EDITORIAL
Discutir política é apaixonante. Discutir se os políticos são iguais é sempre oportuno, mas a conclusão a que se chega, invariavelmente, estará apoiada em uma ideologia.
Os petistas, por exemplo, detestam debater corrupção. Assunto que mexe com a paixão do militante porque o líder maior do PT foi condenado por corrupção em todas as instâncias. É uma ferida aberta, que ainda sangra em Lula, embora o presidente tente disfarçar.
Já os bolsonaristas não se sentem confortáveis discutir sobre democracia, apesar de o ex-presidente nunca ter dado motivo para suspeição. As investigações sobre os atos de 8 de janeiro não trouxeram qualquer vinculação de Jair Bolsonaro com os baderneiros. A não ser a insistência da base do Governo no Congresso de criar situações, sem indícios mínimos.
Políticos não são iguais. Nem todo mundo decide entrar na política pelo mesmo motivo. As motivações pessoais podem variar, como o desejo de aparecer mais, quando a figura é, digamos, profissional reconhecido em sua profissão, como médico, advogado, atleta, empresário.
Há outros que buscam cargo discreto, mas com boa remuneração. Outros porque entendem que podem fazer a diferença, sobressaindo-se nesse mundo onde há tantos poucos bons exemplos. Há também os que buscam o poder pelo poder.
Políticos não são iguais. Nem todo mundo decide entrar na política pelo mesmo motivo. As motivações pessoais podem variar
Nessa semana, dois fatos chamaram a atenção dos cidadãos de Mato Grosso do Sul. O senador Nelsinho Trad (PSD) apresentou emendas ao projeto de reforma tributária reduzindo a carga sobre médicos e advogados, por exemplo. A família do parlamentar tem diversos membros em ambas as profissões. Trad usou o cargo dado pelos sul-mato-grossenses para o bem da família e amigos.
O segundo fato envolveu o deputado federal bolsonarista Marcos Pollon. Presidente regional do PL, Pollon simplesmente entregou os dois cargos mais importantes — depois do dele, claro — à esposa e a seu irmão. Naiane Pollon comandará o PL Mulher; Gabriel Pollon o diretório em Campo Grande. O caso foi exposto pela mídia de Mato Grosso do Sul, como o jornal Correio do Estado e o MS em Brasília.
Pollon sentiu o golpe e passou a fazer publicações seguidas para demonstrar que a indicação da esposa para o PL Mulher foi da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Não é verdade. Quem define os cargos das legendas nos Estados são os diretórios. No caso do PL, a escolha partiu do presidente Marcos Pollon, que agiu como “velho cacique” ao abraçar a legenda toda para si: “É tudo meu”.
Em um programa de rádio na Capital, o deputado federal afirmou que não tem projeto pessoal. Que seu objetivo é fortalecer a direita em Mato Grosso do Sul. Ora, como não tem projeto pessoal, se ele pôs a família para comandar o partido no Estado? Os três principais cargos da agremiação do ex-presidente Jair Bolsonaro, repita-se, estão nas mãos dos Pollon. Mais fácil seria admitir que há um “projeto familiar”.
Tanto o senador Nelsinho Trad quanto o deputado federal Marcos Pollon utilizaram o cargo para o bem próprio
Partidos políticos são mantidos com recursos do Fundo Eleitoral, abastecido de dinheiro público, que sai de parte do suado salário do trabalhador brasileiro. Daí a obrigação de essas organizações terem transparência em suas ações e gastos. Mais ainda: não se prestarem a ter donos, muito menos clãs familiares.
Tanto o senador Nelsinho Trad quanto o deputado federal Marcos Pollon utilizaram o cargo para o bem próprio. O coletivo deu lugar a ações pessoais, entre amigos, entre parentes. Não se pode afirmar que os políticos são iguais, mas é possível garantir que Trad e Pollon buscaram beneficiar-se de algo, sob a singela justificação moral de que é normal. Por essa ótica, ambos são iguais porque normalizam o errado, o ilegal, o irregular.
O objetivo é que a sociedade se enoje da classe política e coloque seus membros na mesma prateleira, afastando-a cada vez mais do debate político. É uma forma de haver menos gente preparada, questionando ações como as praticadas pelo senador Nelsinho Trad e pelo deputado federal Marcos Pollon.
Conclui-se que a definição de que “os políticos são iguais” é uma mentira contada por políticos sem caráter para que se misturem aos bons e passem despercebidos.