LARISSA ARRUDA, DE CAMPO GRANDE
Servidor efetivo da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) tem até 1º de abril para reassumir o cargo de assistente jurídico. O político ainda pode solicitar a prorrogação da licença por mais um ano para cuidar de assuntos particulares, até o limite de três anos.
O MS em Brasília tentou contato com o ex-prefeito para saber se ele irá retornar à Casa, ou se solicitará a prorrogação, o que deverá ser a última, de acordo com o artigo 114, da Lei 4.091, de setembro de 2011. Trad não deu retorno.
Servidor da Assembleia Legislativa desde 1986, o político foi efetivado sem concurso público, no gabinete do pai, o então deputado estadual Nelson Trad, no mesmo período em que estudava no Rio de Janeiro.
A suspeita é de que Marquinhos tenha sido funcionário fantasma por pelo menos quatro anos, uma vez que seria impossível ele estar nos dois locais, ao mesmo tempo, separados por 1.400 quilômetros (ver aqui). O político nega.
A suspeita é de que Marquinhos tenha sido funcionário fantasma por pelo menos quatro anos
Denúncias diversas
Marquinhos Trad tem carreira política conturbada e vida pessoal envolvida em mistérios, traições e escândalos sexuais. Além da acusação de ter sido funcionário fantasma da Assembleia, o ex-prefeito se envolveu em uma série de casos sobre assédio sexual, denunciados durante a campanha eleitoral de 2022 (ver aqui).
A denúncia começou a ser investigada no Estado, mas foi barrada por decisão do Superior Tribunal de Justiça, mesmo diante de inúmeras evidências dos crimes sexuais praticados, especialmente, contra mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Alguns encontros, conforme relatos de mulheres que se disseram vítimas do político, teriam ocorrido no gabinete do prefeito de Campo Grande.
Marquinhos Trad tem carreira política conturbada e vida pessoal envolvida em mistérios, traições e escândalos sexuais
Cascalhos de Areia
Em junho de 2023, o nome de Trad apareceu como principal beneficiário de um esquema de desvio de dinheiro da Prefeitura de Campo Grande, comandado pelo empresário André Luiz dos Santos, o André Patrola. Parte do valor desviado teria sido usada para comprar imóveis ao ex-prefeito e familiares, segundo as investigações (ver aqui).
A Operação Cascalhos de Areia apurou que a organização criminosa praticou crimes de peculato, corrupção, fraude em licitação e lavagem de dinheiro em contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário para a Prefeitura de Campo Grande, sob o comando da ALS Transportes, de propriedade de André Patrola.
Parte do valor desviado teria sido usada para comprar imóveis ao ex-prefeito
A empreiteira teria sido beneficiada com diversos contratos, no valor de R$ 300 milhões, principalmente a partir de 2017, quando Trad assumiu a prefeitura, onde permaneceu até março de 2022.
Cabos eleitorais
Durante os cinco anos como prefeito de Campo Grande (2017-2022), Marquinhos criou estratégias ilegais para empregar cabos eleitorais, por meio do Proinc, programa social criado para atender a pessoas à margem da sociedade (ver aqui).
Nesse período, os gastos com a folha de pessoal ultrapassarem os limites constitucionais, colocando em risco a situação financeira e fiscal do município. Em 2021, por exemplo, a Prefeitura de Campo Grande esteve à beira da insolvência financeira por ter gastado até 70% da receita corrente líquida com funcionalismo (ver aqui).
Em 2021, a Prefeitura de Campo Grande esteve à beira da insolvência por ter gastado até 70% da receita corrente líquida com funcionalismo
Em 2023, foi descoberto novo rombo na gestão de Marquinhos, no valor de R$ 386 milhões: a folha secreta. Inspeção extraordinária do Tribunal de Contas do Estado (TCE) constatou diversas irregularidades nas folhas de pagamento da prefeitura em 2022 (ver aqui).
Caos mantido
Os problemas constatados na gestão de Trad se mantiveram com a sucessora Adriane Lopes (PP), que disputará a reeleição em outubro, apoiada pela senadora Tereza Cristina, presidente regional da legenda.
Lopes não editou medidas para cortar despesas com pessoal, uma vez que o município dispõe de pouco menos de 2% em recursos próprios para investir em saúde, educação e infraestrutura, por exemplo.
Os problemas constatados na gestão de Trad se mantiveram com a sucessora Adriane Lopes
A prefeita ainda trabalha para legalizar a folha secreta, escondendo as graves irregularidades constatadas a fim de evitar punições com base na Lei de Responsabilidade Fiscal, como improbidade administrativa.