COLUNA VAPT-VUPT (*)
Três candidatos derrotados na disputa por uma vaga de vereador em Campo Grande tiveram o maior aporte de dinheiro do fundo eleitoral nas eleições deste ano. O MS em Brasília analisou a prestação de contas de cada um deles e constatou completa falta de parcimônia com o destino dessa verba pública.
Grazielle Machado (PSDB), Marcelo Bluma (PV) e Loester Trutis (PL) receberam, respectivamente, R$ 450 mil, R$ 422 mil e R$ 400 mil dos seus partidos. Foram os que mais embolsaram dinheiro nas respectivas legendas. No PL, Ana Portela também recebeu o mesmo valor que Trutis, mas foi eleita.
Basta rápida avaliação para encontrar diversas inconsistências na prestação de contas dos candidatos, eleitos ou não. É uma grande obra de ficção, mas o MS em Brasília se dedicou apenas aos mais bem aquinhoados — e derrotados.
Basta rápida avaliação para encontrar diversas inconsistências na prestação de contas dos candidatos, eleitos ou não. É uma grande obra de ficção
Filha do deputado estadual Londres Machado (PP), recordista em mandatos na Assembleia Legislativa, Grazielle teve apenas 1.887 votos, enquanto o candidato profissional Bluma, 1.296 votos. Trutis foi o menos votado entre os três, com 704 votos. Nessa eleição, ele virou Tio Trutis.
O ex-deputado federal foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS) por lavagem de dinheiro recebido nas eleições de 2022 (ver aqui e aqui). Na eleição de 2024, “gastou” centavo por centavo do montante que recebeu.
A amplitude dos gastos desses candidatos impressiona. Trutis, por exemplo, declarou ter gastado simplesmente R$ 177 mil com impulsionamento de conteúdo. É talvez um dos maiores gastos com redes sociais entre todos os candidatos a vereador no país.
Trutis foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS) por lavagem de dinheiro recebido nas eleições de 2022
Como esses gastos são comprovados?
O MS em Brasília procurou respostas, mas não encontrou, mesmo encaminhando pedidos a duas grandes plataformas de tecnologia financeira, como DLocal Brasil Pagamentos e Adyen do Brasil Ltda.
Além de torrar essa pequena fortuna para turbinar material de campanha — o que não se viu, na prática – Trutis declara ter gastado R$ 33 mil com adesivos e outros R$ 49 mil com a criação de páginas na internet. É uma loucura! O ex-deputado também teve o serviço advocatício mais caro entre todos os candidatos: R$ 30 mil.
Marcelo Bluma é sempre candidato a qualquer coisa. A cada dois anos, ele está lá, pronto para torrar dinheiro do contribuinte. Nessa eleição, a despesa dele que mais causou espanto foi com “produção de programas de rádio, televisão ou vídeo”. Foram quase R$ 57 mil com vídeos que as pessoas estão habituadas a fazer com um Smartphone intermediário.
Marcelo Bluma é sempre candidato a qualquer coisa. A cada dois anos, ele está lá, pronto para torrar dinheiro do contribuinte
Também torrou R$ 200 mil com “serviços de terceiros” e “atividades de militância e mobilização de rua”. Com impulsionamento de conteúdo, informa ter gastado R$ 35.100,00. Profusão de despesas.
Já os maiores gastos de Grazielle Machado foram com “Atividades de militância e mobilização de rua”, os quais atingiram R$ 338 mil. Parece que apenas os cabos eleitorais votaram na candidata. Coisas inexplicáveis quando o dinheiro é do contribuinte.
A bem-nascida gastou ainda R$ 52 mil com criação e inclusão de páginas na internet. Que raio é isso, pergunta o cidadão? Já com “publicidade de adesivos”, ela gastou “apenas” R$ 6.285,00. Nesse item, Trutis informa ter gastado R$ 33 mil e outros R$ 7 mil com “publicidade de materiais impressos”, totalizando R$ 40 mil.
A bem-nascida gastou ainda R$ 52 mil com criação e inclusão de páginas na internet. Que raio é isso, pergunta o cidadão?
Bluma, por sua vez, afirma não ter gastado com adesivos, mas declarou despesas de R$ 28 mil com “publicidade de materiais impressos”. Como assim? Por que tanta disparidade nas despesas quando se disputa o mesmo cargo?
Fica cada vez mais claro que a Justiça Eleitoral nos estados precisa ser mais zelosa na análise dos gastos com recursos do fundo eleitoral. O trabalho todo de fiscalizar cai no lombo do Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Regional Eleitoral.
O Brasil está cheio de fatos que nos levam a duas conclusões apenas: ou gasta-se muito mal mesmo nas campanhas, ou há candidatos se mantendo à custa de dinheiro do fundão, cujos repasses se renovam a cada eleição, de dois em dois anos.
Fica cada vez mais claro que a Justiça Eleitoral nos estados precisa ser mais zelosa na análise dos gastos com recursos do fundo eleitoral
A lavagem do dinheiro público que jorra nas campanhas eleitorais virou modo de subsistência para alguns no Brasil, cuja população vive à míngua quando se trata do atendimento de suas necessidades básicas, como saneamento, educação e saúde.
(*) Vapt-vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público