COLUNA VAPT-VUPT
A política tem o mau (ou bom) hábito de punir aquele que não monta em cavalo que passa encilhado. As oportunidades não podem ser desperdiçadas, sob o risco de elas não surgirem mais, o que ocorre na maioria dos casos.
A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, pré-candidata à reeleição pelo PP, parece ter sido picada pelo mosquito transmissor de realidade, justo no ano em que ela colocará sua gestão à prova do eleitor.
Em entrevista recente ao jornal Correio do Estado e à Rádio CBN, a prefeita esboçou dividir o fracasso de sua gestão com o antecessor Marquinhos Trad (PDT) e o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB). A Trad, Adriane atribuiu o inchaço da máquina com nomeações políticas, o que resultou em estouro do limite constitucional da Lei de Responsabilidade Fiscal em relação a despesas com pessoal.
A Reinaldo Azambuja, ela empurrou a responsabilidade pela redução dos repasses na distribuição do bolo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Na época, o então secretário estadual de Fazenda rebateu o prefeito Marquinhos Trad e sugeriu que o gestor estudasse mais o assunto porque, segundo ele, os repasses são feitos com base na legislação (ver aqui).
Das duas situações, a primeira é real, incontestável, mas deveria ter sido exposta logo no início do mandato dela, iniciado em 1º de abril de 2022. Não resta dúvida de que Adriane Lopes herdou a prefeitura em meio ao caos administrativo e financeiro, conforme publicado em diversas reportagens do MS em Brasília, especialmente sobre o descontrole dos gastos com a folha do funcionalismo e custeio da máquina pública (ver aqui, aqui e aqui).
Não resta dúvida de que Adriane Lopes herdou a prefeitura em meio ao caos administrativo e financeiro
Dias depois de ela ter assumido o comando de Campo Grande, o site cobrou que a prefeita editasse medidas, apontando que o município tinha a necessidade de passar por choque de gestão (ver aqui).
Além da demissão de milhares de servidores comissionados, era preciso suspender programas sociais, sobre os quais pesavam graves suspeitas de que serviam para empregar cabos eleitorais de Marquinhos Trad, o que ficou comprovado mais adiante (ver aqui).
Era necessário ainda fazer radiografia de “corpo inteiro” sobre obras em andamento e paralisadas pela ineficiente gestão Trad. Coincidentemente, ano depois, foi deflagrada a Operação Cascalhos de Areia que investiga o desvio de recursos públicos da Prefeitura de Campo Grande, na administração de Marquinhos Trad (ver aqui).
Parte do dinheiro desviado, segundo apuração do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil, era usada na compra de imóveis para o então prefeito (ver aqui).
Era necessário ainda fazer radiografia de “corpo inteiro” em relação a obras em andamento e paralisadas pela ineficiente gestão Trad
Nesse tempo todo, a prefeita negligenciou os problemas gravíssimos na saúde, como a superlotação nas unidades de atendimento, falta de médicos e remédios, tal qual como no mandato de Trad, de janeiro de 2017 a março de 2022.
Adriane Lopes não entregou a cabeça de Trad numa bandeja porque, aparentemente, havia acertado com ele para que a sujeira fosse jogada para debaixo do tapete. Caso contrário, comprometeria a estratégia de Trad, que pretendia ir ao segundo turno na disputa pelo Governo do Estado em 2022. Terminou em sexto lugar, mas porque se envolveu em uma série de denúncias sexuais.
Fato é que Adriane viu o cavalo passar encilhado, achando que ele pudesse retornar. Ali era momento de tomar medidas as quais gritavam. Se não fosse logo no primeiro mês de mandato, que fosse depois do segundo turno. Também não o fez. Poderia, igualmente, ter editado medidas de austeridade fiscal no ano seguinte (ver aqui). Que nada!
Adriane Lopes não entregou a cabeça de Trad numa bandeja porque, aparentemente, havia acertado com ele para que a sujeira fosse jogada para debaixo do tapete
Adriane, então, resolveu falar em abril de 2024, a seis meses do primeiro turno das eleições deste ano. Tarde demais. Levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado semana passada pelo MS em Brasília, mostra que a administração dela é reprovada por 53,5% dos campo-grandenses. Registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número 23.600/2019, a pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 22 de abril.
Não há mágica que coloque a prefeita ao menos no segundo turno das próximas eleições. Nem o factoide sobre a construção de um hospital do município, cuja capacidade de investimento próprio está esgotada. Muito menos medidas extemporâneas. O eleitor sabe que Adriane Lopes terá tido 2 anos e 9 meses para entregar a cidade minimamente equilibrada, administrativa e financeiramente. E não o fez.
Some-se a isso o fantasma de Marquinhos Trad a assombrá-la nas eleições. Por cinco anos, ela esteve ao lado do então prefeito e, fosse menos subserviente, poderia ter feito tudo diferente. Afinal, conviveu com quem tratava com desdém as boas práticas na gestão pública. Administração populista começa bem, mas o final é sempre o mesmo: dívidas, denúncias de desvio de recursos e descontrole das contas públicas.
Não há mágica que coloque a prefeita ao menos no segundo turno das próximas eleições
O epitáfio da gestão Adriane Lopes terá poucas palavras porque ela escolheu proteger Marquinhos Trad por um bom tempo, ao invés de ter tomado decisões em defesa de 900 mil habitantes, com os quais assumiu compromisso de bem administrar a cidade.
Quem tomar posse em janeiro de 2025 terá que fazer o que Marquinhos Trad não fez em cinco anos e três meses e Adriane Lopes em dois anos e nove meses. Terão sido oito anos de agruras. Não há marketing eficiente que crie outra narrativa. Quem viver, verá.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público