ANTONIO CARLOS TEIXEIRA (*)
O cartola Fernando Silva, que disputou várias eleições para a presidência do Santos, foi diretor (ou consultor) de futebol nos primeiros dois anos da gestão de Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro entre 2010 e 2011. Houve algum problema e ele deixou o clube em dezembro de 2011.
A surpresa foi saber que Fernando Silva, outrora adversário de Marcelo Teixeira, é o homem forte do futebol da gestão que começa oficialmente na próxima terça-feira, dia 19.
As primeiras movimentações mostram que o bem articulado dirigente está desatualizado sobre o futebol brasileiro. Parece que parou em 2011. Os nomes de técnicos especulados assustam porque nenhum deles trazem o que o clube mais precisa neste momento: segurança.
Ao que parece tem ido atrás apenas de treinador empregado. Há desejo de pagar multa, como se o clube estivesse nadando em dinheiro. É sabido que o desgraçado do Andrés Rueda nos deixou em um buraco profundo, nunca conhecido: rebaixado para a Série B, com dívidas de curto prazo altíssimas, cotas antecipadas e elenco fragilizado.
Para piorar, deixou comissão técnica de Série C, cuja demissão já era para ter acontecido, mesmo sem a posse do novo presidente.
As primeiras movimentações mostram claramente que o dirigente está bem desatualizado sobre o futebol brasileiro
Ou seja, o Santos está perdido e o homem forte do futebol não consegue sair da mesmice de 12 anos atrás: quer um técnico que ele conheça ou tenha relações. Não é assim que funciona no futebol moderno. Clube tem que ter um perfil de treinador definido e escolhê-lo com base nesses critérios.
Thiago Carpini, do Juventude, Léo Condé, do Vitória, e Fábio Carille, no futebol japonês. Os três empregados e para sair precisam pagar multas altíssimas. Foram eles os primeiros a ser procurados por Silva.
Impensável, por exemplo, que o futuro diretor não tenha conhecimento sobre o trabalho do português Armando Evangelista. Foi responsável por levar o Arouca à sua melhor campanha no Campeonato Português na temporada anterior. Contratado pelo Goiás, fez o time do Centro-Oeste jogar melhor futebol que o Santos de Marcelo Fernandes, por exemplo, cuja folha salarial era quatro vezes maior que a dos goianos.
Já que o clube está disposto a pagar multa, por que não consultar António Oliveira, do Cuiabá. O português monta equipes consistentes, o que encaixaria com o perfil de jogos da Série B. Quanto deve ser a multa de Oliveira? Provavelmente, um quinto (1/5) da multa de Fábio Carille. Ambos com estilos bem parecidos.
Impensável, por exemplo, que o futuro diretor não tenha conhecimento sobre o trabalho do português Armando Evangelista
Temos lido notícias que também nos assustam sobre contratações. Está com jeito de que encherá o elenco de jogadores de baixo nível, ao invés de fazer aquisições pontuais, incontestáveis. Sim, há jogadores que podem chegar com esse status.
Como bem disse o perfil @cabisdowns: “Melhor deixar 4 ou 5 com salário alto do que deixar 20 ganhando 300 mil que não jogam nada”.
Sobre compras e vendas, sabe-se que todos os clubes querem Soteldo. Afinal, é um dos atacantes mais valorizados da América do Sul. O bom futebol que vem jogando pela Venezuela o coloca à frente de diversos atacantes de mais nome no cenário do continente e mundial.
Portanto, Soteldo é mercadoria de valor. O Santos não pode dar continuidade ao que Andrés Rueda implementou no clube por três anos, de entregar ativos por valor irrisório. Se o Grêmio quer Soteldo, que coloque a mão no bolso. O Santos pode ainda, além do dinheiro, exigir jogadores deles, como os atacantes Ferreirinha, ou Everton Galdino.
Soteldo é um dos atacantes mais valorizados da América do Sul
Se não, do que adianta aliviar a folha de pagamento se o elenco ficará mais fragilizado, além de perder uma das principais atrações para levar o torcedor aos estádios? Futebol é feito pelos artistas e o atacante venezuelano é um deles, quer queira, quer não.
Da mesma forma, o Santos de Marcelo Teixeira deveria se posicionar sobre todos os nomes procurados por outros clubes. Joaquim fez final de Brasileiro em alto nível, depois de início duvidoso. Jean Lucas é jogador que qualquer técnico quer no seu time. Lucas Braga da mesma forma.
Marcos Leonardo só pode sair por valores superiores a 25 milhões de euros. É nosso único ativo. Os demais, o desgraçado do Andrés Rueda mandou para a Europa em troca de bananas, “assessorado” pelo amigo Giuliano Bertolucci.
Do que adianta aliviar a folha de pagamento se o elenco ficará mais fragilizado, além de perder das principais atrações para levar o torcedor aos estádios?
O destrutivo dirigente, cujo apelido cunhamos ainda em 2022, nos levou à segunda divisão, mas é algo passageiro. E a gestão de Marcelo Teixeira precisa ter isto em mente: montar time capaz de subir sem dificuldade para retornar forte à Série A, como ocorreu com o próprio Grêmio. Dos quatro que subiram, três brigaram até a penúltima rodada contra a Série B e dois até a última.
Que Marcelo Teixeira entenda que, dessa vez, não dá para errar, sob pena de levar o Santos a um buraco ainda mais profundo do que o deixado por Rueda, cuja eleição teve apoio do próprio futuro presidente, de Fernando Silva, Quaresma, Orlando Rollo, Nabil, além dos conhecidos Walter Schalka, José Berenguer e Eduardo Vassimon (ver aqui).
(*) Torcedor do Santos, jornalista, assessor na Receita Federal, pós-graduado em Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro pela Universidade Católica de Brasília (UCB); especializando-se em Criptoativos – Rastreamento, Ilícitos Criminais e Tributários (RFB).