ANDRÉIA ARAÚJO, DE BRASÍLIA
Durante a primeira audiência que abriu os trabalhos da CPI que investiga a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), ontem (23), as deputadas federais Camila Jara (PT-MS) e Caroline De Toni (PL-SC) bateram boca, elevando a temperatura na Câmara dos Deputados.
O debate acalorado teve início após a petista defender que os trabalhos da Comissão deveriam ser focados na busca por questões como justiça fundiária, melhores condições para jovens e assentados.
“Para alguns discursos é mais fácil criar um inimigo comum, para conseguir cativar adversários. É muito mais fácil do que colocar os problemas reais do Brasil diante da discussão. Pensar a questão fundiária brasileira que é uma questão estrutural”, sustentou Jara.
“Para alguns discursos é mais fácil criar um inimigo comum, para conseguir cativar adversários” — Deputada Camila Jara (PT-MS)
A parlamentar chamou atenção para um grupo de jovens que acompanhava a reunião, perguntando que futuro seria pensado para eles. Relatou que seria neta de agricultores familiares, assentados há 20 anos e que até hoje, disse ela, não tem acesso a água para produção.
A deputada do PL respondeu: “O que a gente não gosta nesta Casa é hipocrisia!”, provocando a colega Camila Jara para “fazer justiça social” repartindo os bens que possui. “Ser socialista de iPhone e bolsa Louis Vuitton é fácil. Agora, por que não vende o iphone e a bolsa para dar a justiça social que tanto fala? Prosperou na vida, mas não quer ajudar aos pobres. Que engraçado!”, fustigou a deputada catarinense.
Caroline De Toni disse que o MST é um movimento “criminoso” porque fere o Código Penal ao incentivar a invasão de terras, com o crime de esbulho possessório, que é um dos tipos de lesão caracterizada pela perda da posse ou da propriedade de um determinado bem, através de violência, clandestinidade ou precariedade.
“Ser socialista de iPhone e bolsa Louis Vuitton é fácil. Agora, por que não vende o iphone e a bolsa para dar a justiça social que tanto fala?” — Deputada Caroline De Toni (PL-RS)
Aos jovens presentes que aplaudiram Camila, a deputada ainda alegou que não tem culpa por estarem fazendo um julgamento errado, isso porque, na sua opinião, são doutrinadas nas escolas para considerarem o MST um movimento de justiça agrária.
“Se na escola não ensinam o que eu acabei de falar, o artigo 161, que fala que esbulho possessório é crime, deveria estar sendo ensinado. Deveria ser ensinado que o MST é um movimento criminoso e não que é um movimento social pela terra”, completou.
Em sua defesa, Camila Jara lembrou o assassinato da prefeita de Mundo Novo (MS), Dorcelina Folador, há 23 anos, por questões políticas da reunião. “Não posso falar simplesmente que o agronegócio é assassino e mandou matar Dorcelina Folador. Aqui não temos que fazer juízo de valor. Pelo contrário, aqui nós temos que pensar soluções para os problemas que a gente enfrenta no dia a dia”, minimizou.
A fala da petista gerou mais indignação na deputada do PL, partido do ex-presidente Bolsonaro. “Tá aí (sic) a verdadeira face da esquerda brasileira, chamando o agronegócio de assassino. Que falta de respeito! Nosso agronegócio alimenta 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo”.