COLUNA VAPT-VUPT
Campo Grande amanheceu segunda-feira (14) com números da primeira pesquisa divulgada pelo Paraná Pesquisas sobre o segundo turno entre Adriane Lopes (PP) e a ex-chefe da Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste Rose Modesto (União Brasil).
A diferença entre as concorrentes, nessa pesquisa, é de 6,4 pontos favoráveis à atual prefeita, que tem 48% das intenções de voto, contra 41,6% de Rose. Logo após, as informações começaram a ser repercutidas pelas campanhas e por eleitores entusiasmados. Houve um perfil de direita, cuja cúpula anunciou apoio à atual prefeita, que destacou: “Adriane dispara”.
Ocorre que a leitura de pesquisas eleitorais deve ser feita com cuidado para não causar decepções e, acima de tudo, distorções, como ocorreu na chamada do movimento Endireita MS. Nesse levantamento, a “margem de erro” é de 3,8 pontos percentuais para mais, ou para menos. Somadas as margens, têm-se 7,6 pontos percentuais, maior que a diferença numérica entre as candidatas, de 6,4 pp.
Ocorre que a leitura de pesquisas eleitorais deve ser feita com cuidado para não causar decepções e, acima de tudo, distorções
Levando-se em conta os dados sobre as concorrentes, a informação principal deveria destacar “empate técnico”. Em uma leitura ampla dos números, Rose estaria até mesmo à frente, digamos, com 49,2% contra 44,2%.
Recomenda-se, igualmente, mostrar ao eleitor que Adriane também pode estar com diferença maior sobre a adversária: 51,8% a 37,6%. A “margem de erro” não é um número qualquer, perdido em meio a tantas informações sobre cenários espontâneos e estimulados, além de rejeições, entre outras.
Numericamente, repita-se, os dados que separam as candidatas são menores que a soma da margem de erro. Apenas esse fator já pode significar que a eleição se mantém acirrada, o que deve afastar convicções e certezas antes da apuração dos votos. Sugere-se também parcimônia nas encomendas de chope e outros itens para festas.
A liderança de Adriane Lopes, portanto, é aparentemente frágil por estar “dentro da margem de erro”. Há um empate estatístico, constatação que deve guiar as candidatas na reta final de campanha. Para que a liderança da atual prefeita fosse considerada real, a diferença numérica teria que ser superior a 7,6 pontos, que é a soma da margem de erro para mais ou para menos. Quando isso ocorre, a liderança não é simplesmente o resultado de um erro de amostragem.
Numericamente, repita-se, os dados que separam as candidatas são menores que a soma da margem de erro
Evidentemente que a maior preocupação sobre os resultados do primeiro levantamento do segundo turno cabe à Rose Modesto. Os 7,6 pontos percentuais da margem de erro, somados, podem ser todos eles direcionados à concorrente, o que elevaria a diferença para mais de 14 pontos.
A margem de erro descreve o quão perto podemos razoavelmente esperar que o resultado de uma pesquisa caia em relação ao valor real da população. Uma margem de erro de 3,8 pontos percentuais, no nível de confiança de 95%, significa que, se respondêssemos à mesma pesquisa 100 vezes, esperaríamos que o resultado estivesse dentro de 3,8 pontos percentuais do número real da população 95 dessas vezes.
Dias antes do primeiro turno, o MS em Brasília publicou opinião sobre o desespero da campanha de Rose, que escalou o vice Roberto Oshiro para criticar adversários (ver aqui). Havia ali risco de a ex-deputada não ir ao segundo turno. As pesquisas indicavam essa e tantas outras possibilidades.
O debate promovido pela TV Morena, quinta-feira (3/10), antes da votação, garantiu a ida de Rose ao segundo turno. O candidato governista Beto Pereira teve desempenho muito ruim e parou de crescer, certamente, perdendo voto de indecisos.
Em 2 de setembro, o MS em Brasília também apontou que, provavelmente, Rose estaria no segundo turno e que duas máquinas – estadual e municipal – brigavam pela outra vaga (ver aqui). É possível se chegar a essas conclusões fazendo leitura, repita-se, acurada das pesquisas eleitorais, sobretudo, observando com atenção a margem de erro.
Em 2 de setembro, o MS em Brasília também apontou que, provavelmente, Rose estaria no segundo turno e que duas máquinas – estadual e municipal – brigavam pela outra vaga
É comum haver questionamentos do tipo “eu não fui pesquisado”, o que leva as pessoas a não acreditarem nos números divulgados. Pesquisa é um estudo científico, cujas amostras são feitas porque é impossível ouvir 100% da população de determinada cidade, estado ou região.
O tamanho de toda a população não importa quando você está medindo a precisão das pesquisas. Você pode ter 250.000 pessoas ou 250 milhões e isso não afetará o tamanho da sua amostra para ficar dentro da margem de erro desejada.
Se você nunca foi pesquisado, não desacredite nas pesquisas, embora haja empresas que manipulam os números por um punhado de reais, como ocorre com determinado instituto de pesquisas em Mato Grosso do Sul. Quanto a isso, não há “margem de erro” que sustente manipulações. O malfeito logo aparece.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público