POR ALEXSANDRO NOGUEIRA (*)
Você já parou para pensar sobre o que o lixo da sua casa diz sobre você? O escritor Martin Lindstrom, um pesquisador dinamarquês que ganha a vida bisbilhotando os hábitos dos outros afirma que ao descartarmos objetos, na verdade, estamos revelando fragmentos da nossa história pessoal.
Em Small Data, o autor explica ao leitor que cada tubo de pasta de dentes amassado ou cada saco de lixo amarrado pode nos contar mais sobre nossas inseguranças, hábitos e até mesmo desejos do que imaginamos.
Ele começa sua analogia sobre o tema, citando um fato curioso na Suécia, onde os coletores de lixo se tornaram verdadeiros detetives sociais, com impressionante habilidade de decifrar personalidades apenas observando a forma como os sacos são amarrados na Escandinávia.
cada tubo de pasta de dentes amassado ou cada saco de lixo amarrado pode nos contar mais sobre nossas inseguranças, hábitos
Na terra do Vikings, que se sentem mais seguros costumam usar um único nó. Já os nórdicos mais inseguros se atrevem a dar vários nós, como se tentassem amarrar suas ansiedades junto com o lixo. Essa leitura não é apenas curiosa, é uma forma de perceber que nossos hábitos cotidianos revelam mais do que imaginamos.
O escritor vai mais longe em suas observações. Para Lindstrom, o consumidor que descarta um tubo de pasta de dente amassado e sem tampa, demonstra um sinal claro de prudência — essa pessoa provavelmente é cuidadosa com seu dinheiro, mas pode estar tentando compensar uma falta de atenção em outras áreas da vida.
Por outro lado, quem se despede de um tubo com tampinha intacta, por sua vez, está se permitindo um certo relaxamento, hesitando em mostrar sua verdadeira essência.
E o que dizer de quem descarta tubos pela metade? Conforme o dinamarquês, essas pessoas frequentemente carregam inseguranças que se refletem nas pequenas decisões da rotina diária.
Vejam só, mas na era da hipervigilância, até mesmo um simples ato de jogar um produto fora se torna instrumento analítico poderoso, deduzindo quem somos, as batalhas que travamos e os pequenos prazeres que nos permitimos no dia a dia.
O simples ato de jogar um produto fora se torna instrumento analítico poderoso
O lixo, essa parte indissociável da vida cotidiana, pode ser uma rica fonte de autoconhecimento. Até porque cada resíduo descartado revela muito sobre nós e até padrões comportamentais que muitas vezes ignoramos ou queremos esconder.
Ao examinarmos o que descartamos, podemos começar a entender melhor nossas prioridades, medos e desejos. Esse exercício de introspecção nos permite não apenas aprender com nossos hábitos, mas também reconsiderar o que realmente valorizamos em nossa vida.
(*) É jornalista em Campo Grande
Contato: artigotexto@gmail.com