BRASÍLIA
Depois de se envolver em lobby pela liberação da venda e do consumo de cigarro eletrônico no Brasil, viajando inclusive para a Itália com as despesas pagas pela indústria do tabaco, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) teve seu nome envolvido em novo escândalo nessa semana.
Dois parentes do empresário e lobista Silvio Assis, acusado de extorquir empresários do setor de apostas, trabalham como assessores no gabinete de Soraya, relatora da CPI que investiga as bets desde novembro.
As informações são da revista Veja.
Silvia ocupa cargo de Assistente Parlamentar, recebendo R$ 7,2 mil de salário desde o ano passado. Já o genro de Assis foi contratado em abril deste ano na função de auxiliar parlamentar, com salário de R$ 14 mil.
Silvio de Assis é suspeito de integrar um esquema de achaque a empresários de apostas que estão na mira da CPI, conforme revelou VEJA na semana passada. A reportagem mostrou que membros do colegiado fizeram chegar à presidência do Senado denúncias já em posse da Polícia Federal de que o lobista estaria pedindo dinheiro a donos das bets em troca de proteção na CPI.
Silvio de Assis é suspeito de integrar um esquema de achaque a empresários de apostas que estão na mira da CPI, conforme revelou VEJA na semana passada
Procurada, a senadora afirmou que conhece Sandra desde a época em que presidiu a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, função que ocupou até julho do ano passado. “Como eu estava contente com o trabalho dela, a trouxe para o gabinete. Hoje, ela nos auxilia na comunicação, com monitoramento de redes sociais, e faz serviços administrativos”, explicou.
Soraya contou que David foi contratado para ocupar uma vaga deixada por uma antiga funcionária de seu gabinete. A indicação teria sido feita pela irmã do lobista. “Ela o entrevistou, gostou do perfil e o contratou. Trabalha no legislativo acompanhando as comissões”, contou a senadora.
Movimento orquestrado
Suplente da CPI, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) procurou a cúpula do Congresso para relatar que Assis teria exigido R$ 40 milhões de um empresário do setor de bets para que ele não fosse convocado a prestar depoimento na comissão. Ciro não acusou diretamente Soraya Thronicke de envolvimento com o suposto esquema.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) procurou a cúpula do Congresso para relatar que Assis teria exigido R$ 40 milhões de um empresário do setor de bets para que ele não fosse convocado a prestar depoimento na comissão
O senador, no entanto, lembrou que a relatora da CPI seria próxima do empresário, o que ela negou. Nesta semana, durante a abertura da sessão da comissão, a relatora fez um discurso de 17 minutos para comentar as informações reveladas pela reportagem.
Classificou as suspeitas como “fofoca” e um “claro movimento orquestrado para “desviar o foco” do colegiado. Disse também que autorizou ao diretor-geral da PF a quebrar seus sigilos fiscais bancários e telemáticos para apurar qualquer suspeita.
A senadora classificou as suspeitas como “fofoca” e um “claro movimento orquestrado para “desviar o foco” do colegiado
“Diante das graves denúncias, procurei o diretor-geral da Polícia Federal me colocando inteiramente à disposição. Pedi também a realização de uma acareação entre os citados. Peço que os parlamentares citados façam o mesmo. Afinal, quem não deve, não teme, e nem treme. Essas fofocas são, sem dúvida, um claro movimento orquestrado para desviar o foco e enfraquecer o trabalho desta CPI”, disse.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), vice-presidente da comissão, pediu que a Procuradoria-Geral da República também investigue o caso.
Cigarro eletrônico
A senadora Soraya Thronicke também está envolvida em suposto lobby para favorecer a indústria do tabaco no Brasil. Ela é autora do projeto de lei 5.008/2023, que permite a fabricação, comercialização e propaganda do produto, hoje proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A senadora viajou à Itália em maio deste ano com as despesas pagas pela Philip Morris, uma das maiores fabricantes de cigarros do mundo. A denúncia foi publicada pela revista Piauí (ver aqui).
A senadora também acionou o MS em Brasília na Justiça pedindo direito de resposta. O site fez postagem em que mencionou que Soraya Thronicke quer liberar o consumo do produto no Brasil. A Justiça de Brasília, no entanto, negou o pedido (ver aqui).