BONITO
Principal destino do ecoturismo brasileiro, a cidade de Bonito sempre esteve em evidência aos olhos dos turistas, mas agora aparece um novo tipo de interessados: os políticos. Ocupar cargo público no município pode significar status e visibilidade ao pretendente.
Diante da perspectiva das forças partidárias se unirem para garantir a reeleição do prefeito Josmail Rodrigues — ainda no PSB e com um pé no PSDB — a disputa nos bastidores se dá por um cargo, digamos, pouco atraente até então, o de vice-prefeito.
Fato que foge ao processo convencional, em que a composição de chapas se dá a partir da correlação de forças entre pré-candidatos a prefeito, geralmente bem pontuados nas pesquisas eleitorais.
Há uma motivação para essa disputa no andar de baixo. A consagração de Bonito, já pelo 16º ano consecutivo, como um dos principais destinos do mundo, reforça ainda mais o status e visibilidade aos seus gestores, mesmo na posição de coadjuvante.
Bater chapa sem densidade eleitoral não é uma boa estratégia para quem quer projeção política, renome e prestígio
Bonito tem só 22 mil habitantes, mas recebe 220 mil turistas por ano. Desde que se projetou como um dos mais admirados destinos do ecoturismo, passou a ser a cidade de Mato Grosso do Sul onde a disputa política é mais efervescente. Daí a razão de as forças políticas terem tanto interesse no poder da pequena cidade.
No topo dos principais destinos do ecoturismo do mundo, Bonito atrai não apenas visitantes em busca de belezas naturais, passeios nas matas nativas e mergulhos nas cristalinas águas calcárias, tão transparentes que a intocável vida aquática fica exposta aos olhos humanos.
O poder na gestão do município significa visibilidade política, prestígio e a possibilidade de interagir com investidores, autoridades públicas de todas as esferas, artistas, ativistas, celebridades e dirigentes de entidades e representações da sociedade civil organizada e diversos setores da economia. Significa a cômoda posição de não ter que mendigar recursos públicos.
Por conta do aumento crescente dos investimentos, Bonito é uma das raras cidades onde os indicadores sociais emparelham com os índices econômicos. O potencial no ecoturismo faz acelerar o resgate de demandas sociais sem que a administração da cidade tenha que enfrentar sozinha o desequilíbrio nas finanças
Movimentação atípica
Em regra, o teste para garantir a indicação de vice-prefeito passa pela performance dos pré-candidatos em suas respectivas legendas. Na forma como a competição foi deflagrada nos bastidores em Bonito, dá ao prefeito, favorito a mais um mandato, um leque de opções de composição, muito antes das alianças serem homologadas em convenções partidárias.
Quando a pesquisa com a prévia sobre quem seria o melhor vice foi divulgada, algumas lideranças reagiram com ceticismo e houve até a avaliação de que a amostragem era tendenciosa, um artifício para embaralhar as articulações pré-eleitorais, já que os nomes apontados pela pesquisa são antigos correligionários das lideranças tradicionais. “Essa pesquisa é extremamente tendenciosa”, diz a vereadora Luísa Lima (MDB), pontuada na consulta para prefeito.
Ela se opõe ao prefeito Josmail, mas afirma que na Câmara Municipal mantêm linha independente e considera que concorrer ou não à sucessão do prefeito é um processo a ser discutido lá na frente. “Eu sou MDB. A política é dinâmica, vontade e sonho todos nós temos. Vamos trabalhar para melhorar a porcentagem. Porém, essa pesquisa é extremamente tendenciosa”. Na pesquisa, ela aparece com 0,8%. No quesito para vice, obteve 1,2%.
O interesse pelo cargo de vice motivou a inclusão desse quesito em uma pesquisa de intenção de voto, apesar do mandato importar na eleição de quem encabeça a chapa
Outros vereadores também aparecem na amostragem de maio e desde sua divulgação a movimentação nos bastidores é intensa. Ainda no bloco de independentes, a Professora Loiva (PSD), com 0,8%, afirma que não descarta concorrer.
