BRUNNA MARIA, DE CAMPO GRANDE
Moradores e comerciantes instalados na região da antiga rodoviária, no Bairro Amambaí, em Campo Grande, reclamam do movimento intenso de usuários de drogas 24 horas por dia. Nos últimos dias, o MS em Brasília recebeu denúncias de pessoas que residem nas proximidades, as quais relatam clima de insegurança na região.
“Não temos paz. É todo dia, de manhã, à tarde, à noite, de madrugada. A gente se sente prisioneiro em nossa própria casa. Não temos segurança nem para sair na calçada de casa”. O desabafo é de Marcos Antônio Mendonça, 49 anos, morador da Rua Alan Kardec, uma quadra acima da antiga rodoviária.
De acordo com o morador, sua família vive presa em casa e só sai de carro porque não há policiamento nem a presença da Prefeitura de Campo Grande.
“Não há política de assistência social para resgatar essas pessoas e levá-las para local adequado. A gente fica se perguntando: por que a prefeita não toma providências? O que há de tão complicado que impede o poder público de agir pelo bem-estar de quem paga seu IPTU em dia e, sobretudo, para tentar recuperar essas vidas?”, indaga Mendonça.
“Não há política de assistência social para resgatar essas pessoas e levá-las para local adequado. A gente fica se perguntando: por que a prefeita não toma providências?” — Marcos Antônio Mendonça, morador
Também moradora da Alan Kardec, a bancária Ana Carolina Souza, 41 anos, afirma que, com as obras na antiga rodoviária, os usuários começaram a frequentar as ruas próximas à casa onde ela mora com o marido e duas filhas.
“Estamos há dois anos sem paz. Pagamos IPTU caríssimo para não ter nada em troca. A prefeitura é ausente. Não se vê um funcionário, um policial, um carro do município procurando resolver o problema, que é muito grave”, diz.
Afasta hóspedes
O MS em Brasília também recebeu reclamações de hóspedes de hotéis na região, como Adriana Gomes, 39 anos, residente em Cassilândia. Ela acompanha parente, que está fazendo tratamento de saúde na capital.
“Eu mesma não saio na rua. Peço Uber e entro rapidinho no carro. Quando chego, não fico parada porque há risco de a gente sofrer algum tipo de importunação e até mesmo ser roubada ou ferida de alguma forma”, explica.
“Eu mesma não saio na rua. Peço Uber e entro rapidinho no carro” — Adriana Gomes, hóspede de hotel na região
Paulo Dias, 58 anos, é gerente de um dos hotéis nas proximidades da antiga rodoviária. Afirma que a presença dos usuários de drogas afasta potenciais clientes do estabelecimento.
“Alguns preferem pagar mais caro por uma hospedagem em outros locais do que ficar aqui na região. É muito ruim tudo isso porque afeta o faturamento do hotel, que gera dezenas de empregos”, acrescenta.
A reportagem do MS em Brasília caminhou por cinco ruas da região – Dom Aquino, Barão do Rio Branco, Vasconcelos Fernandes, Joaquim Nabuco e Alan Kardec — e encontrou diversos grupos de dependentes químicos, a maioria dormindo sob efeito de droga.
“Isso que você está vendo é todo dia. Ficam jogados aqui, entulhados como lixo e a gente não vê o município agir. Nós não aguentamos mais. Além do medo de sofrer algum problema, é desumano ver essas pessoas sem se alimentarem, no frio, debaixo de sol escaldante e de chuva”, descreve Fátima Seixas, 63 anos, que percebeu a presença da reportagem no local e resolveu falar.
“Além do medo de sofrer algum problema, é desumano ver essas pessoas sem se alimentarem, no frio, debaixo de sol escaldante e de chuva” — Fátima Seixas, moradora
Inimigo da sociedade
Em entrevista ao Campo Grande News nessa semana, o delegado titular de Pronto Atendimento Comunitário, Rodrigo Camapum, afirmou que o crack é o maior inimigo da sociedade. Segundo ele, os casos de furtos na região são cometidos, em geral, por usuários de drogas para manter o vício.
O policial se diz confiante de que usuários de drogas podem ser “recuperados”, desde que o poder público invista em tratamento.
“Acredito que o crack seja um dos maiores inimigos que temos na sociedade, porque percebemos que a maior quantidade de registro que temos é o de furto. Se conseguirmos realmente amenizar esse problema do crack reduziríamos muito os crimes e traríamos mais segurança para a sociedade. Acredito que, com políticas de prevenção ao uso de drogas e até mesmo a retirada dessas pessoas do vício, vamos reduzir furtos, roubos, receptação, tráfico de droga”, relatou o titular em podcast do site.
Camapum explica que o usuário de crack conduzido para a delegacia não tem autodeterminação. “Percebo isso quando faço o interrogatório de um indivíduo que acabou de furtar um fio, que realmente está drogado ou em crise de abstinência. Juridicamente não deveria responder pelo crime de furto, já que ele não tem essa autodeterminação, ele precisa ser internado, o Estado precisa cuidar dele, ele é um doente”, expõe.
“Acredito que o crack seja um dos maiores inimigos que temos na sociedade, porque percebemos que a maior quantidade de registro que temos é o de furto” — Delegado Rodrigo Camapum
O delegado adota método de trabalho humanizado porque acredita na recuperação dos dependentes químicos. “Quando tratamos um usuário, após sair desse vício ele é um indivíduo que vai contribuir para nossa sociedade, nossa sociedade progride com união. Enquanto estivermos políticas que permitem o uso e abuso desse tipo de droga, nossa sociedade terá uma coisa que freia esse progresso”, declarou.
Prefeitura
O MS em Brasília encaminhou pedido de explicações para a Prefeitura de Campo Grande, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço está aberto para manifestação da prefeita Adriane Lopes.
*Nomes de moradores, gerente e hóspede citados na reportagem são fictícios para resguardar a identidade das fontes