COLUNA VAPT-VUPT (*)
“Logo ela?” Essa mistura de indagação e surpresa foi dita por uma mulher que se identifica como “Flor Petista” em um grupo de aplicativo de conversas sobre a política em Campo Grande.
Tal reação sobre frase curta, mas que diz muita coisa, ocorreu em complemento a uma reprodução de parte de página do jornal Correio do Estado, da capital, em que a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), afirma que foi escalada pelo presidente Lula para melhorar a imagem dele em Mato Grosso do Sul.
A indagação da mulher faz sentido. A surpresa com que uma petista recebeu a notícia é a mesma de muitos outros eleitores no Estado. Tanto que, nesse mesmo grupo, não houve um participante sequer para, digamos, fazer ressalvas sobre a enxurrada de críticas que caiu sobre a neoesquerdista.
A surpresa com que uma petista recebeu a notícia é a mesma de muitos outros eleitores no Estado
Sabe-se que a ex-senadora não reúne condições de melhorar nem a própria imagem, desgastada após ser eleita pela mesma direita que ajudou a colocar Bolsonaro na Presidência em 2018. Que dirá de um terceiro com alta rejeição perante a população sul-mato-grossense!
Para sobreviver politicamente após a derrota nas eleições presidenciais em 2022, Simone deu forte guinada à esquerda — e mais do que isso — juntou-se ao homem a quem ela chamou de “chefe de quadrilha”, em referência aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro pelos quais Lula foi condenado em todas as instâncias do Judiciário na Operação Lava Jato.
A própria ministra assumiu, no início de 2023, que não tinha mais condições de se eleger nem a síndica do prédio onde morava em Campo Grande (ver aqui). Depois disso, Tebet tem sido vista somente em eventos do Governo do Estado, grudada à barra da calça do governador Eduardo Riedel.
Para sobreviver politicamente após a derrota nas eleições presidenciais em 2022, Simone deu forte guinada à esquerda
Com isso, surgem dúvidas sobre como ela se comportará em Mato Grosso do Sul, terra majoritariamente de direita. Se não é vista nas ruas, em festas populares ou passeando em shoppings, como será feita essa aproximação com o eleitor sul-mato-grossense? Por telepatia? Lives e vídeos nas redes sociais?
É improvável que consiga espaço para sair candidata. Ao Senado, a base governista poderá ter até três candidatos. O PT quer lançar ao cargo o deputado federal Vander Loubet. Já o ex-deputado Capitão Contar (PRTB) também tem projeto de disputar uma das duas vagas com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Resta a tentativa de concorrer a uma das oito vagas a deputado federal, o que seria humilhação a uma mulher cujo orgulho não cabe dentro do pequenino corpo. Sobrará pouca coisa a ela, como a reeleição de Lula para se manter no primeiro escalão. Ou amargar o ostracismo em caso de derrota do presidente.
Se Simone não é vista nas ruas, em festas populares ou passeando em shoppings, como será feita essa aproximação com o eleitor sul-mato-grossense?
Ou, numa opção já especulada, seguir de mala e cuia para São Paulo a fim de tentar se eleger por lá, uma vez que o paulista não se preocupa tanto com o fato de o candidato ter ou não raízes com o estado.
Ao Correio do Estado, disse que, nos primeiros dois anos, teve de focar na parte econômica, o que teria exigido dela muito tempo. “Mas agora nada impede que possa estar nos finais de semana nos municípios, conversando com os novos prefeitos e divulgando o que está sendo feito”, diz ela.
Na verdade, Tebet assume que usará os próximos anos para fazer política, o que não ocorre desde 2018 em Mato Grosso do Sul. Na ocasião, abandonou o MDB durante as eleições uma semana depois de ter tido seu nome aprovado na disputa a governador em convenção estadual.
Da boca para fora, afirma que “seguirá determinação do meu partido”, o que soa duvidoso em razão do fato mencionado anteriormente: “Primeiro, quero seguir a determinação do meu partido, que é o MDB, mas já posso adiantar que vou estar com o Lula, não tem como estar de outro lado… Quando ele me convidou para apoiá-lo no segundo turno das eleições de 2022, eu disse que já tinha escolhido o lado dele”.
Na verdade, Tebet assume que usará os próximos anos para fazer política, o que não ocorre em Mato Grosso do Sul desde 2018
O caminho de Simone Tebet se parece ao daquele time de futebol que já esteve na Série A, mas que ao longo dos anos começou a cair de divisão e agora pretende voltar à elite, sabendo que terá de escalar tudo novamente e dessa vez com o registro político devidamente anotado pelos eleitores de que o PT está impregnado na imagem dela.
(*) Vapt-Vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público