesse, poderia denunciá-lo à Fifa. Mas Rueda entregou o rapaz sem o mínimo de questionamento. Por KJ, o Santos recebeu duas caixas de pinga e sete cachos de banana. Negócio feito. Bicos calados.
As relações do presidente com os empresários Giuliano Bertolucci e André Cury também são sombrias
Também abriu os surrados cofres da sua gestão para comprar parte dos direitos federativos do meia Vinicius Zanocelo, pertencentes à Ferroviária, de Araraquara. Trouxe o argentino Carabajal, de qualidade suspeitíssima, por valor igualmente inexplicável. O clube precisa de jogador que resolva os problemas em campo, imediatamente. Investir o que não tem em atleta “para o futuro” é flertar com o descenso.
O presidente que colocou o Santos na zona do rebaixamento em todos os campeonatos de pontos corridos disputados até o momento: dois paulistas e dois brasileiros. Do jeito que começou 2023, a tendência é que o clube de Pelé siga lá atrás, brigando para continuar na elite do futebol estadual e nacional.
Com Rueda, o Santos se apequenou de tal forma que, qualquer vitória, é comemorada efusivamente. As redes sociais do clube fazem festa. Rueda aparece no Twitter para escrever seu mantra preferido: “Viva o Santos!”. Colocou o clube em seu pior momento da história. Tem a cara da derrota. Impregnou o derrotismo no clube. Falta tesão no seu olhar, tal qual aos elencos montados por ele desde fevereiro de 2021. Ali teve início o processo de exterminação do time de 2020 com argumento vazio de que precisava de dinheiro.
Rueda tem a cara da derrota. Impregnou o derrotismo no clube. Falta tesão no seu olhar, tal qual aos elencos montados a partir de fevereiro de 2021
Sem o menor pudor, entregou atletas nível de Seleção por valores risíveis. Pituca, por exemplo, um dos pilares do time de Cuca de 2020, foi “vendido” por 280 rodízios de shushi, sashimi e combinados. Lucas Veríssimo, que teria jogado a Copa do Catar se não tivesse se machucado, saiu por US$ 4,8 milhões líquidos, em diversas parcelas. Por essa transação, o Santos pagou a maior comissão da sua história. São tantas negociações escabrosas que não compensa citá-las pro sangue não ferver mais ainda.
Nesse tempo, o vaidoso, presunçoso e professor de Deus aumentou a folha de pagamento do clube. Sim, senhores! O custo com salários dos times montados por Rueda de 2021 para cá, é muito superior aos de José Carlos Peres — um deles entre os melhores do atual século, vice-campeão brasileiro com campanha de campeão e, claro, o time de 2020, vice-campeão da Libertadores, também com time superior ao adversário. O tetra não veio por vários fatores, os quais não vale a pena repeti-los.
Sim, senhores conselheiros e sócios! Rueda também aumentou o número de funcionários do Santos em mais de 50%. E aumentou igualmente a dívida. Talvez isso não apareça agora porque está entremeada em dois balanços de 2021 devido à pandemia. Rueda se alimenta das mentiras que conta diariamente. Utiliza-se de alguns torcedores nas redes sociais e até de setoristas, cuja compromisso (ou não compromisso) com o jornalismo sério e independente causa náuseas.
Sim, senhores! O custo com salários dos times montados por Rueda é muito superior aos de José Carlos Peres — um deles entre os melhores do atual século, vice-campeão brasileiro com campanha de campeão e, claro, o time de 2020, vice-campeão da Libertadores
Mas não decidi escrever essas mal traçadas linhas para comentar sobre a gestão medíocre de Andrés Rueda. Era apenas para incluir a principal definição de um torcedor do Santos sobre o atual presidente: o desprezo com que ele comanda um dos maiores clubes da terra. Era isso apenas que eu queria dizer e escrevi demais. Estou perdoado, né.
(*) É jornalista, ex-sócio do Santos, servidor da Receita Federal, pós-graduado em Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro pela Universidade Católica de Brasília (UCB)
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