POR ALEXSANDRO NOGUEIRA (*)
Não sou obcecado pela ideia de felicidade, porque esse tipo de percepção é uma tortura digna das mentes mais infantis. Ao mesmo tempo, sou um entusiasta da ideia de que a vida precisa ser interessante, principalmente, no cultivo dos relacionamentos com familiares e amigos, além da satisfação genuína no trabalho que realizamos.
Pascal Bruckner, um filósofo francês da corrente “Nouveaux Philosophes”, em seu livro “A euforia perpétua” defende o argumento acima e acrescenta mais outras questões preocupantes. Em uma delas, ironiza o comportamento contemporâneo no qual as pessoas se acham no direito de serem felizes, como se alegria fosse um sentimento permanente e não uma sensação transitória.
O escritor não só refuta essa tese como faz um alerta sobre o uso excessivo de antidepressivos para os frustrados, gente que espera passar ilesa pela vida, como se houvesse uma bolha de proteção contra as dores do mundo.
Em outra abordagem, Bruckner faz uma analogia entre o vício das selfies e a curiosa máscara da vergonha, um artefato usado nas sessões de tortura germânicas do século XVI, onde a vítima era chicoteada, mas obrigada a usar uma máscara com um sorriso no rosto, escondendo a lágrima e a dor interior.
O escritor francês faz uma comparação e apresenta reflexão angustiante sobre a fantasia das fotos nas redes sociais, como uma versão moderna da máscara da vergonha alemã.
Bruckner remete o leitor a década de 1940 e afirma que até metade do século XX as pessoas não tinham a obrigação de sorrir nas fotografias. A coisa só mudou de figura a partir do nascimento da Polaroid, em 1948, quando um empresário egresso da universidade de Harvard resolveu agradar a filha curiosa. Nascia o Land Model 95 e, ali, germinou a semente dos primeiros instagramáveis. O resto é história.
Com o surgimento da Polaroid e a globalização da fotografia instantânea, a pressão para exibir uma imagem de felicidade e perfeição cresceu e expandiu em todos os continentes. Com a era digital, amplificou-se ainda mais essa tendência, transformando o que antes era um mero capricho em uma expectativa quase universal.
Bruckner remete o leitor a década de 1940 e afirma que até metade do século XX as pessoas não tinham a obrigação de sorrir nas fotografias
O culto à felicidade eterna e a necessidade de compartilhar momentos aparentemente perfeitos nos aplicativos criaram uma onda onde a autenticidade e a vulnerabilidade são frequentemente sacrificadas em favor de uma fachada impecável e fake. A mensagem subliminar é angustiante: para ser aceito, é necessário sentir-se feliz, mas também projetar essa felicidade para o mundo.
No entanto, Bruckner nos convida a viver os momentos imperfeitos e das experiências ruins como genuínas. A verdadeira riqueza não reside em uma incessante exibição de empolgação e prazer, mas na capacidade de encontrar significado e profundidade nas relações humanas e na realização pessoal, independentemente das aparências externas.
Quando aceitamos nossa finitude e a complexidade da nossa experiência humana e emocional, podemos ficar mais leve, longe das exigências superficiais e das pressões impostas por uma sociedade obcecada pela perfeição.
(*) É jornalista em Campo Grande
Contato: artigotexto@gmail.com