COLUNA VAPT-VUPT
Camila Jara teve ascensão meteórica na política. Com 25 anos, foi eleita vereadora em Campo Grande e dois anos depois deputada federal. Pulou degraus no Legislativo. Egressa dos movimentos do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul, transformou-se em sensação da política estadual. Ela se preparou para seguir a carreira política.
Parece, contudo, não ter se preparado para cumprir mandatos recebidos da população. Acabou de completar 29 anos, mas segue com fome deles. Com pouco mais de um ano em Brasília, Camila Jara mira a prefeitura de Campo Grande. Quer ser a candidata do PT de qualquer jeito. Comprou briga com caciques petistas no Estado, como o deputado federal Vander Loubet e o deputado estadual Zeca do PT, ex-governador.
A jovem mulher vem atropelando na reta, com pé afundado no acelerador. Parece sem foco. Onde houver disputa, ela quer estar dentro. Não demonstra disposição de aprender com os mandatos bondosamente recebidos do eleitor sul-mato-grossense. Quem come muito tem congestão alimentar. Isso vale para político sem foco.
A jovem mulher vem atropelando na reta, com pé afundado no acelerador. Parece sem foco
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MS) tem nas mãos problemão contra a jovem deputada, o qual pode resultar na cassação do seu mandato. O caso é tão grave que o patrocinador da ação, Walter Carneiro Jr, o Waltinho (PP), pode encomendar o terno para a posse na vaga da petista. Não que Mato Grosso do Sul ganhará com a saída de um e a entrada de outro. Waltinho é mais do mesmo. Nada mudará.
Mas a justiça não pode olhar por esse lado. Deve ser cega, evidentemente. Fato é que Camila Jara mergulhou tão fundo na busca por mandatos que não conseguirá voltar à superfície tão cedo. É o preço que se paga pela voluntariedade sem filtro, pela arrogância sem freio e a busca de notoriedade sem experimentar as etapas que a vida lhe oferece.
Em nota distribuída à imprensa, Camila Jara afirma que “agiu de acordo com a legislação eleitoral e reafirma sua confiança na justiça brasileira”. Se a deputada confia na justiça, certamente sabe que seu mandato está por um fio.
Camila Jara afirma que “agiu de acordo com a legislação eleitoral e reafirma sua confiança na justiça brasileira”
Não há defesa contra a desobediência a regras duras e claras. Havia limite para impulsionar material de campanha, até 30 de setembro de 2022, sexta-feira, dois dias antes da eleição no primeiro turno. A então candidata não interrompeu a propaganda nas redes sociais, avançando nos dias 1º e 2 de outubro, beneficiando-se de algo que somente ela o fez.
Destaca, na nota, que “o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE/MS) possui jurisprudência que permite o impulsionamento nas redes sociais, da mesma forma como foi realizado pela parlamentar”. Houve grave transgressão. Não há outro caminho da Justiça Eleitoral a não ser o de cassar o mandato de Jara, com ascensão de Waltinho, repita-se, mais do mesmo.
Ao justificar a aberrante transgressão das regras eleitorais, Camila afirma que “os adversários políticos devem respeitar os 54 mil votos” e que “foi a única mulher eleita para a bancada de Mato Grosso do Sul na Câmara Federal e uma das mais jovens do Brasil”.
Não há outro caminho da Justiça Eleitoral a não ser o de cassar o mandato de Jara
Nada disso serve de argumento para evitar a cassação do mandato. A menos que as empresas — chamadas pela Justiça Eleitoral para apresentar as comprovações sobre a divulgação extemporânea da publicidade eleitoral — desmintam as alegações da parte autora, no caso o suplente Walter Carneiro Jr.
Camila Jara se refestelou dos banquetes a sua frente. Encheu demais o bucho, que se esqueceu das consequências, a congestão alimentar. No caso prático, a cassação do seu mandato.
A situação da parlamentar pode piorar, com a possível inelegibilidade de oito anos, adiando por um bom tempo seu retorno à política. Às vezes, aprende-se apanhando da vida. Tabefes nos fazem voltar para o cantinho da sala a fim de aprendermos a ter foco, a olhar com mais atenção a nossa volta.
Assim como o dinheiro não aceita desaforo, receber mandatos seguidos e desprezá-los em troca de outro maior — e mais, mais e mais — também pode custar caro. Tudo que é mal digerido retorna em estado de putrefação.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público