CAMPO GRANDE
Dois jovens parlamentares — o deputado estadual João Henrique Catan, 34 anos, e o deputado federal Nikolas Ferreira, 26 anos, ambos do PL — viraram notícias nesta semana por motivos semelhantes: na ânsia de ter suas falas em ambas as Casas viralizadas nas redes sociais, erraram na dose aplicada para externar sentimentos, ou expor pontos de vista.
Em Mato Grosso do Sul, Catan utilizou o livro “Mein Kampf” (Minha Luta, em português), conhecido como “Bíblia do Nazismo”, para afirmar que o governador Eduardo Riedel teria se transformado em novo Hitler.
A justificativa era de que o governo tinha a obrigação de fornecer a lista de funcionários nomeados na gestão atual, que começou em 1º de janeiro. Ocorre que o Portal Transparência do Estado, além do Diário Oficial, trazem todas as nomeações ocorridas desde a posse de Riedel.
Catan utilizou o livro “Mein Kampf” (Minha Luta, em português), conhecido como “Bíblia do Nazismo”, para afirmar que o governador Eduardo Riedel teria se transformado em novo Hitler
Em Brasília, o deputado federal Nikolas Ferreira (MG) subiu à tribuna da Câmara dos Deputados com uma peruca para ironizar a figura do transexual. Ironicamente, o parlamentar afirmou que se sentia também uma mulher e que, por isso, tinha lugar de fala no Dia Internacional das Mulheres.
Imediatamente à sua descida da tribuna, deputados governistas começaram a condenar a postura do político mineiro. Houve pedidos de cassação do mandato do jovem estreante em Brasília.
Sobre Catan, a resposta veio do presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), que considerou “infeliz” e “inadequada” a postura do colega na tribuna da Casa. Claro criticou ainda as tentativas de políticos de buscarem as redes sociais para expor casos vivenciados dentro do Parlamento, o que ele classifica de “lacração”.
Gerson Claro (PP) considerou “infeliz” e “inadequada” a postura de João Catan na tribuna da Casa
No entendimento do presidente, Catan quis que sua atitude viralizasse nas redes. Segundo o Correio do Estado, Claro ressaltou que a Assembleia Legislativa trata de assuntos de interesse do Estado e não de pautas que geram curtidas, visualizações e ‘lacração’ na internet.
“Nós não vamos nos pautar pelos espetáculos, número de curtidas ou por número de visualizações. [Vamos continuar com] pautas que tratam do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e de entrega pra população. Essa casa vai manter este padrão de não se pautar pela lacração da internet. Não nos pautaremos pela pauta da rede social”, disse Gerson Claro, de acordo com o Correio do Estado.
O comandante do legislativo estadual garantiu que, quaisquer denúncias de possíveis irregularidades relacionadas à declaração de Catan, serão devidamente apuradas pela Corregedoria ou pela Comissão de Ética.
“Nós não vamos nos pautar pelos espetáculos, número de curtidas ou por número de visualizações” — Gerson Claro
“Foram manifestações que consideramos infelizes, inadequadas especialmente pela utilização de um livro que relembra uma um momento da história da humanidade que nos entristece e não é motivo de orgulho”, lamentou o presidente.
Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação, Mara Caseiro (PSDB) considerou a atitude de Catan “descabida” em razão da postura, segundo ela, democrática do governador, cuja gestão tem sido marcada pelo diálogo com todos os setores da sociedade. “Tudo o que ele [Riedel] quer é acertar e poder trazer o desenvolvimento para o Estado. Então é descabida essa comparação [Riedel x Hitler]”.
“Tudo o que ele [Riedel] quer é acertar e poder trazer o desenvolvimento para o Estado. Então é descabida essa comparação [Riedel x Hitler]” — Deputada estadual Mara Caseiro, presidente da CCJ na Assembleia
A deputada destacou ainda, de acordo com o Correio do Estado, que todos têm o direito de se expressar, desde que não firam os princípios do outro.
“O deputado tem a sua competência de poder falar e de colocar seu pensamento e ponto de vista, mas acho que foi um exagero. Eu acho que merece uma autorreflexão do próprio deputado, para que ele reavalie os seus posicionamentos. O plenário dá essa condição ao deputado de manifestar os seus pareceres, as suas opiniões desde que respeite a liberdade do outro”, defendeu.
O MS em Brasília apurou que não há intenção dos parlamentares de levar João Henrique Catan ao Conselho de Ética, mas há entendimento único de que o deputado extrapolou os limites da liberdade de expressão ao comparar, na opinião deles, a atuação de um governo democrático e transparente ao nazismo.
“É preciso receber corretivo (Catan) para não se achar imune ao Regimento Interno e ao Código de ética e Decoro Parlamentar, a ponto de fazer comparação esdrúxula, despropositada e inoportuna”, declarou deputado governista.