CAMPO GRANDE
Num País com 8,6 milhões de desempregados — um contingente equivalente a toda população da Suíça — quatro Estados enfrentam uma realidade diferente, com uma disputa intensa pela mão de obra.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo desta segunda-feira (13).
Em 2022, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Santa Catarina encerraram o ano com uma taxa de desocupação abaixo de 4%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Enquanto isso, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Amapá continuam com taxas acima de 10%.
Os números positivos do mercado de trabalho de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia podem ser explicados pelo bom desempenho do agronegócio nos últimos anos, o que ajudou a estimular toda a economia local.
“De um modo geral, são Estados com um conjunto de atividades relacionadas ao agronegócio”, afirma Ezequiel Resende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems).
A força do agronegócio não beneficiou apenas o setor nesses Estados, mas toda a cadeia ligada a ele – como produção de máquinas. Em 2023, por exemplo, a expectativa é a de que o País colha uma safra recorde de grãos, alcançando 298 milhões de toneladas, um crescimento de 13,3% em relação a 2022 (34,9 milhões de toneladas).
Um dos compromissos de campanha do governador Eduardo Riedel (PSDB) foi de investir em qualificação da massa trabalhadora para que os postos de trabalho disponíveis sejam ocupados.
“Para que essas vagas ofertadas sejam preenchidas é preciso qualificação. Sei que é possível equacionar essa questão criando um novo programa de qualificação que se chamará ‘Voucher’”, propôs durante a campanha eleitoral.
“Para que essas vagas ofertadas sejam preenchidas é preciso qualificação. Sei que é possível equacionar essa questão criando um novo programa de qualificação que se chamará ‘Voucher’ — Governador Eduardo Riedel durante a campanha
A proposta de Eduardo Riedel prevê qualificação em massa da mão-de-obra do Estado. “O trabalhador escolhe o curso, ganhará um voucher que o autoriza a fazer o mesmo gratuitamente, de forma simples, direta e com uma ajuda de custo”, explicou.
Milhares de vagas
Em Ribas do Rio Pardo, uma cidade com cerca de 25 mil habitantes, a Suzano tem de recorrer a mão de obra de fora da região para dar conta de levar o seu investimento adiante e garantir o funcionamento da sua futura planta, cuja operação deve começar no segundo semestre do ano que vem.
A demanda da empresa por profissionais se dá em diversas fases: na de obras e montagem, por exemplo. E será necessária no momento em que a planta da companhia passar a operar plenamente. No pico, 10 mil empregos diretos devem ser criados.
“Na fase de montagem, não espero que Ribas do Rio Pardo possa dispor de profissionais especializados num local em que nunca houve uma indústria do nosso porte”, afirma Mauricio Miranda, diretor de Engenharia da Suzano e responsável pelas obras de implementação da nova fábrica. O investimento total da nova unidade é de R$ 19,3 bilhões.
O investimento total da nova unidade da Suzano em Ribas do Rio Pardo é de R$ 19,3 bilhões
Num Estado em que a disputa por mão de obra é grande — a taxa de desocupação em 2022 foi de apenas 3,3% –, a Suzano começou a treinar profissionais locais para trabalhar na nova planta. Já foram capacitadas 198 pessoas e, desse contingente, 133 estão praticando na unidade de Três Lagoas.
“Se você não qualificar a mão de obra, você não tem de maneira geral”, afirma Miranda. “Tem uma grande base de formação que precisa acontecer.”
Além da produção de celulose, Mato Grosso do Sul tem aproveitado o bom momento do agronegócio. “São (destaques os) segmentos vinculados à produção de soja, milho, celulose e até de minério de ferro. E esse conjunto de atividades vem apresentando um bom desempenho há algum tempo”, afirma Ezequiel Resende.
No ano passado, a safra de grãos do Estado foi de 22 milhões de toneladas. Em 2023, de acordo com o IBGE, deve crescer 11,6% e chegar a 24,6 milhões de toneladas.
“Nos últimos anos, há uma carteira de investimentos bilionários no Estado na expansão de várias atividades, como celulose, frigoríficos, processamento de milho, fábricas de etanol”, diz Resende.