POR BRUNNA SALVINO, DE CAMPO GRANDE, E LARISSA ARRUDA, DE BRASÍLIA
Grupo de pessoas ligadas à senadora Tereza Cristina, presidente regional do Progressistas, trabalha em rotação acelerada para dar novos rumos ao próximo mandato da prefeita reeleita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP). Ela toma posse em janeiro.
O objetivo é fazer com que a prefeitura conte com profissionais capacitados em todas as áreas, de tal forma que a gestão ganhe salto de qualidade, em condições de gerir uma capital com mais de 900 mil habitantes, com muitos problemas estruturais.
A análise é que, na atual gestão, Adriane não se cercou de pessoas capazes de ajudá-la a resolver problemas crônicos, como o caos na saúde, a falta de transparência em licitações e da folha de pessoal, por onde jorram milhões de recursos sem aparente controle, além de maior zelo com questões de ordem legal, como obediência a limites constitucionais.
Adriane não se cercou de pessoas capazes de ajudá-la a resolver problemas crônicos
Pesa também a ineficiência administrativa e a falta de capacidade de articulação com a bancada federal, responsável pela indicação de recursos para obras e projetos por meio do Orçamento da União. As emendas coletivas, propostas por senadores e deputados, são fundamentais para a execução de obras, principalmente.
Todos esses pontos negativos identificados, no entanto, são vistos com certa normalidade, uma vez que Adriane recebeu a prefeitura com a situação fiscal e financeira fora de controle. Não se sabe, contudo, se ela chegou a fazer tais tentativas, como revela uma das fontes.
As poucas mudanças que houve não foram suficientes para romper com o modelo de gestão de Marquinhos Trad (PDT) que, entre outras falhas administrativas e de caráter, pouco exigia dos secretários sobre resultados práticos de suas áreas. “Havia uma bagunça generalizada. Era tudo largado, sem cobrança de metas ou resultados”, afirma uma fonte, que pediu para não ser identificada.
As poucas mudanças que houve não foram suficientes para romper com o modelo de gestão de Marquinhos Trad
Sem ingerência
O MS em Brasília apurou ainda que há preocupação sobre a ingerência de fora da administração, mas as fontes preferem não apontar claramente o nome do marido da prefeita, o deputado estadual Lídio Lopes (Patriota). “Não há foco em pessoas, mas em uma nova forma de administrar prefeitura tão grande quanto a nossa”, pondera a fonte.
No segundo turno das eleições em Campo Grande, adversários de Adriane divulgaram vídeo em que Lídio trataria sobre nomeações na prefeitura com dois homens, além de negociar suposto pagamento de propina também ligada a negociações no município.
Há preocupação sobre a ingerência de fora da administração, mas as fontes preferem não apontar claramente o nome do marido da prefeita, o deputado estadual Lídio Lopes
O apetite por cargos na próxima gestão da esposa teria explicação, segundo as fontes: Lídio quer alçar voos mais altos em 2026, quando pretende se lançar candidato a deputado federal. O objetivo dele é potencializar e azeitar ainda mais sua base de apoio, especialmente com a nomeação de fiéis da igreja da qual ele e a esposa participam.
“Evidentemente que qualquer gestão pública deve ser impessoal. Estamos cientes de que a ingerência de fora atrapalha o trabalho de todos. Temos que atuar conforme diagnósticos e análises internas”, observa fonte do município.
Tanta preocupação faz sentido. A senadora Tereza Cristina não quer que eventual fracasso de Adriane Lopes nos próximos anos ou mesmo sobre eventuais denúncias de irregularidades na gestão respingue ou caia no seu colo, o que mancharia sua carreira, marcada até então por correção dos atos políticos ou não.
Tereza Cristina não quer que eventual fracasso de Adriane nos próximos anos ou mesmo sobre eventuais denúncias de irregularidades na gestão respingue ou caia no seu colo
Reforma administrativa
As medidas pretendidas começam a ser colocadas em prática. Semana passada, a prefeita encaminhou projeto de lei com mudanças em diversas secretárias, com extinção, incorporação e criação de outras.
Na mensagem, Adriane Lopes explica que unirá as subsecretarias da Mulher e Direitos Humanos, desfazer a Sejuv (Secretaria de Juventude) e juntar Cultura com a Secretaria de Educação. Já a Secretaria de Secretaria de Meio Ambiente passaria a integrar a recém-criada pasta de Desenvolvimento Urbano.
Na redistribuição, ficam extintas as subsecretarias do Procon Municipal (Proteção e Defesa do Consumidor), Subea (Bem-Estar Animal) e a Sugepe (Projetos Estratégicos).
O objetivo, segundo o Executivo, é reestruturar a administração e reequilibrar as despesas “a fim de alcançar a excelência e atender as demandas do cidadão”.