CAMPO GRANDE
Duas mulheres destemidas conseguiram uma proeza em 2023: elas foram responsáveis pela realização de 300 cursos, levando conhecimento a cerca de 3 mil pessoas da periferia de Campo Grande. Um feito e tanto. Coisa para escolas de formação técnica.
O perfil dos alunos também chama a atenção: são donas de casa, desempregados e pacientes de entidades de assistência social, como dependentes químicos, por exemplo.
O programa é coordenado pela líder social e sindical, Thaisa Lucena, cujo trabalho extrapola os limites de Campo Grande.
Thaisa é secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contag) em Brasília e uma das coordenadoras da famosa e tradicional Marcha das Margaridas, cuja manifestação ocorre também na capital federal.
A dupla se completa com a assistente social Enilda Gomes de Oliveira, responsável pelo contato com as entidades de assistência social e organização da grade de cursos. Ambas, no entanto, não se importam em pôr a mão na massa.
A correria é diária e começa logo pela manhã, quando elas vão às compras, atrás de produtos em promoção, como tomates, batatas, trigo, farinha, carnes, entre outros. “É uma luta diária”, resume Thaisa.
Entre os cursos promovidos em 2023, por exemplo, destaque para confeitaria de bolos e biscoitos, produção de pães e salgados, conserva de frutas e de hortaliças, processamento da banana, do tomate, da carne de frango e peixe, produção de embutidos e defumados.
Também foram realizados cursos sobre produção de alimentos saudáveis, beneficiamento da mandioca, produção artesanal de café, informática básica e avançada, vários estilos de artesanatos e crochês, além de manutenção em motosserra e operação de drone.
Alto custo
Para levar tantos cursos à periferia e atingir 3 mil pessoas, é preciso de recursos para fazer frente as despesas básicas, como a compra diária de produtos e a remuneração dos instrutores, além do custeio de transporte para a equipe que participa dos cursos.
Por isso, elas contam com a parceria de entidades patronais e de classe, como o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados Rurais de Mato Grosso do Sul (Fettar-MS) e sindicatos do setor.
Também apoia o projeto o deputado estadual Márcio Fernandes (MDB). Segundo Thaisa, todos eles contribuem de alguma forma para a realização dos cursos.
“Os cursos não são baratos, mas estamos conseguindo fazer muito com o apoio dessas entidades. Sem elas, não teríamos como levar conhecimento a pessoas que têm carência de quase tudo”, admite.
Peça-chave no trabalho, a assistente social Enilda Gomes de Oliveira cuida dos contatos com as mais de 60 entidades sociais.
“É um prazer grande porque todas elas abrem as portas para nossos cursos sem qualquer interesse, a não ser o de ajudar pessoas que estão atrás de conhecimento, por menor que seja, como aprender a aproveitar os alimentos, evitando desperdício, ainda mais num país como o Brasil”, descreve.
A profissional explica que os parceiros demonstram satisfação em participar do projeto. “São muitos pedidos para mais cursos, mas não temos gente suficiente para atender a todos. Dá trabalho, mas o orgulho de ver a alegria de mulheres e homens aprendendo algo novo supera qualquer dificuldade”, acrescenta.
Aumentar oferta
Thaisa Lucena afirma que o objetivo é aumentar a oferta de treinamentos para que mais gente da periferia seja atendida. Considera importante as entidades abrirem as portas porque os interessados não precisam se deslocar dos seus bairros para outras regiões, o que geraria custo com transporte.
“Muitas vezes, a pessoa está desempregada e não tem sequer dinheiro para pegar um ônibus. Daí a importância de as entidades oferecerem suas instalações para os cursos na sua região”, explica.
“As meninas”, como são chamadas pelos parceiros, estão confiantes de que o trabalho coletivo em 2024 alcançará os objetivos de todos os envolvidos no projeto.
“Sabemos que é muito difícil, mas quem sabe não ganhemos mais apoiadores para que esse trabalho frutifique mais e atenda muito mais pessoas da nossa periferia”, afirmam elas, esperançosas.
Mais fotos dos cursos em 2023