BRASÍLIA
Dos mais célebres juristas brasileiros das últimas décadas, Ives Gandra Martins se diz espantado com a tese de que a baderna de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, foi uma tentativa de golpe de Estado.
Em vídeo publicado quarta-feira (3) no seu perfil no Instagram, Gandra Martins afirma que nunca houve na história da humanidade golpe de Estado sem armas, sem as Forças Armadas.
“Quando examino o que ocorreu no dia 8 de janeiro, fico espantado quando se fala numa tentativa de golpe de Estado. Foi um momento de manifestação política, absolutamente sem razão. Não se sabe se houve ou não infiltrados, porque não se conheceu os vídeos, mas que terminou numa quebradeira que, absolutamente, não se justifica, como não se justificou a quebradeira na Câmara dos Deputados quando o presidente era Michel Temer, feito pelo pessoal da esquerda”, destaca.
Ele classifica de “mera narrativa” a insistência em caracterizar os atos de quase um ano atrás como golpe de Estado. Ressalta que os manifestantes “não tinham nenhuma arma, a não ser uma faca encontrada com um deles”, além de não haver nenhuma preparação militar.
Ives Gandra citou países da África onde houve golpe de Estado: Tunísia, Sudão, Burkina Faso, Guiné, Níger, Gabão, Chade, Mali e Zimbabwe. “Em todos, houve a presença das Forças Armadas. Todos com tanques na rua. Todos com soldados”, apontou, contrariando narrativa do ministro Alexandre de Moraes.
“Um grupo desarmado, de civis, sem nenhuma passagem pela polícia, fez baderna e deve pagar por protestarem de maneira irracional. Mas longe de ser tentativa de golpe de Estado” — Ives Gandra Martins, jurista
Argumenta ainda que “um grupo desarmado, de civis, sem nenhuma passagem pela polícia, fez baderna e deve pagar por protestarem de maneira irracional”, mas longe de ser tentativa de golpe de Estado, acrescentou.
Gandra reforça convicção de que não houve nada que pudesse configurar tentativa de golpe. “Não havia nenhum atentado violento ao Estado de Direito por um grupo de civis que, enfim, desarmados, não teriam força nenhuma porque não tinham apoio dos 330 mil homens que constituem as Forças Armadas do Brasil”, pondera.
Teriam de ser punidos, mas não com as penas violentas que foram punidas” — Ives Gandra sobre os baderneiros de 8 de janeiro de 202
O jurista critica as penas aplicadas a suspeitos de terem participado da quebradeira. “Pessoas que foram consideradas como golpistas sem terem força nenhuma, sem terem possibilidade nenhuma, fazendo algo rigorosamente impossível. Para mim, teriam de ser punidos, mas não com as penas violentas que foram punidas. Teriam de ser punidos como baderneiros, mas jamais com penas de 17 anos ou algo semelhante”, comentou.
Com informações do perfil @fellipebambam no Twitter