CAMPO GRANDE
O abandono administrativo e a irresponsabilidade fiscal nas gestões do prefeito Marquinhos Trad, entre 2017 e março de 2022, além da possível mudança na política econômica do país e o aumento dos gastos públicos pelo novo governo, podem influenciar negativamente o crescimento das atividades produtivas em Campo Grande.
O descontrole dos gastos pela prefeitura, com a contratação de funcionários comissionados e a manutenção da máquina, aliado à falta de medidas de austeridade em cinco anos e três meses da administração de Trad, caíram no colo da então vice-prefeita Adriane Lopes (Patri) a partir de abril do ano passado.
Levantamento da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), realizado em janeiro e divulgado nesta sexta-feira (27) pelo jornal Correio do Estado, mostra que as expectativas dos comerciantes em relação a 2023 caiu 19 pontos percentuais na comparação com 2022. Ano passado 77% dos empresários da capital previam crescimento de suas empresas; agora são 58%.
Desde 2019, o MS em Brasília tem divulgado dados, avaliações e alertas emitidos pelo Tesouro Nacional sobre a situação fiscal de Campo Grande. Entre eles, o fato de o município gastar com funcionalismo acima do limite constitucional. Em 2021, a cidade esteve à beira da insolvência (ver aqui).
Outro indicador fiscal, a poupança corrente líquida, está prestes de estourar. De acordo com último relatório divulgado pelo órgão federal e publicado pelo site em novembro de 2022, a capital está gastando 97,75% da sua receita, o que não sobra praticamente nada em forma de poupança, ou seja, dinheiro para investir em obras, compras de medicamentos, entre outras despesas básicas.
Com Marquinhos Trad, Campo Grande nunca conseguiu alcançar nota positiva nas avaliações do Tesouro Nacional sobre a situação fiscal
Com Marquinhos Trad, Campo Grande nunca conseguiu alcançar nota positiva nas avaliações do Tesouro Nacional sobre a situação fiscal. De 2017 a 2022, obteve nota C, o que significa “reprovação”. Considera-se “aprovada”, a gestão que receber nota A ou B.
As gestões do ex-governador Reinaldo Azambuja, entre 2015 e 2022, por exemplo, fizeram com que o Estado saísse de nota D, a pior, para nota A, depois de baixar medidas de austeridade fiscal, como o equilíbrio entre receitas e despesas (ver aqui).
Aguardar medidas
Ao Correio do Estado, o vice-presidente da ACICG, Omar Aukar, disse que o comércio sempre espera as medidas tomadas pelos governos municipal, estadual e federal para chegar a uma análise mais pontual.
“Em nível nacional, tivemos uma mudança grande de natureza ideológica. Isso é um fator que pesa, porque houve muitas oscilações no mercado financeiro. A partir do momento que as indefinições cessarem, os empresários deixarão de ficar com o pé atrás”, analisa.
O estudo da entidade mostra que 31% dos empresários acreditam que haverá estagnação; quase 11% esperam por queda no volume de negócios de sua empresa.
“Em nível nacional, tivemos uma mudança grande de natureza ideológica. Isso é um fator que pesa, porque houve muitas oscilações no mercado financeiro” — Omar Aukar, vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande
As informações, segundo o jornal, foram extraídas da publicação “Desempenho 2022 e Perspectivas para 2023”, que a entidade fez com mais de 100 empresas, entre os dias 8 e 20 de janeiro, em Campo Grande.
Política nacional
Em nível nacional, explica o Correio do Estado, uma questão que pesou para a ACICG foi a politização de ministérios. Entretanto, Omar Aukar deixa claro que, a partir do momento em que os resultados começarem a aparecer, dúvidas e desconfianças vão se dissipar.
Além do próprio negócio, os empresários foram indagados sobre a perspectiva da economia brasileira. Nesse caso, 45% deles sinalizaram que esperam que a economia esteja melhor neste ano. Para cerca de 30%, a expectativa é de piora do cenário, e 25% acreditam que o panorama será igual ao do ano passado.
Já em relação aos impactos do cenário econômico em 2023, os empresários destacaram a política tributária do país, a alta dos juros e o aumento de gastos com a máquina pública – municipal, estadual e federal – como os principais fatores que devem influenciar negativamente.
Empresários destacaram a política tributária do país, a alta dos juros e o aumento de gastos com a máquina pública
Caos na capital
O Correio do Estado tem publicado série de reportagens sobre a situação administrativa em Campo Grande, como obras inacabadas, ruas cheias de buracos e diversos outros problemas. Em 27 de dezembro de 2022, o jornal mostrou que havia 52 estabelecimentos fechados, disponíveis para locação.
Um dos principais motivos para esse cenário de debandada dos comerciantes, segundo lojistas que trabalham há anos no local, são os preços dos aluguéis dos estabelecimentos. Outro problema também citado por empresários é a falta de estacionamento na região central da Capital, descreve o Correio do Estado.