COLUNA VAPT-VUPT (*)
Não há quem tire a certeza de que Campo Grande escolheu mal novamente o seu prefeito nas eleições de outubro. Ao reeleger Adriane Lopes (PP), a cidade assumiu o risco de ter mais quatro anos de má gestão. É fato, contudo, que os outros três candidatos não tinham, digamos, notoriedade tão superior à da vencedora.
Camila Jara seria a escolha mais perigosa. Além de jovem, sem experiência até mesmo de vida, ela seguiria a cartilha do PT, cujo único projeto para governar se sustenta no entendimento obtuso de que o Estado pode tudo, inclusive quebrar. Beto Pereira e Rose Modesto talvez fossem mais recomendados. Mas quem venceu foi Adriane por decisão do eleitor.
Talvez essa tendência explique as razões de a cidade estar fazendo como caranguejo, andando para trás nos últimos 12 anos. E, caso Adriane Lopes não receba chuva de conceitos administrativos, éticos e morais, Campo Grande somará 16 anos de más gestões.
Talvez essa tendência explique as razões de a cidade estar fazendo como caranguejo, andando para trás nos últimos 12 anos
Para tirar Adriane da terceira colocação nas pesquisas e levá-la a vencer as eleições, a senadora Tereza Cristina (PP) teve que colar sua imagem no rosto da afilhada, de tal forma que, quando o eleitor olhasse para a prefeita, visse a cara da parlamentar. Mesmo em meio à tanta mentira contada por Adriane, a vitória lhe sorriu.
Tereza tem agora a missão de transformar a administração de Campo Grande, mas tem que estar ciente de que não há nada para se aproveitar da gestão de dois anos e nove meses da progressista. Em janeiro de 2025 terá início novo mandato. Adriane não pode mais fazer de conta que administra.
Qualquer coisa que dê errado nos próximos quatro anos cairá em cima de Tereza. Os memes nas redes sociais vão aumentar, como o batido ditado de “quem pariu Adriane que a embale”. Há também o outro lado: caso Adriane consiga ser diferente do que foi nesses anos como gestora, vão aparecer muitas mães da boa filha.
O MS em Brasília chegou à exaustão nas gestões de Marquinhos Trad (PDT) e depois de Adriane de tanto produzir material sobre a situação fiscal da cidade. Não há dinheiro para investimento porque a prefeitura compromete 97% da sua receita corrente. Sobram 3%. Isso não se discutiu nas eleições.
Tereza tem agora a missão de transformar a administração de Campo Grande
Nem Beto nem Rose teve capacidade de mostrar isso ao eleitor. “Ah, mas ninguém come indicadores fiscais”. Pode não comer, mas, se os números estiveram ruins, como ocorre com Campo Grande desde 2017, não haverá saúde, educação, obras de melhorias em ruas, córregos, drenagens, asfalto, entre outras necessidades.
De forma didática, a situação fiscal funciona assim: casal qualquer recebe salários líquidos de R$ 10 mil. Ao final do mês, depois de pagar as despesas fixas, as quais totalizam R$ 9.700, sobram apenas R$ 300 para investir na vida deles por mais um mês, como mercado, lazer, emergência médica, entre outras despesas necessárias.
É isso que ocorre em Campo Grande, que não consegue sair do atoleiro porque compromete quase toda a receita com despesa, das quais mais de 70% com a folha bruta do funcionalismo. É nota C em “poupança corrente”, o principal indicador. Em relação à “dívida consolidada”, recebe nota A e em “liquidez relativa”, B.
A Prefeitura não consegue melhorar a sua situação fiscal porque compromete quase toda a receita com despesa, das quais mais de 70% com a folha bruta do funcionalismo
Tudo se resume a um ponto: ou Campo Grande aumenta a arrecadação de impostos, esmagando ainda mais os contribuintes, ou seguirá com as contas no vermelho. Ou, a hipótese mais acertada: baixar medidas amargas para reduzir o custo da folha de pessoal. De duas, uma: ou faz-se ajuste, ou aumentam-se impostos e taxas.
Não haverá esforços políticos da senadora que mudarão a situação da prefeitura, a qual depende unicamente de um gestor firme e que saiba ler os números, as entranhas das administrações. Ao terminar em 31 de dezembro de 2024 o restante do mandato que recebeu como vice, Adriane terá editado zero medida de austeridade.
E, se a prefeita tivesse cortado os pagamentos milionários da folha secreta quando assumiu, teria sinalizado um rumo para Campo Grande. Durante as eleições, talvez ela estivesse olhando seus adversários por cima porque o município teria recebido nota A em gestão fiscal, como ocorre com o Estado, governado por Eduardo Riedel (PSDB).
E, se a prefeita tivesse cortado os pagamentos milionários da folha secreta assim que assumiu, teria colocado as contas em ordem
Por fim, caberá à futura composição da Câmara de Vereadores investigar a folha secreta. É preciso demonstrar claramente à sociedade o que ocorreu de uns anos para cá. O vereador eleito e prefeito anterior a abril de 2022 por mais de cinco anos, Marquinhos Trad, também terá que ser investigado. Não pode ficar impune.
O crime contra Campo Grande teria outros envolvidos diretos, como o então secretário de Finanças de Trad, o deputado estadual Pedrossian Neto (PSD), e a atual titular da pasta, Márcia Hokama. Ambos tinha e tem sob sua pasta o poder de avalizar, recusar, orientar e até denunciar o desvio de recursos da prefeitura por meio de esquema criminoso.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público