COLUNA VAPT-VUPT (*)
O debate promovido quinta-feira (3) pela TV Morena, afiliada da TV Globo em Mato Grosso do Sul, pode ter análises variadas sobre quem perdeu, ou quem ganhou. A única certeza é que o apoio do ex-prefeito Marquinhos Trad (PDT) virou dor-de-cabeça para Rose Modesto (União Brasil) e Adriane Lopes (PP) a dois dias das eleições.
Elas tiveram ao menos cinco minutos empurrando Trad para a outra. Nem Rose nem Adriane queria deixar à mostra as digitais do ex-prefeito em suas campanhas. As gestões de Trad simplesmente implodiram indicadores econômicos e sociais de Campo Grande, entre 2017 e março de 2022, quando ele deixou a prefeitura para disputar o Governo do Estado. Acabou em sexto lugar, à frente apenas do candidato do PSOL à época.
Os motivos para Rose Modesto se esquivar do apoio estão bem visíveis, registrados no Tribunal Regional Eleitoral. O PDT, partido aliado do União Brasil, abriga atualmente o ex-prefeito, figura de maior expressão da agremiação no Estado. Nacionalmente, é comandada por Carlos Lupi, que está licenciado da direção por ter virado ministro da Previdência no governo Lula.
Não há ligação maior que ter Marquinhos Trad, digamos, eleito vereador por uma sigla que formou a coligação “Unidos por Campo Grande” junto com o União Brasil. O ex-prefeito tem fome por cargo público. Enxotado da disputa de governador, dois anos depois quer ser vereador, sabe-se lá com que intenções. Reciclar ideias, ações e comportamentos não têm espaço na essência de Trad.
Nem Rose nem Adriane queria deixar à mostra as digitais do ex-prefeito em suas campanhas
Já os motivos que levam Adriane Lopes a correr de Marquinhos como o diabo da cruz é simplesmente porque ela esteve com ele por cinco anos e três meses como seu vice. Ontem, esquivou-se de forma veemente de ser aliada de Trad, mas o discurso de posse no cargo de prefeita, em 1° de abril de 2022, teve uma linha afável e de “eterna gratidão” ao prefeito que deixava para si o segundo cargo público de maior expressão em Mato Grosso do Sul, atrás somente o de governador.
Não há argumento que desminta: Rose e Adriane ‘se estapearam’ por cinco minutos para não saírem do debate com Marquinhos a tiracolo. Ele foi “chutado” para todos os lados nos estúdios da TV Morena. Elas não o queriam ali, ao vivo, diante de milhares de eleitores, ladeando-as.
Em relação ao debate, Beto Pereira começou inseguro, nervoso, trocando palavras, incomodado por ser chamado de “ficha suja”, o que, convenhamos, não é verdade. A suposta reprovação das contas do tucano na Prefeitura de Terenos teria que ser julgada pela Câmara de Vereadores e não pelo Tribunal de Contas do Estado. “Ficha suja” não pode disputar eleições. A legislação é clara, mas o candidato caiu na armadilha, principalmente, de Rose Modesto.
Esta, por sua vez, também estava incomodada com algo. Por certo, as pesquisas internas que davam os três principais concorrentes empatados tecnicamente, conforme divulgado pelo MS em Brasília horas antes de o debate começar (ver aqui). Garantida, teoricamente, no segundo turno, passou a ter o lugar ameaçado na reta final.
Rose também se irritou sobre a lembrança da Operação Coffee Break, em 2016, que investigou suposta compra de votos para a cassação do então prefeito Alcides Bernal para dar lugar ao vice Gilmar Olarte. Beto disse que Rose teria trocado o voto pela cassação de Bernal por uma secretaria em futura gestão de Olarte.
Não há argumento que desminta: Rose e Adriane ‘se estapearam’ por cinco minutos para não saírem do debate com Marquinhos a tiracolo
Também fez a candidata do União sair do normal operação da Polícia Federal, deflagrada ontem (3), em agências de publicidade que teriam sido procuradas pela equipe de campanha de Rose para contratar atores parecidos com integrantes da cúpula do PSDB Beto Pereira, Reinaldo Azambuja e o governador Eduardo Riedel.
Adriane Lopes engolia seco todas as vezes que surgia o tema “Saúde” no debate. É uma área em que o desgaste da prefeita mais se acentua, principalmente, sobre a falta de medicamentos e itens básicos para exames do dia a dia. Além das obras paralisadas, construções malfeitas, como os pontos de ônibus no meio da rua, e licitações com irregularidades.
Em relação à petista Camila Jara, ficou claro que ela é candidata para cargos proporcionais. Ao vivo, parece pouco familiarizada para debater contra concorrentes, digamos, com mais tempo de estrada. Ali não pode haver erros, voltar e gravar novamente.
É o preço que a jovem política paga por querer abraçar o mundo de uma só vez, sem esquentar a cadeira para a qual foi eleita, saindo de vereadora para deputada federal em dois anos. No terceiro ano na política, brigou para ser candidata à prefeita, tentativa que termina no dia 6.
Domingo nos vemos.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público