CAMPO GRANDE
Em vídeo publicado semana passada, o deputado estadual Pedro Pedrossian Neto (PSD) faz duras críticas a quem trata a política como espetáculo. Depois que deixou a Prefeitura de Campo Grande para se candidatar a deputado estadual, em abril de 2022, Neto parece ter tomado choque de realidade sobre gestão pública.
O parlamentar foi secretário de Finanças e Planejamento por mais de cinco anos nas gestões do ex-prefeito Marquinhos Trad — certamente, um dos políticos mais populistas da história recente de Mato Grosso do Sul.
Embora negue que tenha se referido a políticos populistas, Neto diz, textualmente: “Boa parte da atividade política acaba sendo uma relação de espetáculo. Muitos se portam como atores, desempenhando determinado papel, desempenhando falas que não acreditam…” (ver vídeo abaixo).
Como deputado, cujo posto assumiu em fevereiro deste ano, criticou o fato de Campo Grande ter pelo menos 40 favelas, cujas comunidades tiveram aumento nas últimas administrações, como a de Marquinhos Trad (ver aqui). Também apresentou proposta sobre a saúde do Estado, o principal problema dessa mesma gestão na Capital (ver aqui).
“Boa parte da atividade política acaba sendo uma relação de espetáculo” — Deputado Pedrossian Neto em vídeo divulgado em suas redes sociais
Sabe-se que o então prefeito usou a população mais humilde para se projetar. Marquinhos sempre quis ser o centro das atenções. Gestão populista caracteriza-se por desviar o foco dos grandes problemas, como investimento em áreas prioritárias, transparência dos gastos públicos e prestação de contas, com banalidades.
O político se apresentava publicamente com sorriso largo, fala mansa e olhar choroso. Não se sentia constrangido em dançar na rua em eventos públicos, pegava crianças no colo e as beijava, carregava cestas básicas nas costas e anunciava uma série de obras sem concluir as iniciadas.
Fez de Campo Grande seu jardim de infância e da Prefeitura de Campo Grande motel para seus encontros amorosos, conforme consta de processo contra ele, acusado de diversos crimes sexuais. A ação foi arquivada por determinação do Superior Tribunal de Justiça, a pedido da defesa do ex-prefeito, mas deixou rastro de postura indecorosa e extravagante para um chefe do Executivo.
Depois de cinco anos, o político de linha “populista”, criticado indiretamente em vídeo por Pedrossian Neto, deixou Campo Grande mergulhada em caos econômico e administrativo, segundo dezenas de reportagens publicadas pelo MS em Brasília, com base em dados, números e informações oficiais da Secretaria do Tesouro Nacional.
Depois de cinco anos, Trad deixou Campo Grande mergulhada em caos econômico e administrativo
Mais: em junho deste ano, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado deflagrou operação contra um esquema que desviou dinheiro da Prefeitura de Campo Grande, nas administrações de Marquinhos Trad, de janeiro de 2017 a março de 2022. Estima-se que o município teve prejuízo de R$ 300 milhões e que parte desse recurso tenha sido usada para comprar imóveis ao então prefeito.
Em meio a tudo isso, a prefeita Adriane Lopes (PP) manteve o estilo populista do antecessor, razão pela qual sua pré-candidatura à reeleição tem sido rejeitada pelos campo-grandenses. Ela desistiu (ou talvez nunca tenha pensado nisso) de editar medidas para recuperar as finanças da Prefeitura, com a redução das despesas com pessoal e custeio da máquina pública.
Ao questionar parte da classe política, reitere-se, Pedrossian Neto esquece de mencionar os cinco anos em que participou da administração de Marquinhos Trad. Utilizou o cargo de secretário para pavimentar sua carreira política.
Em 2022, não conseguiu se eleger deputado estadual, mas herdou a vaga do vereador Tiago Vargas, do próprio PSD, que não assumiu como deputado estadual por ter sido considerado inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul.
A prefeita Adriane Lopes manteve o estilo populista de administrar do antecessor, razão pela qual sua pré-candidatura à reeleição não tem tido aceitação popular
Mal estreou na Assembleia Legislativa em 2023, Neto se viu envolvido em irregularidade sobre a utilização da Cota para Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP). Foi acusado de “rachadinha” ao destinar R$ 27 mil de dinheiro público à ex-empresa do seu chefe de gabinete. Foi a primeira trombada fora da bolha municipal.
O deputado estadual é presidente do diretório do PSD em Campo Grande, cuja legenda é dominada pela família Trad. Além de Marquinhos Trad, a sigla tem o senador Nelsinho Trad, o ex-deputado federal Fábio Trad, que virou funcionário de Lula, e o vereador Otávio Trad.