COLUNA VAPT-VUPT
Ninguém pode se dar ao direito de tratar de questões psicológicas de determinada pessoa se não houver laudos correspondentes para sustentar teses. Além disso, é preciso que tal análise seja feita por especialistas e não, digamos, por articulistas e editorialistas que queiram opinar sobre a personalidade alheia.
Quanto a isso, não há dúvida. No entanto, em uma análise superficial, dentro de um contexto político, em plena campanha eleitoral, é possível concluir que certo candidato ou candidata tem gosto pelo vitimismo, estigmatização e marginalização, graças a uma série de fatos mencionados por eles próprios.
É o caso da candidata à prefeita pelo União Brasil em Campo Grande, Rose Modesto, cujas narrativas de autovitimização já vêm de outras campanhas. Ao apoio do eleitor, ela oferece sua história de “vida sofrida”, como se fosse caso único em um país que esteve sob o jugo português por mais de 300 anos. Única sobrevivente de um navio que naufragou, cheio de pessoas da classe baixa.
É o caso da candidata à prefeita pelo União Brasil em Campo Grande, Rose Modesto, cujas narrativas de autovitimização já vêm de outras campanhas
Em 2022, quando disputou o Governo do Estado, ela abriu um baú de narrativas, como ir à Polícia Federal e gravar vídeo se colocando como vítima de fakes news. Na atual eleição, cena idêntica se repetiu. Só trocou de camisa. Como se fosse a única a enfrentar a praga das notícias falsas.
Além de repetir enfadonhamente que morou em uma casa de madeira, dia desses contou sobre atrasos no pagamento de mensalidades da faculdade que cursava. O que a salvou, segundo ela, foi o fato de o padre diretor da Universidade ter descoberto que ela tocava violão. Quitou o débito animando as missas da entidade.
Brasil, Mato Grosso do Sul e Campo Grande estão cheios de exemplos desse tipo. Não somos uma nação de privilegiados e há grande chance de encontrar uma Rose a cada duas pessoas abordadas aleatoriamente nas ruas.
Em outra narrativa de “cortar o coração”, cita que está sozinha na disputa, sem partidos aliados. Propositalmente, deixa de mencionar o apoio do PDT de Marquinhos Trad e do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, no governo Lula. Mais: a campanha dela está com a burra cheia: R$ 9,1 milhões para torrar no primeiro turno. Em eventual segundo turno, vem mais porque o União é uma das agremiações que mais recebeu recursos do fundo eleitoral.
A campanha de Rose está com a burra cheia: R$ 9,1 milhões para torrar no primeiro turno
Vai para década e meia que Rose não dá aulas, sua profissão, de fato. Mas, recorrentemente, alimenta-se de narrativas nas quais ela é a vítima. É, contudo, privilegiada por não precisar exercer mais a atividade porque a política a sustenta desde 2008, quando se elegeu vereadora pela primeira vez.
Reelegeu-se quatro anos depois, quando esteve envolvida nos tristes episódios na gestão de Alcides Bernal e na de Gilmar Olarte. No PSDB, virou vice-governadora, em seguida deputada federal e, por último, chefe da Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste, a Sudeco, no governo Lula.
Nos últimos anos, Rose teve altos salários, que variaram de R$ 19 mil como vereadora, R$ 36 mil como vice-governadora a R$ 44 mil como deputada federal. Convenhamos: rendimentos excelentes para uma mulher solteira, sem filhos. Sem contar a cota extra, geralmente superior ao salário de parlamentar.
Acrescente-se que Rose é irmã do deputado estadual Rinaldo Modesto (Pode). Foi vereador em Campo Grande e está no seu quinto mandato seguido na Assembleia Legislativa. Caminha para 18 anos como deputado estadual. São 213 meses com salário de R$ 33 mil, totalizando mais de R$ 7 milhões.
Tudo o que essa família não deve é se apossar de narrativas vitimistas. Os irmãos não são — nem de longe — membros de uma sociedade desigual, marginalizada e estigmatizada.
Nos últimos anos, Rose teve altos salários, que variaram de R$ 19 mil como vereadora, R$ 36 mil como vice-governadora a R$ 44 mil como deputada federal
É provável, contudo, que essas narrativas já a tenham engolido. Tanto que ela não consegue fazer campanha sem apelar para o “coitadismo”, da mulher que emergiu da lama para chegar ‘tão longe’, situação, repita-se, comum neste país.
O marketing dela tem valorizado mais sua suposta humildade do que a capacidade de ela ser eleita e apresentar, de fato, projeto viável para resolver os diversos problemas de Campo Grande.
Até agora, na campanha, vê-se mais peças publicitárias a vender uma candidata “coitada”, quando a verdade incontestável revela que ela não tem visto sua conta bancária negativa há pelo menos 17 anos, graças a cargos públicos.
Ô, coitada!
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público