BRUNNA SALVINO, DE CAMPO GRANDE
O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), afirmou ontem (17) que o governo do presidente Lula “não está bom” e atribuiu essa constatação ao mau desempenho da economia. A declaração foi feita durante entrevista de hora e meia ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.
O governador defendeu punições adequadas aos manifestantes de 8 de janeiro de 2023. Avalia que nem todos participaram de depredação ou invasão dos prédios públicos. Daí a necessidade de dosar as penas, segundo ele.
“É importante separar as coisas. Acho que, se houve a movimentação clara de alguns fomentando o golpe, deve ser investigado, como está sendo. Muitas pessoas estavam em um movimento de massa. Atribuir a todos a tentativa de golpe, eu não acho justo”, pontuou o governador.
“Muitas pessoas estavam em um movimento de massa. Atribuir a todos a tentativa de golpe, eu não acho justo” — Governador Eduardo Riedel sobre as manifestações de 8 de janeiro
Riedel foi questionado diversas vezes sobre os rumos do PSDB no país, cuja fusão ou incorporação com outros partidos está em discussão neste momento. “Estamos discutindo diversas possibilidades. Temos que respeitar também as diferenças regionais”, desconversou.
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Lula e Bolsonaro
Sobre ser “o governador tucano mais bolsonarista”, apontado pela apresentadora do programa, a jornalista Vera Magalhães, Riedel destacou que trabalha para cumprir seu programa de governo e rechaçou qualquer interferência ideológica na sua gestão. “Para se ter ideia, minha base de apoio na Assembleia tem PL e PT”, ponderou.
No entanto, afirmou que a proximidade com as bandeiras do bolsonarismo se dá porque, segundo ele, o PT não executaria a agenda que ele entende ser a ideal, como a liberdade econômica, privatização e menos ingerência do Estado na vida das pessoas.
“Estamos discutindo diversas possibilidades. Temos que respeitar também as diferenças regionais” — Riedel sobre fusão do PSDB com outros partidos
Criticou ainda a polarização do país em torno de Lula e Bolsonaro. Segundo ele, o Brasil tem ampla agenda de problemas para resolver, que fica escondida, em segundo plano, enquanto se discute ideologia. “Eu, particularmente, entendo que estamos perdendo tempo demais com essas discussões e deixando de resolver os problemas do país”, reforçou.
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Afirmou ainda que, caso a Justiça mantenha a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, a direita do país tem diversos quadros preparados para disputar a Presidência. Citou, por exemplo, os governadores Tarcísio Gomes de Freitas, de São Paulo; Ratinho Junior, do Paraná; e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.
Ao ser questionado sobre o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, ocorrido semana passada, o governador admitiu que “houve erro” no atendimento da ocorrência, mas não quis acusar diretamente a delegada do caso.
“Vai ser investigado para sabermos se houve culpados. Se foi da delegada, ou do próprio sistema. Houve erro porque ela foi atrás de ajuda. Sabemos que os procedimentos tomados para proteção da jornalista foram feitos em tempo menor que a média”, observou.
“Eu, particularmente, entendo que estamos perdendo tempo demais com essas discussões” — Governador sobre polarização ideológica no país
Sem credibilidade
Sobre a crise no preço dos alimentos, o governador atribui parte da carestia a problemas localizados em razão do clima ou de pragas em plantações de algumas culturas e a falta de confiança do setor nas medidas tomadas pelo governo federal. “Há atitudes desencontradas dentro do próprio governo. Eles não se entendem e isso tem reflexo na falta de confiança”, argumentou.
Eduardo Riedel disse ainda que Mato Grosso do Sul passa por grande transformação na economia, impulsionada pela chegada de novas culturas, como a celulose, laranja e amendoim, além de manter em constante crescimento a produção de carne bovina e soja.
“Há atitudes desencontradas dentro do próprio governo. Eles não se entendem e isso tem reflexo na falta de confiança” — Eduardo Riedel sobre o atual momento do governo Lula
Projeções indicam que Mato Grosso do Sul deverá ser o estado que mais crescerá em 2025. A expectativa é que o crescimento da economia gire em torno de 4,2% e 4,4%, acima da média nacional, o que foi destacado pelos participantes do Roda Viva.
Riedel lembrou a criação da primeira lei de proteção ao Pantanal e a meta do Estado de eliminar até 2030 a emissão de gases de efeito estufa em seu território. “É um trabalho que exigirá grande esforço dos produtores rurais, das indústrias, do setor público e das comunidades”, concluiu.