CAMPO GRANDE
O ex-deputado federal Loester Trutis (PL) foi condenado a pagar R$ 15 mil por danos morais ao delegado de Polícia Federal Glauber Fonseca de Carvalho Araújo. A decisão é do juiz Giuliano Máximo Martins, da 16ª Vara Cível de Campo Grande. Trutis pode recorrer da sentença.
Pela decisão, o valor da indenização deverá ser corrigido monetariamente pelo IGPM/FGV, desde a data da sentença, e de juros de mora simples de 1% ao mês a contar da publicação dos ataques de Trutis ao delegado, que era responsável pelas investigações sobre o suposto atentado contra o então deputado federal, em 16 de fevereiro de 2020.
O juiz decidiu ainda que o ex-deputado deverá pagar os honorários de sucumbência de 10% sobre o valor da condenação.
A ação
O delegado Glauber Fonseca de Carvalho Araújo acionou o então deputado federal em março de 2022 por acusações e ofensas que vinha sofrendo desde a divulgação do resultado das investigações sobre o falso atentado.
Carvalho comandou a apuração do caso, supostamente ocorrido em 16 de fevereiro de 2020. Trutis viajava de Campo Grande para Sidrolândia na companhia do seu ex-chefe de gabinete Ciro Nogueira Fidélis. O carro em que estavam foi atingido por vários disparos de arma de fogo.
Após oito meses de apuração, a PF concluiu que a tentativa de assassinato foi armada pelo próprio deputado com ajuda do assessor. Ambos respondem a processo no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, cuja ação tramita em segredo de justiça, por falsa comunicação de crime, disparo de arma de fogo e porte ilegal de arma.
Após oito meses de apuração, a PF concluiu que a tentativa de assassinato foi armada pelo próprio deputado com ajuda do assessor
“Safado” e “vagabundo”
No pedido de danos morais, o delegado Glauber Fonseca citou uma série de notícias e postagens nas redes sociais de Loester Trutis com acusações pessoais contra ele. Inclusive matérias publicadas pelo MS em Brasília, entre elas a que denunciou o deputado pelo uso de site criado por ele para atacar a Instituição Polícia Federal e o delegado responsável pelo caso (ver aqui).
Os ataques de Trutis começaram depois da Operação Tracker, deflagrada pela Polícia Federal em 12 de novembro de 2020, contra o então parlamentar, assessores e irmãos dele. Na ação, foram apreendidos armas, munições e dinheiro.
Os ataques de Trutis começaram depois da Operação Tracker, deflagrada pela Polícia Federal em 12 de novembro de 2020
O parlamentar chegou a ser levado para a Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande, mas foi liberado por decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal.
“O Sr. Loester Trutis passou a atacar, direta e claramente, a pessoa do Delegado de Polícia Federal, o que pode ser constatado em reportagem publicada, em 18 de julho de 2020, no site G1”, descreveu a defesa, citando trechos da reportagem em que Trutis diz que o delegado não tinha interesse no esclarecimento do caso, “com investigação cheia de erros grosseiros, o que leva a acreditar que o profissional tinha interesse em proteger o verdadeiro culpado”.
A defesa segue citando as acusações diretas ao delegado. No Facebook, no “Diário de bordo”, de 18 de junho de 2021, Trutis chama Carvalho Araújo de “safado” e “fruta podre”:
“Tentativa do delegado militante, safado, da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul. Pessoal, nada contra a Polícia Federal, tem serviços prestados excelentes ao nosso país, mas como toda instituição possui suas frutas podres. Esse delegado safado já está com promessa de ir pra Brasília. O cara nunca prendeu nem o pinto no zíper lá em Ponta Porã…”
“Esse delegado safado já está com promessa de ir pra Brasília. O cara nunca prendeu nem o pinto no zíper lá em Ponta Porã…”
No processo, a defesa citou ainda live denominada “A verdade sobre o atentado”, transmitida pelo Facebook em 26 de novembro de 2021, no perfil “Blog do Alípio Neto”, com alcance 3,8 mil visualizações. Nesse dia, Trutis atacou duramente o delegado, a quem chamou de “vagabundo”, “pau no c*”, “idiota”, “corrupto” e que “destruiu provas de um atentado”.
Outro lado
O MS em Brasília procurou o ex-deputado, mas não houve retorno até o fechamento deste material. O espaço segue aberto para manifestação de Trutis. A reportagem também não localizou o delegado Glauber Fonseca para comentar a decisão.