“A intenção é disputar sim. Não sou aposição, apenas quero o melhor para nosso município e acredito que sou uma boa alternativa para a próxima eleição. Sou independente! Se o povo apreciar positivamente, meu nome está à disposição, de forma democrática”, disse.
Sobre o favoritismo, apontado com demasiada antecedência, o prefeito Josmail Rodrigues diz que a sua taxa de aprovação, de 60%, reflete o dia-a-dia da gestão, que está focada na infraestrutura. Quanto à reeleição, vai depender do povo. Hoje ele tem 33% das intenções de voto, de acordo com as últimas pesquisas. “Eu já tinha feito um levantamento e os números são parecidos, ligeiramente um pouco melhor. É muito trabalho, não podemos afrouxar”, afirmou.
O prefeito cita a responsabilidade de administrar uma cidade “mundialmente conhecida”, onde diariamente chegam visitantes e são realizados seminários, convenções e assembleias de entidades e instituições dos quatro cantos do país, permanentemente fiscalizada por organizações oficiais e não governamentais. Mas se diz agradecido em contar com a ajuda do Governo do Estado e o trabalho voluntário da população.
O levantamento de intenções de voto para as eleições municipais de Bonito foi realizado no mês de maio pelo Instituto Ranking Brasil Inteligência com 500 eleitores da cidade e divulgado pelo jornal Diário MS News. Passados mais de três meses, nenhuma outra pesquisa foi divulgada, houve outras amostragens para consumo interno
“Estamos trabalhando. A cidade não para. Há uma preocupação muito grande com o meio ambiente e o município precisa de infraestrutura. Graças a Deus a parceria com o Governo do Estado está caminhando para isso. A cidade se transformará no futuro, com certeza”.
Na pesquisa de intenções de voto nas eleições municipais de 2024, os políticos tradicionais são melhor pontuados. O ex-prefeito Zé Arthur de Figueiredo (MDB) e a esposa Isabel que, na eleição passada foi candidata a vice de Laércio Miranda (DEM), aparecem logo atrás de Josmail. Já o terceiro colocado, Laércio Miranda, diz que não tem opinião formada sobre o quadro. “Ainda é cedo”, diz.
O ex-prefeito Zé Arthur afirma que não quer mais participar da militância política. “Eu não sou mais candidato e tenho falado isso. Estive prefeito por mais de 11 anos. Não estou mais participando da política”.
Pré-candidatos a vice
Josmail não deve repetir a chapa com o seu vice, Juca Igarapé. Isso porque Igarapé afirma que não pretende concorrer ao cargo, depois de romper politicamente com o prefeito por discordância em questões internas da administração da cidade. A partir dai foi deflagrada a corrida para a vaga de vice em eventual reeleição do prefeito.
Em relação a potenciais candidatos a vice, o jornalista Bosco Martins lidera a pesquisa com 8,4%, seguido por Isabel do Zé Arthur, 4%: Professora Loiva, 3,2%, Juca Igarapé, 2,2%, e Luísa Lima, com 1,2%. Também apareceram no levantamento Maycon Gomes, com 1%, Luís Straglioto, 0,8%, e Professora Ramona Aquino, com 0,6%.
Para a Professora Ramona, o surgimento do seu nome na pesquisa foi uma surpresa. “Fui candidata a vereadora na eleição de 2020, mas faltou legenda. Nossa chapa teve poucos candidatos, se o PT me indicar, com certeza meu nome está à disposição do partido”, afirmou.
A disputa não se resume, porém, aos candidatos pontuados na pesquisa, até porque o processo de rearrumação partidária prevê mudanças no quadro político, com a filiação do prefeito ao PSDB, o que enterraria de vez sua aproximação com o MDB de Zé Arthur. O PSD também estaria se desidratando, enquanto o PT busca se reestruturar. O que se vislumbra, segundo observadores políticos, é uma coalizão essencialmente “ecumênica”.