BRASÍLIA
O governador Eduardo Riedel (PSDB) manifestou preocupação com a insegurança jurídica no campo e ao retorno das invasões de propriedades rurais em todo o país, especialmente em Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira (20), Riedel garante que apoiará a reforma tributária de Lula, assume que votou em Bolsonaro e admite que o PSDB foi mal em 2022.
Também considerou inadiáveis os problemas de concessão das rodovias BR-163, BR-262 e BR-267, segundo ele, sem as mínimas condições de permanecerem com vias simples em decorrência do grande tráfego de carretas e caminhões. Deixou claro que, caso a União tenha dificuldade em avançar, que possa delegar competência ao Estado.
O jornal destacou o programa de governo do tucano em Mato Grosso do Sul, com foco na infraestrutura. “Nos discursos e em entrevistas, ele destaca o fato de o Estado ser um dos campeões em crescimento econômico, palco de alguns dos maiores investimentos industriais e, com 3,3% de desemprego, sofrer com a escassez de mão-de-obra. A missão é garantir condições para dar vazão ao ciclo”, descreve a reportagem.
Riedel deixou claro que apoiou a reeleição do então presidente Bolsonaro, “apesar de o partido ter apoiado, nacionalmente, a sul-mato-grossense Simone Tebet (MDB)”. Elogia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter colocado a reforma tributária em pauta. Mas, segundo a publicação, manifesta preocupação com a posição do governo petista diante do que chama de “insegurança jurídica no campo”.
“Na visão de Riedel, o grande ponto negativo do governo Lula teria sido a suposta leniência à volta da invasão de terras produtivas por movimentos como o MST. Ele citou como exemplo a invasão de uma propriedade da Suzano, no sul da Bahia”, destaca.
“Na visão de Riedel, o grande ponto negativo do governo Lula teria sido a suposta leniência à volta da invasão de terras produtivas por movimentos como o MST” — Destaca o jornal Valor Econômico
O governador de Mato Grosso do Sul não fugiu das perguntas e respondeu a todas, especialmente sobre temas mais espinhosos como o futuro do PSDB, a política nacional, Bolsonaro e Lula:
Reforma tributária
“Temos urgência em alguns temas no Brasil, como a reforma tributária. Qual é o modelo? PEC 45? A 110? É outra discussão. Mas a reforma é uma necessidade. Então eu acho que o governo começa sinalizando de maneira positiva ao colocá-la na pauta.”
Apoio
“Para a reforma tributária, Lula pode contar conosco. E aí precisamos discutir a reforma a ser feita. Mato Grosso do Sul não é um Estado consumidor. Tem 3 milhões de habitantes e é exportador de matéria-prima e industrializados. Uma mudança [do local de tributação] quebra o Estado. Quais são os mecanismos que garantem a previsibilidade de receita [para o Estado]?
Insegurança no campo
“O destaque inicial negativo do governo Lula é a insegurança jurídica no campo. No Brasil, a reforma agrária foi discutida em cima de algumas bases. Hoje é uma realidade completamente diferente. O governo entra e começa toda uma movimentação de movimentos vinculados à reforma agrária, e utilizam como método de pressão aqueles instrumentos lá de trás, como é o caso lá da Bahia, da Suzano. Eu acredito que isso não é um bom caminho. Afugenta a tranquilidade para investimento. Se é para fazer reforma agrária, tem de comprar área e distribuir.”
Questão indígena no MS
“São duas coisas muito distintas: a questão social e a fundiária. São 94 comunidades indígenas no Estado. Estamos falando aqui e desenvolvimento humano, necessidades básicas. Aí a mão pesada do Estado deve trabalhar.”
Disputa por terras
“Já a questão fundiária gera conflitos por uma outra situação. Os proprietários foram titulados 100 anos atrás. A vida seguiu, passa de pai para filho, divide, vende, tudo com título da União originário. A questão fundiária indígena do norte do país, onde as terras são da União, é completamente diferente. Aqui, a União errou lá atrás ao dar o título. Então se agora há identificação de que é terra indígena, tem de indenizar aqueles que receberam título da propriedade. Esse caminho é reconhecido pelo governo federal. Acho que é o adequado.”
PSDB em 2022
“Não foi bem do ponto de vista parlamentar, mas surpreendeu do ponto de vista do Executivo, tem três governadores: Eduardo Leite (RS), eu e a Raquel Lyra (PE). Tivemos uma grande polarização e isso fez com que vários partidos tivessem uma diminuição de rendimento. Não é transferir responsabilidade. É um mea culpa. O Eduardo Leite, na presidência, tem feito essa discussão.”
Voto em Bolsonaro
“Desde o início do processo de discussão aqui no PSDB do Mato Grosso do Sul a gente tomou essa decisão [de apoiar Bolsonaro, apesar de o partido ter fechado aliança com Simone Tebet, do MDB, que é do Estado]. O partido tinha um pré-candidato a presidente, mas não teve candidato. A gente nem sabia que a então senadora Simone seria candidata. Tenho o maior respeito pela Simone, uma pessoa que tem uma trajetória, de alto rendimento, de resultados. Mas aqui foi 60% a 40%[na disputa Bolsonaro versus Lula]. No primeiro turno já era uma discussão dessa natureza.”
Bolsonaro hoje
“Acho que ele tem de se explicar nessas questões [refúgio nos EUA, golpismo no 8 de janeiro e suspeita de roubo de joias]. É uma questão muito dele, questões pessoais. Não vou julgar ninguém. Acho que ele vai ter a oportunidade de justificar ou não.”
Pedidos a Lula
“Um dos projetos que a gente pediu é a ligação da BR-267 à ponte que liga ao Paraguai, uma alça de 18 quilômetros, R$ 130 milhões. A ponte entre Carmelo Peralta (Paraguai) e Porto Murtinho (MS) está sendo feita pela Itaipu binacional paraguaia. Lá em Foz do Iguaçu(PR) foi a Itaipu binacional brasileira que construiu. Então é a contrapartida: uma ponte de 600 metros, US$ 84 milhões, 25% já concluída.”
Concessão
“Outro pedido foi a concessão dessas rodovias [BR-163, BR-262 e BR-267]. Elas não têm mais a menor condição de permanecerem com vias simples em razão do volume de carretas e carga. Caso a União tenha dificuldade em avançar, que possa delegar ao Estado, a gente faz a concessão.”
Fábrica de fertilizantes
“A UFN-3 (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) tem de ser concluída. Ela entrou no processo de desestatização do setor de gás da Petrobras, com quase 90% do investimento concluído, e não foi. Agora a Petrobras anuncia que desistiu da venda. É extremamente importante uma indústria de nitrogenado como essa. Ela está na boca do gasoduto que vem da Bolívia. A matéria-prima está na porta. Então tem tudo para ser um sucesso.”
Estatal ou privada
“Para Mato Grosso do Sul é indiferente se a UFN-3 vai continuar estatal ou se será vendida. Só acho que se for vendida, não será concluída. Então o caminho é a Petrobras terminar [a construção] e operar. Ou terminar e colocar à venda.”