BRUNNA SALVINO, DE CAMPO GRANDE
Acusado de ter tramado o próprio atentado em 16 de fevereiro de 2020, o ex-deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Trutis, vai disputar uma das 29 vagas de vereador pelo PL em Campo Grande nas próximas eleições.
A presença do ex-parlamentar na disputa ocorre somente porque o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul está demorando para julgar Trutis, réu por ter forjado o atentado a que teria sido vítima há mais de quatro anos.
O político estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas perdeu o foro privilegiado ao ser derrotado na tentativa de reeleição em 2022. Em fevereiro de 2023, o STF encaminhou o processo ao TJ-MS, onde tramita em segredo de justiça.
Em Brasília, contudo, a ação era pública. O Código de Processo Civil determina que os atos processuais devem ser públicos, além de haver entendimento do próprio Supremo sobre a tramitação pública de processos.
O caso
Em 16 de fevereiro de 2020, o então deputado Loester Trutis viajava de Campo Grande para Sidrolândia, quando o carro em que estava teria sido atingido por vários disparos de arma de fogo. O caso ganhou repercussão porque o então parlamentar era defensor do porte e posse de armas, além de membro da chamada “bancada da bala” na Câmara dos Deputados.
Durante as investigações, a Polícia Federal em Mato Grosso do Sul concluiu que o crime teria sido forjado por Trutis, com ajuda do seu então chefe de gabinete Ciro Nogueira Fidelis, que também responde ao mesmo processo.
A polícia chegou a essa conclusão após exaustivas investigações, além de análises do rastreador do carro, câmeras espalhadas pela BR-060 e dezenas de laudos periciais. Foi feito amplo trabalho para descobrir mandante, autor e motivação da suposta tentativa de assassinato do político.
No inquérito, a PF aponta que o assessor do deputado à época entregou o celular para ser periciado, mas mudou a senha em seguida. Houve várias de tentativas de Trutis e do seu assessor para dificultar as investigações. O caso foi classificado pela policia como “tragicomédia com dois atores: o deputado e seu motorista, Ciro Fidélis”.
Entre as evidências de que se tratou de farsa estão disparos de pistola Glock 9 mm de fora para dentro do Corolla e disparos de pistola Taurus de dentro para fora do carro. Para a PF, os tiros nas duas direções serviram para justificar a versão do ex-deputado, de que ele revidou ao ataque e por isso, sobreviveu. Mas, de acordo com análise técnica, seria impossível Trutis sair ileso do atentado.
Em 12 de novembro de 2020, a ministra Rosa Weber, do STF, autorizou a Operação Tracker contra o então deputado Loester Trutis nos endereços em Campo Grande e Brasília. Trutis chegou a ficar preso por algumas horas, mas a ministra relaxou a prisão em razão do foro privilegiado do acusado na ocasião.
Em agosto de 2022, por 11 a 0, o STF tornou réu o ex-deputado por comunicação falsa de crime, porte ilegal e disparo de arma de fogo. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República.