COLUNA VAPT-VUPT
As possíveis pré-candidaturas do deputado federal Beto Pereira (PSDB) e da prefeita Adriane Lopes (PP) à Prefeitura de Campo Grande teriam dois padrinhos de grande estatura política. Beto teria a bênção do ex-governador Reinaldo Azambuja, presidente do PSDB no Estado; Já Lopes chegaria ao pleito com apoio da senadora Tereza Cristina, presidente estadual do Progressistas.
Em contrapartida a apoios tão significativos, o que ambos têm a oferecer ao eleitor campo-grandense? Em uma análise mais apurada, Beto e Adriane têm poucos atributos para merecerem tanto empenho dos padrinhos. Reinaldo ainda não desistiu da pré-candidatura do deputado; Tereza não tem como corrigir eventual escolha errada. Foi ela quem convidou a prefeita para se filiar ao PP.
Reinaldo é político equilibrado. Não há notícia de que tenha sido flagrado com destemperos verbais. Demonstrou autocontrole nos momentos mais difíceis nos primeiros dois anos do seu governo. Nesse período, o padrinho de Beto Pereira precisou tomar medidas amargas para dar rumo a Mato Grosso do Sul, as quais vieram acompanhadas de programas de incentivo à geração de emprego, com as políticas de atração de investimento.
Reinaldo é político equilibrado. Não há notícia de que tenha sido flagrado com destemperos verbais
Já Tereza Cristina tem perfil semelhante. A paciência dela esteve à prova por diversas vezes quando foi ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro. Nesse tempo, enfrentou debates sobre temas ácidos, como a liberação de novos agrotóxicos no Brasil. Confrontou-se com radicais de setores que veem o agronegócio como mal maior do país.
Mas há uma questão objetiva posta: Beto Pereira não é Eduardo Riedel; Adriane Lopes não é Tereza Cristina. Em relação a Pereira, alguns entendem que há similaridade entre sua pré-candidatura e a de Eduardo Riedel em 2022. As diferenças, contudo, são absurdas. Não dá para comparar.
Riedel é egresso da iniciativa privada onde esteve por mais de 30 anos. Outsider de sucesso. Migrou para o setor público pelas mãos do governador Reinaldo Azambuja, em 2015. Foram oito anos como braço direito do tucano, período em que se informou sobre o funcionamento da máquina pública, cujos conhecimentos aplicou em sua candidatura ao Governo em 2022.
Na campanha eleitoral, Eduardo Riedel mostrou por que colocou seu nome à disposição do eleitorado. Sobrou diante de adversários hesitantes. O padrinho Reinaldo sorriu.
O que Beto Pereira tem a oferecer ao eleitor campo-grandense? O fato de ter sido prefeito da minúscula Terenos, no início deste século? Ou por ter comandado a Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul? Ou em razão dos dois mandatos como deputado estadual, entre 2014 e 2018?
Mas há uma questão objetiva posta: Beto Pereira não é Eduardo Riedel; Adriane Lopes não é Tereza Cristina
Atualmente, é deputado federal reeleito. A única aparição de destaque do parlamentar, nacionalmente, ocorreu em cima de fato lamentável. Em março de 2023, Beto viajou a Marrocos em “missão oficial”, autorizada pela Câmara, para assistir ao jogo do Flamengo na semifinal do Mundial de Clubes. Teve a companhia do filho. Para não ter os dias de falta descontados do salário, optou por mentir.
Pego na mentira, afirmou que houve mal-entendido. Não, não houve. O deputado quis enganar a Câmara dos Deputados e o eleitor. Se não fosse desmascarado, a mentira teria sobrevivido. Quem se comporta dessa forma não pode ter a bênção da cúpula do partido para disputar eleição em uma capital.
Beto também se bandeou para o lado do governo Lula, ao qual tem demonstrado fidelidade em votações na Câmara dos Deputados. Faz companhia a outros dois tucanos, Geraldo Resende e Dagoberto Nogueira. Somados aos petistas Vander Loubet e Camila Jara, dão a Lula cinco dos oito votos da bancada de Mato Grosso do Sul na Casa.
Beto também se bandeou para o lado do governo Lula, ao qual tem demonstrado fidelidade em votações na Câmara dos Deputados
Em relação à Adriane Lopes, os problemas não são poucos. A prefeita não oferece condições mínimas para pedir quatro anos aos campo-grandenses. Ela teve todas as condições para premiar a cidade com gestão diferente em relação à de Marquinhos Trad (PSD), de quem recebeu a prefeitura em abril de 2022.
Adriane deu de ombro a essa possibilidade. Preferiu repetir a fórmula esbanjadora e ineficiente dos cinco anos de Trad a implementar choque de gestão. Deveria ter reduzido as despesas com a folha de pagamento do funcionalismo, na qual foram descobertas irregularidades gravíssimas, passíveis de investigação na esfera criminal. Manteve a falta de transparência e uma série de problemas no gerenciamento de obras e projetos.
Nesse período, Lopes se mostrou frágil, insegura e mal assessorada. Piorou o que já era terrivelmente desastroso. Para merecer mais quatro anos, a prefeita teria que ter dado demonstração de altivez, competência e desembaraço político. Falhou em todos os sentidos.
Adriane preferiu repetir a fórmula esbanjadora e ineficiente dos cinco anos de Trad a implementar choque de gestão
A quem, então, o eleitor deve entregar a administração de Campo Grande? A resposta é difícil, mas um fato é claro: o eleitorado tem de eleger gestor com perfil diferente de todos os nomes que têm aparecido em pesquisas, a maioria delas “mexida”, termo usado, privadamente, para se referir a levantamento alterado para atender a interesses criminosos.
Conclui-se que Beto Pereira não dispõe de qualidades suficientes para se apresentar como pré-candidato do PSDB, partido que tem primado por candidaturas tecnicamente confiáveis. Já Adriane é repetição cruel da gestão de Marquinhos Trad.
Há que se dar tempo para que todos os nomes pré-lançados sejam maturados. Campo Grande não suportará mais uma gestão desastrosa, cujo mal vem se repetindo desde Alcides Bernal, passando por Gilmar Olarte, chegando a Trad e desembocando em Adriane Lopes.
Campo Grande merece mais. Há vagas para pré-candidatos mais bem preparados.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público