BRASÍLIA
O ex-deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Trutis (PL), reapareceu publicamente após sumiço de praticamente seis meses. Nos últimos dias, ele atualizou seus perfis nas redes sociais, um deles com foto em Washington, nos Estados Unidos. Na legenda, a frase “aprender sempre”.
Desde a tentativa frustrada de se reeleger, em outubro do ano passado, o ex-parlamentar fez apenas duas publicações: de agradecimento pela votação e pelas comemorações de final de ano. De lá para cá, tomou chá de sumiço.
A primeira aparição pública do ex-deputado, semana passada, ocorre após a Justiça correr atrás dele por três meses. Sem foro privilegiado, os ministérios públicos de Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal fizeram várias tentativas para notificá-lo sobre o processo que responde por porte ilegal de armas e munições (ver aqui).
A primeira aparição pública do ex-deputado, semana passada, ocorre após a Justiça correr atrás dele por três meses
Houve ainda tentativas de notificação em ação movida pelo delegado da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul Glauber Fonseca de Carvalho Araújo, responsável pelas investigações sobre o suposto atentado. No processo, que tramita na 16ª Vara Cível de Campo Grande, o delegado pede a condenação de Trutis por danos morais (ver aqui).
Em diversos momentos, o então deputado atacou o trabalho da PF, chamando o delegado de “safado”, “vagabundo” e “corrupto”. As investigações concluíram que o crime foi forjado pelo próprio ex-parlamentar com ajuda do seu ex-chefe de gabinete Ciro Nogueira Fidelis. Ambos respondem a processo por falsa comunicação de crime, porte ilegal e disparo de arma de fogo.
Com a perda dos privilégios de deputado, o caso foi encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (ver aqui). Procurado segunda-feira (3), por meio de sua assessoria de imprensa, o TJMS não respondeu ao pedido de informação sobre os trâmites da ação no Estado.
Já na 6ª Vara Criminal de Campo Grande tramita processo contra o ex-deputado por posse irregular de armas e munições, duas pistolas e um fuzil. A denúncia do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) foi apresentada em dezembro de 2021, mas ficou suspensa por causa do foro privilegiado do então parlamentar.
Ainda na justiça comum, Trutis foi condenado por dar calote em uma empresa de Brasília no aluguel de veículo blindado. Ele recebeu os valores da Câmara dos Deputados, por meio da Cota para Exercício da Atividade Parlamentar, mas não pagou pelo serviço. O processo está em fase de apuração da dívida a ser paga por Trutis (ver aqui).
As investigações concluíram que o crime foi forjado pelo próprio ex-parlamentar com ajuda do seu ex-chefe de gabinete Ciro Nogueira Fidelis
Fundão
Trutis e a esposa Raquelle receberam R$ 1 milhão cada do PL para as eleições do ano passado. O Ministério Público Eleitoral (MPE) impugnou a prestação de contas de ambos em decorrência do alto custo e da repetição dos serviços contratados (ver aqui).
Os procuradores constataram que a maior parte do valor de R$ 2 milhões do casal foi repassada a duas únicas empresas, aparentemente sem atuação comercial: Cid Nogueira Fidelis, irmão do ex-chefe de gabinete de Trutis, e JC Hipólito Taques. O MPE pediu a devolução de mais de R$ 1 milhão aos dois.
Os procuradores constataram que a maior parte do valor de R$ 2 milhões do casal foi repassada a duas únicas empresas, aparentemente sem atividade comercial
As diligências iniciais mostraram estranhas coincidências na prestação de contas deles. Uma delas foi a troca de valores entre essas duas empresas. Quando a primeira emitia nota com valor maior ao marido, a outra fazia com valor inferior à esposa. E o processo se repetia, inversamente, com a outra empresa.
O MS em Brasília também constatou que ambas as empresas não funcionavam nos locais informados no cadastro do CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Em ambos os endereços, a reportagem encontrou as portas sempre fechadas.
Na JC Hipólito, por exemplo, a informação era de que a empresa estava de férias. A reportagem esteve no local antes, durante e depois das eleições. No endereço de Cid Nogueira Fidelis, na rua Rui Barbosa, no centro, vizinhos afirmaram que a sala está desocupada há mais de três anos.
Gastos desproporcionais
O casal de políticos também teve gastos exorbitantes com o impulsionamento de material pago durante a campanha. Somente com a promoção de postagens no Facebook, Instagram e Google, Loester Trutis torrou R$ 311.685,00 e Raquelle Alves, R$ 257.388,00.
Somente com a promoção de postagens no Facebook, Instagram e Google, Loester Trutis torrou R$ 311.685,00 e Raquelle Alves, R$ 257.388,00.
Para se ter ideia do montante expressivo do fundão torrado pelo casal nesse item, os então candidatos a governador no primeiro turno — Marquinhos Trad (PSD), Rose Modesto (União), Giselle Marques (PT) e André Puccinelli (MDB) — gastaram R$ 259 mil, R$ 155 mil, R$ 150 mil e R$ 110 mil, respectivamente. Trutis, por exemplo, gastou quase três vezes mais que Puccinelli e Raquelle mais de duas vezes.
Apesar das evidências sobre o mau uso de recursos do fundo eleitoral, que é abastecido com dinheiro público, o Tribunal Regional Eleitoral aprovou as contas do casal, mas deixou aberta a possibilidade de a Procuradoria Eleitoral manter as investigações (ver aqui).